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domingo - 14/10/2018 - 09:42h

O “esperto” na politiquinha

Por Honório de Medeiros

Meu amigo Fulano me disse que tinha se aposentado da política. “Como assim?”, perguntei-lhe. “Quer dizer que não vai mais exercer qualquer cargo público?” “E se seu candidato voltar ao Governo?” Meu amigo, que foi do segundo ou terceiro escalão do governo de um dos estados vizinhos (claro!) abriu um sorriso matreiro e respondeu condescendente: “eu não quero mais cargo nenhum, mas vou ajudar meus amigos porque você sabe como é, tenho filhos para criar, e no nosso mundinho só vai p’ra frente quem se dá bem com os ômi”.

Meu amigo Fulano é um homem esperto, dentro daquela categoria que o finado ex-padre Zé Luiz genialmente criou lá pelo começo dos anos 80 (Leia: A quem interessar possa). Dizia Zé Luiz, e ele nunca aceitou essa história de ex-padre – “uma vez padre, sempre padre” – que há dois tipos de homens, que merecem atenção: os inteligentes e os espertos. E para ilustrar sua tese elencou, em sua coluna dominical no Poti, de um lado os espertos, do outro, os inteligentes. Não é preciso dizer o rebuliço que essa crônica causou na província.

Pois bem, meu amigo Fulano é um homem esperto. Não tem o vôo dos condores, quando muito dos galináceos, mas sabe evitar uma panela e enxerga bem além dos seus passos curtos. Em certo sentido, jamais admitido nem por ele, nem por quem lhe fornece o meio para sobreviver, é alguém que vive de expedientes: ajeita aqui, ajeita acolá, facilita p’ra um, dificulta p’ra outro, se torna da cozinha do poderoso, na qual chega na hora do café-da-manhã trazendo as últimas novidades e os próximos pedidos.

Duvido que na atual estrutura de Poder na qual vivemos a política nossa de cada dia, em tudo e por tudo idêntica a dos nossos ancestrais, se diferenciando apenas quanto à aparelhagem tecnológica utilizada – antes era a cavalo que a informação seguia, hoje é via Email – o coronel com saias ou sem elas possa viver sem esse tipo de agregado.

Ele é imprescindível para as pequenas coisas: pequenos delitos – é incapaz de pensar os grandes; aliás, é incapaz de pensar, quando muito reage: seu destino é pequenas confidências, pequenos favores, pequenas difamações e/ou injúrias, algumas torpezas, cumplicidade nos vícios, solidariedade nos acidentes de percurso, desde que não afetem sua sobrevivência…

É capaz de grandes bajulações, aceita ser o bobo-da-corte do seu senhor feudal – se considera até honrado em ser alvo de brincadeiras nas quais sua intimidade é exposta publicamente -, quando não, é capaz de desforço físico na defesa da bandeira que empunhou o que o tornará, sem sobra de dúvidas, alvo de muitas e variadas homenagens prestadas nas hostes do “exército” ao qual pertence. Não por outra razão meu amigo Fulano está fadado a morrer feliz posto que realizado na medida em que encaminhar, através de sua rede de amigos granjeados a partir da troca de favores recíprocos, e da benção do chefe político, os seus rebentos.

Não lhe digam que hoje só é possível entrar na administração pública através de concurso. Há sempre um caminho para encontrar uma torneira aberta: cargo em comissão, gratificação, empresa de construção de fundo-de-quintal, licitações manipuladas, consultorias e assessorias.

“E os concursos públicos, esses, há, nem lhe conto” me disse ele.

Meu amigo Fulano somente precisa tomar cuidado para não cometer algum erro. Aliás, ele precisa ter muito cuidado para não ser usado como boi-de-piranha: quando ele acerta, o mérito é do chefe; quando o chefe erra, a culpa é dele.

E precisa ter cuidado, muito cuidado, mas muito cuidado com a ingratidão e o tal de laço-de-sangue. Porque não é possível ter dúvida: entre ele, o fiel correligionário, e o parente, este sempre vence. É o instinto!

Honório de Medeiros é escritor, professor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

* Texto originalmente publicado no dia 21 de agosto de 2011, portanto há mais de sete anos. Atendemos a pedidos de webleitores.

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Naide Maria Rosado de Souza diz:

    Pedido acertado o retorno do texto. Continua tudo igual!
    Parabéns, prof. Honório.

  2. François Silvestre diz:

    Conheci e convivi com Pe. Zé Luiz. Frequentei sua casa e recebi a visita dele várias vezes na Casa do Estudante. Vou contar dois fatos que o definem, um que participei e outro narrado por ele. Zé Luiz escreveu um livro sobre Frei Damião, e deixou cem exemplares com Pe. Caminha, de Pau dos Ferros, par vendê-los. Na campanha de 78, para o senado, Zé Luiz candidatou-se a deputado federal. Eu e Júnior Targino cuidávamos da candidatura de Radir Pereira no Oeste. Num belo dia, chega Zé Luiz pedindo ajuda para apresentar uns violeiros, no Pavilhão Frei Damião. Dissemos a ele que não havia recurso disponível. Ele em chamou pra ir com ele à casa paroquial ver se Pe. Caminha havia vendido algum dos livros. E fomos. Lá chegando, o padre caminha fez uma festa. Aí Zé Luiz perguntou: “Caminha, quantos livros meus ainda tem”? Padre Caminha respondeu: “Nenhum, Zé”. E Zé Luiz: “que bom, quanto tem de dinheiro”? E Caminha respondeu: “Nem um centavo, Zé Luiz, vão levando os livros, prometendo voltar pra pagar e não voltam”. Zé concluiu: “Caminha, você é mais picareta do que eu”. Esse fato eu presenciei. O Outro, contarei depois.

  3. Lucas diz:

    Olá Carlos, boa noite!
    Aqui é o Lucas, eu faço parte do grupo Big Boss, acabamos de lançar um projeto de marketing digital que permite diversos blogs construirem uma renda mensal recorrente de ate 5 mil reais, como voce tem o blog o esperto na politiquinha voce poderia muito bem se tornar um dos nossos membros e passar a ultilizar o seu blog para gerar renda recorrente para voce, não seria bem legal?! Vi o seu blog e me chamou atenção, não quero parecer intrusivo ou algo do tipo, mais se voce tiver interesse ou quiser saber mais resultados posso te enviar mais detalhes. o que voce acha? Forte abraço! Lucas.

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