domingo - 16/08/2015 - 06:12h

Princípios básicos da cirurgia oncológica

Por Francisco Edilson Leite Pinto Júnior

Senhor, sabemos o que somos,
Mas não sabemos o que poderemos ser
(Hamlet)

Eu sei que, para aqueles que têm mania de contar citações por texto escrito, eu não deveria abordar esse assunto. Mas como professor e coordenador da disciplina de oncologia da UFRN, há mais de 10 anos, sinto-me na obrigação de esclarecer aos leitores sobre importância do tema na vida de cada um de nós.

Afinal, o câncer é a segunda causa de mortalidade no nosso país, segundo o Instituto Nacional de Câncer – INCA. (às vezes, penso que o INCA se engana… Na verdade, o câncer é a maior causa de mortalidade do nosso país, “matando” os nossos bens e, principalmente, os nossos sonhos).

Falar da cirurgia oncológica é falar do magnífico, visionário e extraordinário cirurgião americano William Halsted, que ainda no século XIX, estabeleceu a rigorosa técnica asséptica para os procedimentos cirúrgicos na doença cancerosa. Para Halsted, não adiantava nada operar um tumor maligno, sem estabelecer uma margem de segurança, bem ampliada, livre de doença.

Talvez, o leitor esteja um pouco confuso com esses termos técnicos. Mas vou tentar simplifica-los. Vamos pensar em um câncer bem agressivo. Não! Não estou falando do melanoma.

Até porque existe hoje um câncer bem mais agressivo chamado “Corrupção” na política pública do nosso país. Doença essa, que surgiu desde Cabral e a suas caravelas SANTA MARIA, PINTA e NIÑA… Só que o câncer-corrupção, do século XXI, ganhou níveis de agressividade, nunca vistos na terra do samba e pandeiro…

Disseminação em massa, com metástases extremamente nocivas, nos Correios, Bancos estatais, Petrobrás, etc, etc… Essas células malignas se multiplicam numa proporção estratosférica, de fazer bilhões e bilhões de dólares virarem um mero pixuleco… E assim, não há cidadão que aguente tanta mandioca!

Pois bem! Para tratar essa doença, é inútil retirar apenas uma parte cancerosa, deixando à “outra” assumir o seu lugar. Os estudos mostram que, quando retiramos apenas uma parte do tumor – violando a sua cápsula, e disseminando células malignas nas áreas sadiaS, ainda livre de doença-, o câncer resurge de forma tão avassaladora – com Propagação de Movimentos Desordenados e Brutais-, que não há nada mais que possa conter a sua disseminação. Nem mesmo um antídoto, que me parece o único que ainda nos resta como esperança, chamado de SM (Sérgio Moro)…

Mas, SM sozinho não poderá deter tanta agressividade. Ele precisa de ajuda. E aí é que entra a cirurgia oncológica e os seus princípios básicos. Princípios esses, tenho certeza que Halsted se baseou nos ensinamentos de Cristo: “E se a tua mão direita te serve de escândalo, corta-a e lança-a fora de ti; porque é melhor que se perca um dos teus membros, do que todo o teu corpo ir para o inferno”.

Por isso, não adianta retirar apenas um dedo e permanecer a mão corrupta. Os outros nove dedos restantes agirão com a mesma agressividade… E haja pixuleco!

Agora, que fique bem claro, que a mão corrupta não é exclusividade dos partidos políticos. O câncer nem vem da mão esquerda e nem da mão direita. O câncer-corrupto é uma exclusividade do homem. E aí, Augusto dos Anjos foi feliz ao dizer:

“Acostuma-te à lama que te espera! O homem, que, nesta terra miserável, Mora, entre feras/ sente inevitável, Necessidade de também ser fera… A mão que afaga é a mesma que apedreja”; E é por isso que o cancioneiro canta alto a sua dor e alerta: “A mão que toca um violão/ Se for preciso/ Faz a guerra/ Mata o mundo/ Fere a terra”…

Portanto, dentro dos princípios da cirurgia oncológica, é inútil tirar o câncer-corrupto se não modificarmos a fonte nutricional da corrupção, neste caso, o povo brasileiro… É o povo que vota errado, aliás, muitas vezes vota certo! Certo de obter vantagens: cargo comissionado, uma feirinha, um enxovalzinho…

É o povo que bate nos peitos e grita: eu sou honesto e, na primeira oportunidade, compra recibo para sonegar o imposto de renda; é o povo que fura a fila do cinema; que assina a lista de presença do colega que faltou; é o povo que leva cola no celular para fazer a prova; é o povo que recebe diárias para viajar a serviço público, sem ter saído um milímetro da sua casa; é o povo que colocar um colega para ser seu auxiliar “virtual” em uma cirurgia, só para fraudar o convênio…

Ah! A humanidade… Sete milhões de anos – do Homo erectus ao Homo (e agora também mulher) sapiens-, e ainda não tomamos jeito… Continuamos imaturos! E nada melhor para começar a atingir essa maturidade do que buscar a AUTOÉTICA, que tanto nos ensina Edgar Morin:

“Insisto sobre a necessidade de uma cultura psíquica permanente de autoexame e de autocrítica, pois que somos profundamente ignorantes ao nosso próprio respeito e, inconscientemente, mentimos com frequência”…

Termino esse artigo sobre cirurgia oncológica, com o belo diálogo, na cena I, no terceiro ato, de Hamlet:

“Oh! Como isso é verdade! Como tais palavras fustigam minha consciência, como se fosse um duro chicote! O rosto de uma meretriz, coberto pela tinta sedutora dos enfeites, não é mais repugnante do que meu crime… SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO! Que é mais nobre para a alma: sofrer os dardos e setas de um destino cruel, ou pegar em armas contra um mar de calamidades para por fim, resistindo? Morrer… dormir: nada mais! E com o sono, dizem, terminamos o pesar do coração e os inúmeros naturais conflitos que constituem a herança da carne! Que fim poderia ser mais devotamente desejado? Morrer… Dormir!… talvez sonhar! Sim! Eis a dificuldade!”.

Francisco Edilson Leite Pinto Junior– Professor, médico e escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO diz:

    Data Vênia às verberações acima onde o Sr. Francisco Edilson Leite Pinto Junior– Professor, médico e escritor utiliza sua pena sob o signo da ironia e da causticidade, para, definitivamente se aliar ao que existe de mais atrasado, reacionário e golpista em nosso país, ou seja os de sempre, os que apoiaram geração pós geração, todos os golpes havidos durante o período republicano, bem entendido, para, que não nos alonguemos mais, demonstrando pari passu, que, em todos os períodos da nossa história, inclusive no período colonial, através de várias revoltas e movimentos genuinamente populares, e, durante todos os governos nacionalistas e populares, de repente, não mais que de repente floresceram tais e quais discursos moralistas.

    Interessante que o notável médico e escritor, é, por demais seletivo em sanha moralista e (ou) moralizadora, pois não é por acaso que em nenhum momento do seu artigo há qualquer menção no que tange as verdadeiras quadrilhas de médicos que sabidamente coexistem no âmbito do SUS, Hospitais Públicos e Particulares, assim como da verdadeira máfia no âmbito dos planos de saúde em nosso país, os quais há bem pouco tempo foram objeto de reportagem através do Programa Fantástico da Rede Globo de Televisão, sabidamente uma rede de televisão e um monopólio de comunicação conservadora pra não dizer igualmente golpista, portanto insuspeita quanto a veracidade da reportagem supra.

    Por demais Notável a amnésia seletiva do percuciente e udenista médico e articulista político, mesmo porque tem-se do seu artigo, manifesta “verdade” acerca existência em nosso país da chamada corrupção isolada, ou seja, mesmo sabedor de que a corrupção em nosso país, é sobretudo uma doença, uma chaga e endemia de ordem cultural. Assim mesmo o articulista claramente tenta incutir junto ao Web leitor de que essa praga chamada corrupção, é tão somente e apenas, obra, criação e disseminação do Partido dos Trabalhadores, e, por via consequencial, basta retirar a Presidenta do Poder, e, sobretudo bastaria retirar o Partido dos Trabalhadores do poder institucional onde está acerca de quatorze anos, não esqueçamos em um período que o conservadorismo, de fato, governou pelo menos Quatrocentos anos. Assim retirando o PT, o Partido do Mau do poder, por conseguinte, teremos o melhor dos mundos sem corrupção e sem essa chaga de ordem moral, teríamos automaticamente o IDH número um do mundo , onde todos os brasileiros de todos os estamentos sociais, serão felizes e, claro, onde não haverá corrupção e mais nenhum problema de ordem estrutural, sobretudo no âmbito da assistência médico-hospitalar.

    Como dito, analise rebuscada com traços de fina ironia, causiticidade e irreverência com que nos “presenteia” o articulista, não esconde de forma nenhuma tendência em colabora com o golpismo e com o terceiro turno ainda intentado pelo chamado candidato dos monopólios, dos cartéis e do entreguismo tão real e notório no âmbito da vetusta e, ignorante e golpista elite nacional, chamado Aécio Neves.

    No caso, já que não mais há mais como criticar de forma leviana e antinacional o programa mais médicos, o notável escritor que muito bem poderia por exemplo, utilizar do talento da sua pena em sua fina ironia em sua verve irônica e caustica a favor da maioria historicamente excluída e, explicitar por exemplo: Qual a razão do não pleno funcionamento do SUS – SISTEMA UNIVERSAL DE SAÚDE PÚBLICA EM NOSSO PAÍS. No caso, não seria, principalmente em função do verdadeiro espírito de corpo que historicamente mais se confunde com espírito de porco parte da maioria da classe medica e do professorado das faculdades de medicina mercantilista, as quais em sua grande maioria ensinam seus alunos não ao humano e sublime ato médico de pelo menos saber realizar uma anamnese, e bem receber e tratar os paciente, não apenas mecânica , mercantilista e curativamente, mais sobretudo, preventivamente, classe essa, da qual o notável escritor, médico, professor e ora articulista faz parte, e, infelizmente prefere escolher o imediatismo político e o lado mais sombrio e obscuro….!!!???

    O que fica do artigo seletivo artigo que intenta dizer com todas as letras que, em tese, é contra corrupção. Verdadeiramente, é que, todas os avanços, indiscutíveis avanços nas areias sociais e institucionais com cotas para negros mulheres e minorias política de diversas matizes, mais ainda com notáveis comprovações e inquestionáveis avanços nas áreas de educação, escola, saúde e moradia, sem me alongar em inúmeras outras que o notável médico e escritor, com certeza tem consciência, porem prefere o silencio do oportunismo político. O fato é que artigo tenta nos direcionar, é que os brasileiros deveriam trocar todos esses avanços, e em nome do pseudo combate à corrupção, novamente devolvermos o pais atual e de todos os brasileiros, àqueles que sempre e sempre implementaram a subserviência e o obscurantismo, além do imobilismo político e social , no âmbito da conhecida política política antinacional e deveras entreguistas quando estiveram à frente do poder institucional em nosso país, digo pode institucional, pois do poder real, infelizmente eles os golpistas, jamais forma apeados…!!!

    Um baraço

    FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
    OAB/RN. 7318.

  2. Alyne Rodrigues diz:

    Texto incrível! Adorei

  3. Alyne Rodrigues diz:

    Gostaria de saber se posso publicá-lo no meu facebook. Citando a fonte e a autora, claro. Att

  4. Alyne Rodrigues diz:

    *autoria

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