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domingo - 21/06/2020 - 12:10h

Sobre o óbvio e a lucidez

Por Francisco Edilson Leite Pinto Júnior

Quando Nelson Rodrigues proferiu a célebre frase: “Só os profetas enxergam o óbvio”, com certeza não estava se referindo ao escritor português José Saramago. Mas este foi profético ao escrever o livro Ensaio sobre a lucidez:

– “Às vezes, estar demasiado próximo dos centros de decisão provoca miopia, encurta o alcance da vista, respondeu sabiamente o primeiro auxiliar (…) É regra invariável do poder que, às cabeças, o melhor será cortá-las antes que comecem a pensar, depois pode ser tarde demais (…)– “A possibilidade da existência de uma organização clandestina decidida contra a legitimidade do sistema democrático, essas coisas não se fazem sem contatos, sem reuniões, sem células, sem aliciamentos, sem papéis, sim sem papéis (…)

– “O que vos põe nervosos é a culpa (…)

– “Os humanos são universalmente conhecidos como os únicos animais capazes de mentir, sendo certo que às vezes o fazem por medo, e às vezes por interesse, também às vezes o fazem porque perceberam que a tempo que essa era a única maneira ao seu alcance de defenderem a verdade (…)

– “As astúcias não serviram de nada, que nós todos continuemos a mentir quando dissermos a verdade, que continuemos a dizer a verdade quando estivermos a mentir (…)

– “Mas nesse mundo tudo é possível, imagino que os nossos melhores especialistas em tortura também beijam seus filhos quando chegam à casa, e alguns, se calhar, chegam mesmo a chorar no cinema (…)

– O que o senhor tem aí é um remorso de consciência. Remorso pelo que não fiz. Há quem afirme que esse é o pior de todos, o remorso de termos permitido que se fizesse (…) pôs-se uma pedra sobre o assunto, até as pedras mais pesadas podem ser removidas (…)

– “O desconcerto, a estupefação, mas também a troça e o sarcasmo, varreram o país de lés a lés (… )

– “Em toda verdade humana há sempre algo angustiosos, de aflito, nós somos, e não estou a referir-me simplesmente à fragilidade da vida, somos uma pequena e trémula chama que a cada instante ameaça apagar-se, e temos medo, acima de tudo temos medo…”

Francisco Edilson Leite Pinto Júnior é professor, médico e escritor

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Categoria(s): Crônica

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