Por Jânio Rêgo
De ontem (segunda-feira, 8 de janeiro de 2018) para hoje caiu por aqui a primeira chuva deste ano que, a-deus-querer, vai ser de bom inverno.
E eu me lembrei do que me disse Socorro de Zé Rocha lembrando a juventude e a convivência com uma das figuras mais marcantes dessa região do Rio Grande do Norte, Josefa Fernandes Nogueira, Zefinha da Catingueira:
“Madrinha Zefinha morria de medo de trovão…”.
Pois veja…certamente herdara esse medo, as terras da Catingueira e também uma vigorosa intrepidez feminina, da mãe dela, Maria Evangelina, pioneira nessas paragens de terras férteis que lhe confiara o marido, Petronilo Jorge, antes de desaparecer em misteriosas aventuras pelas matas do Amazonas nos finais do século 19.
Maria Evangelina, como depois Zefinha, tornou-se uma viúva dona do seu destino, regendo os filhos e a propriedade rural.
Nessas noites invernosas, quando as serras se iluminam de relâmpagos e o aguaceiro desce pelas ribanceiras, sua casa enchia-se de moçoilas, afilhadas, netas, sobrinhas, parentas e aderentes, para fazer companhia e amenizar os sustos da matriarca com os estrondos que ribombam sobre as pedras, socavões e moradias.
Pois essa pequena ‘fraqueza’ da velha Zefinha, parteira desabusada responsável por ‘apanhar’ centenas de crianças nas redondezas, dona-de-casa diligente de mesa farta e generosa, fazia ‘a festa’ daquelas meninas adolescentes que enchiam o quarto gigantesco com suas redes, risos e sussuros típicos dessa época da vida.
– Severiiina, que diabo você tá fazendo na cozinha?
– Nada, madrinha, eu tou aqui na rede, respondia, furtiva e ágil, uma delas que acabara de fazer um chazinho para o regalo das companheiras.
Muitas dessas meninas e moças ainda estão por aí, como Socorro, guardando no coração essas noites de divertimento juvenil que esse relato não consegue abranger nem um punho de rede da alegria que elas viveram.
Mas é pelo menos um pequeno registro, de um tempo, de um lugar e de uma pessoa muito querida, minha tia-avó Zefinha da Catingueira.
Jânio Rêgo é jornalista
*As fotos são do acervo de Liduína Fernandes, neta dela e criadora da página ‘Família Fernandes, no Facebook.
Trovões que agregavam, que mostravam o bem-querer e que transformavam em festa, o antes assustador.
Õ coisa boa esse retorno do jornalista Jânio Rêgo às terras de sua origem! Melhor ainda saber que ele, descendente dos Fernandes e Rêgo, entre os afazeres diários da lida do campo, ainda arranja tempo para essas lembranças todas, verdadeiros regalos. Viva a Catingueira!
NOTA DO BLOG – Viva!
Estou preparando expedição à Catingueira. Se o coronel Honório de Medeiros desejar, pode compor a Bandeira. A gente passa antes por Pau dos Ferros e compra aquela “garrafada” para atenuar suas mazelas, como “espinhela caída”, “difruço”, “zumbido nas oiças”, “aperreio do juízo” e por aí vai.
Aguardo notícias. Câmbio!
Relato minudente de fatos e pessoas que marcaram o cotidiano de um dos rincões rurais da região do alto Oeste potiguar. Parabéns por emoldurar minhas emoções de aruá do pé-da-serra do meu amado e nunca esquecido Apodi. As Minhas origens genealógicas estão todas delineadas em históricas serras que constituíram passagem obrigatória para fixação do marco da civilização: Serra de Portalegre-RN, onde em seu sopé (Sítio Tabuleiro dos bois) nasceu a minha saudosa avó materna Professora Amália Severiano de Souza Rêgo, conhecida no tradicional clã Rêgo como sendo Mirosa de Jeremias Félix; Serra do Martins, feudo da família Santos Rosa, onde nasceu o meu avô materno Joaquim dos Santos Rosa (Sêo Joaquim Rosa), e Serra do Apodi, onde nasceu o meu saudoso genitor sêo Geraldo de Aristides Pinto. Parabéns parente. Forte abraço.
O nobre amigo Carlos me fez evocar o sufoco que os médicos cubanos importados pelo governo Dilma Roussef passaram ao ouvir esses arremates verbais típicos do nordestino : Difruço, espinhela caída, zumbido nas oiças, aperreio do juízo. Acrescento mais : caganeira, vento privado, dor de viado, entalamento etc.