Por François Silvestre
Vivemos tempos da miséria dialética. A considerar-se dialético tudo que se confronta, se enfrenta, se afirma e se nega.
Hegel resgata da era clássica a dialética empírica e lhe dá feição idealista. A lógica, então dominante, passou a ser um método investigativo superado.
Um discípulo de Hegel, Karl Marx, repensou a dialética e revisou Hegel. Dizia ele que Hegel acertara na superação da lógica, mas pusera a dialética de cabeça para baixo. E o marxismo não só distanciou-se como passou a ser a negação crítica do hegelianismo.
Mesmo que o marxismo deteste o revisionismo, não foi outra coisa o que Marx fez com Hegel. Retirando a dialética do idealismo para sua concepção materialista. Aliás, nesse aspecto Engels foi mais a fundo do que Marx.
A negação dos marxistas ao revisionismo vem dos diversos momentos em que foi preciso justificar o poder, mesmo negando princípios originários do próprio marxismo. Até Fustel de Coulanges, equivocadamente chamado de positivista, foi tachado de “precursor” do revisionismo.
Daí negou-se a importância da sua obra clássica, “A Cidade Antiga”, que se debruçou sobre a religião, organização política e vida familiar nas Cidades-Estados da Grécia e Roma.
É verdade que a dialética tem vida muito mais antiga, desde os pensadores da era clássica. Aristóteles, Demóstenes, Heráclito de Éfeso são alguns ensaístas da dialética primitiva. Também operada por Tomás de Aquino, na Escolástica.
A tese, antítese e síntese superam e substituem as deficiências simplistas da lógica. Hegel tem o mérito histórico da sua transposição para o pensamento moderno.
MARX e Engels cumpriram papel semelhante, na aplicação do método dialético ao pensamento político de transformação. Isto é, no materialismo histórico. Cuja práxis prometida, negadora do idealismo, produziu o mais fantástico fracasso histórico de quantas revoluções houve.
Pois bem. O Brasil conseguiu, sem revolução, o feito de aprimorar a dialética do fracasso. A política brasileira é “A boneca de uma menina que não tem braços”, como a felicidade que Humberto de Campos definiu.
Socialismo, no Brasil, não é distribuição de renda ou divisão de propriedade. É repasto de esmola. Demagogia.
A dialética, no Brasil, não tem tese. Só antítese, sem síntese. Desordem institucional, bagunça política, desonestidade administrativa e farsa de controle.
O único governo que propôs reformas de base, inclusive agrária, foi João Goulart. E caiu por isso. Imprensado no meio da guerra fria, travada pelo império capitalista americano contra o império militarista da burocracia soviética.
A pátria dos quartéis vendeu-se. A pátria dos políticos prostituiu-se. O povo recebeu a sucata da pátria, cujo conserto, hoje, atropela-se na dialética da mediocridade.
Té mais.
François Silvestre é escritor
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