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domingo - 01/01/2023 - 09:20h

110 anos do Colégio das Irmãs; Pedagogia do amor de Irmã Zelândia

Por Marcos Araújo

Em agosto último, o Colégio Sagrado Coração de Maria (CSCM) fez 110 anos de existência em Mossoró. É crédito seu a formação de milhares dos profissionais de ontem, do hoje e dos que se consolidarão no amanhã. É mais de um século de dedicação ao ensino, retrocedendo das irmãs Zelândia e Lucilene, às antecedentes Anair, Aparecida, Ana, Dalvanir Rosado (irmã dos meus diletos amigos Fernando e Tibério Rosado), Francisca, Livramento, Cecília, Zezé, Terezinha, entre outras.

Registro histórico do CSCM em foto de Manuelito

Registro histórico do CSCM em foto de Manuelito

No CSCM, a ESCOLA sempre será o espaço público do conhecimento, da formação humana e do culto aos valores morais e divinos. O SABER não é a única atividade-fim dessa instituição, mas apenas um elemento a mais dos valores morais, sociais e culturais edificantes no ser humano. Ajudar a constituir uma consciência crítica a uma sociedade humanizada tem sido um dever.

Como vivemos em uma sociedade ultratecnicista, na era do digital, o CSCM deve ser exaltado por sua tradição, pelo privilégio do humano, pela relevante preservação da comunicação interpessoal, como elementos educativos diferenciais. As escolas “ultramodernas” do momento privilegiam a robótica, a estética, o egoísmo, a individualidade, com foco (a palavra principal dos coach´s!) na disputa, na competição entre pessoas, mandando às favas o desempenho coletivo.

Que bom que o CSCM não se enquadra neste perfil, substituindo as disciplinas da ”robótica” pela “humanótica”, a “estética” pela ética, a “individualidade” pela alteridade, o “egoísmo” pelo cristocentrismo. A crescente onda de etnocentrismo cultural que, infaustamente, assola o meio educacional, tem merecido no CSCM enfrentamento por esta educação inclusiva, coletiva, cristocêntrica e humanizadora!

Por isso, no cumprimento do seu desiderato, a escola tem se revestido de um misto de formação teológica e científica que agrega aos professores-educadores uma mística de ensino entre o saber formal e o exercício dos dons de Deus. E as freiras no CSCM têm adicionado o “dom do ministério religioso com o dom de ensinar”. Uma delas, Irmã Maria Zelândia, tem uma história pessoal com Mossoró há 38 anos.

Qualquer pessoa que resida neste Estado já ouviu falar de Irmã Zelândia. Se estivéssemos diante de um tribunal eclesiástico em busca de sua beatificação, cada um dos ex-alunos do CSCM podem retratar com precisão seu esforço ingente na melhoria instrutivo-formacional, material e educacional de suas personalidades, através de inefáveis ações, como: sua ponderação maternal nas chamadas de atenção;  sua instintiva proteção aos injustiçados; seu colo conciliador aos adolescentes incompreendidos; sua evangélica tolerância à diversidade; sua equilibrada atuação para a superação das desigualdades sociais entre os alunos, tratando isonômicamente filhos de ricos com os filhos de pobres, algo muito raro nas demais escolas.

Os pais podem igualmente testemunhar em seu favor.  No campo moral e educacional, pode ser lembrado o respeito às instituições, com a preservação da memória das datas históricas e cívicas (dia da Bandeira, dia do Índio, dia do Folclore…); no campo religioso, o diferencial dos hinos religiosos tocando na acolhida dos filhos no início das aulas; a reunião de pais e mestres principiando sempre com a oração do Pai Nosso; as celebrações cristãs de Natal e Semana Santa envolvendo pais e alunos etc.

Do ponto de vista financeiro, pode ser o testemunho dos inadimplentes, renovando por anos a fio prestações impagas, com direito automático à renovação da matrícula dos filhos; das bolsas contínuas, ou descontos tão generosos aos pais assalariados, de modo a permitir que o pagamento da mensalidade escolar não comprometesse a qualidade e a dignidade da família. Por sua caridade, o CSCM abrigou – e abriga – centenas de alunos bolsistas.

O testemunho de Nossa Senhora como modelo perfeito de educadora-evangelizadora referenciou a nossa outra Maria (Maria Zelândia). Assim também como Nossa Senhora perseverou junto aos apóstolos à espera do Espírito Santo, cooperando com o nascimento da Igreja missionária, na qual imprimiu um caráter que a identifica profundamente, nossa Irmã Zelandia tem persistido na missão de ver os seus filhos adotivos crescerem como homens e mulheres de valor, imprimindo neles sua marca zelosa de educadora do bem.

Sabemos da dificuldade de se viver uma espiritualidade encarnada nos tempos presentes. Numa sociedade dividida, polarizada, desigual, tecnocêntrica e desumanizadora, com crianças e adolescentes fixados em celulares e tablets, é um desafio quase inglório pedir para que eles se voltem para o céu. Uma tarefa para educadores-santos.

E mais: em um tecido social esgarçado, com os pais “lavando as mãos” e transferindo para as escolas o dever de edificação moral dos filhos, é muito difícil formar pessoas socialmente comprometidas em gerar objetivos de vida comunitária e altruísta.

Certa vez, Paulo Freire, disse: “Ninguém liberta ninguém, ninguém se liberta sozinho: os homens se libertam em comunhão”. De fato, a educação sozinha não transforma a sociedade, sem ela, tampouco, a sociedade muda. Sei apenas (e sou testemunha como pai de três ex-alunas) que o CSCM tem contribuído muito na construção de uma sociedade melhor, justa e fraterna, formando e estimulando jovens para o espírito da cooperação e da paz.

Ao Colégio Sagrado Coração de Maria e à Irmã Zelândia, pelo esforço em edificar seres humanos e almas melhores, de moldar educandos e forjar personalidades pela pedagogia do amor, a nossa eterna gratidão!

Marcos Araújo é advogado e professor da Uern

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Argemiro Lopes diz:

    Escola que me ensinou tudo, guardo no coração os ensinamentos das irmãs Dulcina, Livramento, Aparecida e Zelândia

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