Por Honório de Medeiros
Fui visitar Seu Antônio de Luzia, lá no Feijão, Sítio “Canto”, Serra da Conceição, rumo quebrado para a Serra do Camará.
João, seu filho, João de Antônio de Luzia, a quem eu encontrei, antes, na Pedra do Mercado, me preveniu: “tá falando muito pouco e escutando demais.”
“Por quê?”
“Sei não. Eu pergunto o que é e ele, sentado naquela cadeira de balanço, estira a mão para cima e sacode os dedos como se estivesse espantando mosca.”
Seu Antônio estava lá no mesmo lugarzinho de sempre, cadeira de balanço, na calçadinha de sua casa de tijolos crus, olhando o tempo, cumprimentando os passantes com um balançar de cabeça para cima e para baixo.
“Boa tarde, Seu Antônio, como vão as cousas?”.
“Boa tarde!”.
Mandou, com um gesto, que eu tomasse assento na outra cadeira de balanço.
Então eu me danei a falar e ele só olhando, escutando e calando.
Lá para as tantas, me fiz de atrevido e perguntei: “o Senhor perdeu o gosto de falar?”
Ele ficou calado um tempão, pigarreou e disse: “tem muita gente sabendo de tudo, falando muito; eu, quanto mais vivo, menos sei das coisas.”
Parou, pigarreou de novo, tomou um gole de café, cuspiu no chão de barro, e rematou: “O pouco que sei é o que eu faço com as mãos: cortar um capim, debulhar um feijão, pegar um balde d’água no poço…”.
Mais não disse. Mais não perguntei.
Ficamos os dois, cismarentos, enquanto a tarde ia e a noite chegava.
A noite e os mosquitos. A noite, os mosquitos e a lua, que já se atrevia.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Governo do RN
Beleza de crônica, meu estimado Honório. Maravilha!
Amigo, é um privilégio seu comentário!
Maravilhoso!
Lembrou-me, ” não fale, melhore o silêncio ”
Um abraçaço
Bem lembrado, Amorim. Obrigado pela delicadeza do registro. Abraço.
Parabéns querido amigo. Me fez recordar meus tempos de criança in riba da minha amada serra do Apodi, na famosa fazenda de nome “Quadra”, de matas nativas, espécie de feudo territorial de dois mil hectares de terras do meu saudoso avô paterno Aristides Ferreira Pinto, fruto de laboriosa luta como vendedor ambulante de tecidos, de cuja labuta transferiu-se para a agropecuária, onde logrou êxito como produtor do famoso Ouro Branco, que era o algodão. Destacou-sr como um dos grandes vendedores às formas Alfredo Fernandes e S.A. Mercantil Tertuliano Fernandes.desfrutando. Neste latifúndio rural, tive a honra em desfrutar da gostosa e famosa Cruviana, que é aquele frio intenso que durante a noite alivia o calor intenso característico da caatinga nordestina. Ainda, me vem à memória o arrepiante grito do pássaro conhecido como “Mãe-da-Lua” espalhando o seu canto característico como se estivesse a chamar pelo nome de João – esticando o nome Joãoooooo…. Saudade.
Sou um eterno namorado da lua sertaneja.
De repente, não mais que de repente, veio-me à memória a mais terna recordação das minhas férias serranas, que exatamente coincidiam com as férias escolares, que começavam em Dezembro e terminavam em Fevereiro. Plenitude invernal. Muita fartura.A família toda unida e reunida, sob as bençãos divinas de dadivoso inverno. O divertimento da netarada composta por travessos netos. A diversão noturna no entorno do Casarão senhorial, de taipa, diga-se de passagem, resumia-se à fixação de meia hora para dispersão no meio da plantação de milho e de algodão arbóreo situado no entorno do dito casarão, em que cada menino/ menina conduzia consigo um litro vazio para guardar os vagalumes (pirilampos) capturados dentro do tempo estipulado. Expirado o tempo, o responsável pelo acompanhamento do recurso do tempo, soprava um apito, conclamando a juntada da gurizada para contagem dos vagalumes em cada litro, declarando-se, ao final, o vencedor na captura de maior quantidade de vagalumes. Eita velhos tempos bons…