Por Ney Lopes
Morreu na madrugada sexta-feira, 5, aos 84 anos, o escritor e humorista Jô Soares.
O Brasil perde um artista único, talentoso e culto.
Antes de ingressar na carreira artística, ele chegou a pensar em ser diplomata.
Por isso, falava cinco idiomas com fluência, além do português: inglês, francês, italiano, espanhol e alemão.
O que se observa na política brasileira atual, de parte a parte, lembra aquele personagem de Jô Soares, que voltava à consciência, após anos em coma e ouvia as notícias contadas pelas pessoas.
Atônito, ele não acreditava no que ouvia e optava para continuar inconsciente, exclamando “tira o tubo”, como forma de fugir da realidade
Recordo que, após ser incluído numa lista da revista VEJA entre os oito parlamentares considerados eficientes no Congresso, recebi convite para participar do seu programa, juntamente com o então deputado José Genoíno.
Abordando temas políticos polêmicos, Jô confrontou os dois parlamentares, à época pertencentes ao PFL e ao PT.
Para mim foi uma honra, pelo alcance nacional do programa do Jô, que era pessoalmente um “gentleman.
Na sua carreira de comunicador e intelectual ele se revelou um grande frasista, transmitindo em seus conceitos profundo sentimento humanista.
Eis algumas frases dele:
Eu sofri a dor que é o pesadelo de todo pai, a inversão da ordem natural das coisas: perda de um filho.
Após o falecimento do filho Rafinha, Jô disse ao voltar a TV:
“Eu queria contar uma história, de uma das coisas que aprendi com o Rafinha.
Uma vez, em uma livraria, ele chegou junto ao caixa carregando uma dúzia de livros.
Eu estranhei, falei: ‘Espere aí, isso é muito. 12, não. Escolha seis”.
Ele disse: ‘Então, não quero nenhum’.
Pensei que era malcriação: ‘Como assim, não quer nenhum?’.
‘Eu prefiro não escolher. Porque escolher é perder sempre’, ele respondeu.
Claro, você escolhe um e o que você não escolheu… hoje, eu também não preciso escolher.
Como ele nunca faltou ao seu trabalho, também não posso faltar ao meu.
Um beijo do gordo e a vida continua.
“A vida é o que a gente veio fazer aqui”, disse Jô, com a voz embargada pela emoção.
Seguem-se outras frases:
“É bem melhor pensar sem falar do que falar sem pensar”;
“A comissão faz o ladrão”;
“No Brasil, quando o feriado é religioso, até ateu comemora”;
“O maior erro dos ‘espertos’ é achar que podem fazer todos de otários”;
“Não é necessário mostrar beleza aos cegos, nem dizer verdade aos surdos. Mas não minta para quem te escuta e nem decepcione os olhos de quem te admira”;
“Eu torço pela felicidade dos outros. Gente feliz não enche o saco”.
O Brasil perdeu não apenas um artista, escritor e dramaturgo.
Mas um personagem que vida preservou valores e sentimentos humanos.
Ney Lopes é jornalista, advogado e ex-deputado federal
Parabéns Ney, demonstra sua sensibilidade com o “Nosso Jô “.
“Torço pela felicidade dos outros, gente feliz não enche o saco”
Adorei.
Um abraçaço!