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domingo - 13/07/2014 - 09:52h

A genialidade do atraso

Por François Silvestre

Há dois tipos de gênios. O da ficção, cuja fricção numa lâmpada mágica o liberta da prisão e o prende à obrigação de servir incondicionalmente ao amo que o libertou. Vem da ficção literária das aventuras de Aladim.

Há o gênio da vida real. Aquela figura humana que se distingue dentre os inteligentes e ainda se põe acima dos mais inteligentes. Posto que, sua inteligência vem abastecida de um talento especialíssimo, seja na ciência ou na arte. E só aí. Fora da arte ou da ciência não há genialidade. Há inteligência, habilidade ou esperteza.

O assunto que motivou este texto vem de citação de Lao Tze, publicada pelo Poeta Jairo Lima, no Portal Infâmia, que diz assim: “Quem adora, venera, exalta e tem na conta de heróis os que se exprimem pelos pés deve estar preparado para levar um chute na bunda”.

Quando o sábio oriental disse isso, o futebol nem havia nascido. Lao Tze era um gênio.

Passou-se impunemente, sem que ninguém contestasse, a adjetivação de gênios a pessoas diferenciadas nos esportes. Pelé é um gênio, Sena é um gênio, Maradona é um gênio. Oscar é um gênio. E foram distribuindo genialidades a torto e a direito.

A genialidade existe sim, mas reside no campo das exceções e no mapa da mente. E não do físico. Tanto é assim que o gênio de verdade aprimora com o tempo a finura da genialidade. Enquanto no físico, o “gênio” tem prazo de validade. Na medida em que envelhece, a genialidade vai desaparecendo. São os “gênios” temporais.

Pelé tentou fazer música. Mas as notas musicais ficaram nos pés. Disse tanta besteira durante a vida, que Romário grafou uma frase perfeita: “Pelé calado é um poeta”.

O Brasil continua esperando pelo vaticínio de Stefan Zweig. “País do futuro”. Perdido na imaturidade cultural, é um país econômica e politicamente amador enquanto aposta todas as fichas no profissionalismo do secundário. E olhe que o esporte é fundamental. Só que até nessa área as preocupações vão apenas ao secundário.

Nunca vencemos uma Olimpíada no futebol. Por quê? Porque nas Olimpíadas o esporte tem base na atividade amadora do esporte. E é o amadorismo, no esporte, que comprova o profissionalismo social de um país. O Brasil é amador no que deveria ser profissional e profissional no que deveria ser amador.

Pra compensar supre o complexo de inferioridade profissional distribuindo títulos e adjetivos pomposos à tripa forra. Muita grana para poucos. E “gênios” de miçanga, vendidos como vendiam seda os mascates árabes nas grotas do sertão.

Certa vez, um admirador chamou Di Cavalcanti de gênio. E ele modestamente corrigiu: “Meu filho, gênio é quem toca piano aos quatro anos”.

Desde que a Ditadura acabou, nós não fazemos outra coisa senão brincar de liberdade. E nessa brincadeira vamos adiando a feitura do país. Enquanto espertos e pilantras vão edificando a genialidade do embuste.

Té mais.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Milene Pinto diz:

    Excelente crônica

  2. naide maria rosado de souza diz:

    François Silvestre.
    Excelente artigo, como sempre, aliás. De fato, a genialidade merece um uso bem mais restrito. Penso que um excelente jogador de futebol, aquele que dribla, faz bicicleta e chuta muito em gol é um craque numa atividade física. A atividade física tem a época do esplendor e é efêmera. Com trinta e poucos anos você está perto do fim da capacidade produtiva. O vigor físico é indispensável para o jogador permanecer em campo.
    O gênio, ao contrário, não tem idade-limite para término de sua produção. Com o passar do tempo, não havendo uma intercorrência grave, ele se aperfeiçoa. O brilho da mente fulgura por tempo indeterminado.

  3. AVELINO diz:

    …apesar de tudo o Brasil dos improvisos continua!!! Hoje, 14/07, sai de cena o futebol milionário do pé que chuta para dar lugar ao reinício das aulas nas escolas motivadoras das cabeças que pesam, algumas até fisicamente em ruínas… Tudo na infeliz tentativa de se forjar heróis úteis para a nossa sociedade, mesmo com seus heróis professores desmotivados justo por falta de reconhecimento profissional, o inverso total dos milionários operadores do futebol com suas escolaridades fundamentais incompletas.

  4. Francisco de Assis Paiva Filho diz:

    Excelente artigo. E agora, depois da “brilhante” campanha da Seleção Brasileira….., o que dizer das “brilhantes campanhas políticas” que se avizinham….???? E esse “aglomerado juntado/formado” sempre fomentado aos olhos dos eternos políticos deste Estado, agora com a presença ilustre dos últimos 06 (seis) Ex – Governadores, isso é Mudança???? ou Embuste???…. Vou plagiar o blogueiro Carlos Santos, Pobre RN SEM SORTE….

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