Ah, que vontade de perambular por esse sertão!
Desejo de espiar o verde.
Necessidade de aspirar o “petricor” (aroma que a chuva provoca ao cair no solo seco).
Careço dele, capiau da cidade que um dia planejou morar no mato e por medo, muito medo, resolveu se trancar em casa. Um prisioneiro sem sentença de qualquer doutor-juiz.
Fico a sonhar com o inverno; aquele mesmo que faz o sertanejo sorrir desbragadamente, leva a meninada a se banhar na bica e instiga os bichos a perpetuarem a espécie.
Aquele tempo dos sapos insaciáveis, dos insetos impertinentes, do milho, do feijão, do rio esborrotando.
Da panela de barro, do cheiro de cuscuz!
De uma prosa que parece sem fim no alpendre, até que a comadre grita lá da cozinha: “O comer tá na mesa!”
Tudo bem. A gente vai já.
Antes, vamos aprumar copo para aquela bicada a mais de cana. Só para abrir o apetite. Só.
Ah, que vontade de perambular por esse sertão!
Guimarães Rosa estava certo.
– “Sertão: é dentro da gente”.
* Foto: Gustavo Bettini.
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INFORMAÇÃO, ARMA DA CIDADANIA
❝Precisamos fugir do jornalismo declaratório. Sair às ruas, fazer reportagem. Confrontar a declaração do governante com a realidade dos fatos. Bater forte na pornopolítica.❞
As pautas não estão dentro das redações. Elas gritam em cada esquina. É só pôr o pé na rua e a reportagem salta na nossa frente. Essa percepção, infelizmente, é a que mais falta aos jornais. Os diários perderam o cheiro do asfalto, o fascínio da vida, o drama do cotidiano. Têm o gosto insosso de hambúrguer em série.
O crescimento dos jornais depende de uma providência muito simples: sair às ruas, fazer reportagem. Só isso.
Você, amigo leitor, tem ido ao centro antigo de São Paulo? Faça o teste. É um convite à depressão. É uma cidade assustadora: edifícios pichados, prédios invadidos, gente sofrida e abandonada, prostituição a céu aberto, zumbis afundados no crack, uma cidade sem alma e desfigurada pelas cicatrizes da ausência criminosa do poder público.
A cidade de São Paulo foi demitida por seus governantes. E nós, jornalistas, precisamos mostrar a realidade. Não podemos ficar reféns das assessorias de comunicação e das maquiagens que falam de uma revitalização que só existe no papel. Temos o dever de pôr o dedo na chaga. Fazer reportagem. Escancarar as contradições entre o discurso empolado e a realidade cruel. Basta percorrer três quarteirões. As pautas estão quicando na nossa frente.
Jornalismo é isso: mostrar a vida, com suas luzes e suas sombras. São Paulo, a cidade mais rica do País e um dos maiores orçamentos públicos, é um retrato de corpo inteiro da falência do Estado.
Também o Brasil, um país continental, sem conflitos externos, com um povo bom e trabalhador, está na banguela. Os serviços públicos estão à deriva. Basta pensar na educação.
A competitividade global reclama crescentemente gente bem formada. Quando comparamos a revolução educacional sul-coreana com a desqualificação da nossa educação, dá vontade de chorar. A assustadora falta de mão de obra com formação mínima é um gritante atestado do descalabro da “Pátria Educadora” dos governos petistas.
Políticos sempre exibem números chamativos. E daí? Educação não é prédio. Muito menos galpão. É muito mais. É projeto pedagógico. É exigência. É liberdade. É humanismo. É aposta na formação do cidadão com sensibilidade e senso crítico.
O custo humano e social da incompetência e da corrupção brasileiras é assustador. O dinheiro que desaparece no ralo da delinquência é uma tremenda injustiça, uma bofetada na cidadania, um câncer que, aos poucos e insidiosamente, vai minando a República. As instituições perdem credibilidade numa velocidade assustadora.
Os protestos que tomaram conta das cidades precisam ser interpretados à luz da corrupção epidêmica, da impunidade cínica e da incompetência absoluta da gestão pública. Há uma clara percepção de que o Estado está na contramão da sociedade. O cidadão paga impostos extorsivos e o retorno dos governos é quase zero. Tudo o que depende do Estado funciona mal. Educação, saúde, segurança, transporte são incompatíveis com o tamanho e a importância do Brasil. Os gastos públicos aumentam assustadoramente. O número de ministérios ainda é uma piada.
São padrões de política em que a corrupção rola solta. A percepção de impunidade é muito forte. Ela empurra a democracia para uma zona de risco. Os governantes precisam acordar. As vozes das ruas, nas suas manifestações legítimas, esperam uma resposta efetiva, e não um discurso marqueteiro. A crise que está aí é brava. A gordura dos anos de bonança acabou. A realidade está gritando no bolso e na frustração das pessoas. E não há marketing que supere a força inescapável dos fatos. Os governos podem perder o controle da situação.
Campanhas milionárias, promessas surrealistas e imagens produzidas fazem parte da promoção de alguns políticos e governantes. Assiste-se, diariamente, a um show de efeitos especiais capazes de seduzir o grande público, mas, no fundo, vazio de conteúdo e carente de seriedade. O marketing, ferramenta importante para a transmissão da verdade, pode ser transformado em instrumento de mistificação.
Estamos assistindo à morte da política e ao advento da era da inconsistência. Os programas eleitorais vendem uma bela embalagem, mas, de fato, são paupérrimos na discussão das ideias.
Nós, jornalistas, temos um papel importante. Devemos dar a notícia com toda a clareza. Precisamos fugir do jornalismo declaratório. Nossa missão é confrontar a declaração do governante com a realidade dos fatos. Não se pode permitir que as assessorias de comunicação dos políticos definam o que deve ou não ser coberto. O jornalismo de registro, pobre e simplificador, repercute o Brasil oficial, mas oculta a verdadeira dimensão do País real. Precisamos fugir do espetáculo e fazer a opção pela informação. Só assim, com equilíbrio e didatismo, conseguiremos separar a notícia do lixo declaratório.
Transparência nos negócios públicos, ética, boa gestão e competência são as principais demandas da sociedade. Memória e voto consciente compõem a melhor receita para satisfazê-las. Devemos bater forte na pornopolítica. Ela está na raiz da espiral de violência que sequestra a esperança dos jovens e ameaça a nossa democracia.
As cicatrizes que desfiguram o rosto de São Paulo e do Brasil podem ser superadas. Dinheiro existe, e muito. Faltam vergonha na cara, competência e um mínimo de espírito público.
Jornalismo é a busca do essencial, sem adereços, qualificativos ou adornos. O jornalismo transformador é substantivo. Sua força não está na militância ideológica ou partidária, mas no vigor persuasivo da verdade factual e na integridade da sua opinião.
Façamos reportagem. Informação é arma da cidadania. E votemos bem. Seu voto, amigo leitor, pode virar o jogo.
[Carlo Di Franco, jornalista, no ‘Estadão’]
O texto e a foto são despertadores dessa vontade e admiração que o cronista quer transmitir.
Sim, o sertão é dentro da gente, quando não é nossa alma.
Bela crônica.
Virar o jogo? Como?????? Coooooooomo??????
A foto e o fato.
O cidadão sentado nessa cadeira de balanço faz parte do time dos que estão num pé e noutro para chegar o dia da votação para, usando tapa olhos, apertar a tecla ‘CONFIRME’ no Encantador de ♞♘ , ou em quem o Encantador de ♞♘ indicar, não dando a minima se o indicado é um poste, um réu, um membro da quadrilha ou um bandido qualquer.
– Ô minino, sele a burra que eu vô in Mossoró votá e volto já. Diga a sua mãe que procure o meu ‘títu’, e peça a ela que assente num papel o ‘númuro’ de Lula. Só basta o ‘númuro’ dele.
– O sinhô num qué levá uma caneta, não?
– Pra quê, se eu num seio iscrevê. A minha assinatura é o dedão KKKKKKKKKKKKKK ♫ Lula lá lá lá lá lá lá… Lula lá lá lá lá lá lá…
” Nosso Blog” é cristalino. Aqui a notícia não é, apenas, uma fotografia. Vem com comentário, crítica, elogio e sugestão .
Sim, ” Informação é arma da cidadania”, jornalista Carlos di
Franco. Parabéns, por seu texto