Diz a sabedoria popular que a vida é curta e o mundo é pequeno. Estou na praia de Pirangi do Norte, reunido com filhos e netos, na comemoração de aniversário do dileto amigo José Fernandes, esposo de dona Vânia Pinto. Meu vizinho de mesa era alguém que, acho, conhecia, não sabia de onde.
Entre uma dose e outra, conversa vai, conversa vem, nos apresentamos. Eu, um saudosista obstinado. Ele se apresenta como José Câmara Filho. Aí não me contive :
– Não me diga que seu pai foi coletor federal em Martins nos anos sessenta!
Após a afirmativa, a lembrança chegou rápida. Pois foi nesse tempo que minhas férias escolares eram gozadas na fria e encantadora Serra de Martins. O “hotel” era a casa do meu tio, corretor de algodão em pluma naquela cidade. O “misto” de Edivaldo era o transporte que nos conduzia até ao destino.
Partíamos de Mossoró na madrugada e chegávamos à serra por volta de meio dia. Saíamos de um clima de trinta e cinco graus para a amenidade dos vinte. A subida da serra era uma aventura. A estrada, carroçável, com muitas curvas e abismos a se perderem de vista, era um misto de temor e beleza.
A festa de Nossa Senhora da Conceição, padroeira da cidade, era comemorada no final de dezembro até os primeiros dias de janeiro. Muito animada, com direito a parque de diversão, jogos de roleta, bozó, tiro ao alvo, barraca, quermesse, leilão, novena, banda de música e ciranda de fogos.
Zé Câmara, na época, a pessoa mais importante da cidade. Mais do que o padre, o juíz e o delegado. Era ele quem organizava o campeonato de voleibol, os bailes no Centro Lítero Esportivo Martinense (CLEM), a festa da padroeira, os encontros culturais, enfim, era o “cara”.
Passamos o filme de longa metragem sobre aquele tempo maravilhoso.
Recordamos das visitas aos mirantes do Canto e da Carranca, da Casa de Pedra, da Fonte da Bica, das trilhas percorridas. Foi muita prosa pra pouco tempo.
O filho de Zé Câmara e o novo amigo que acabara de conhecer era a cara do pai. Falou que seu genitor foi coletor por curto período em Mossoró quando saiu de Martins e antecedeu a “Chico de Lalá” na coletoria da Capital do Oeste.
Lamentei não ter lhe encontrado nessa época. O fato é que, sem querer nem está programado, relembrei mais uma fase importante da minha vida.
Tempos bons que foram lembrados num dia agradável com enorme prazer e imensa saudade.
Paulo Menezes é meliponicultor e cronista
Não há como conter o orgulho de ser Martinense e principalmente de ser neta de José Câmara! Minha terrinha é linda e auspiciosa e meu avô foi um grande homem, ser humano especial, um “verdadeiro cidadão martinense” que muito contribuiu para a sociedade na época que morou em Martins. Muitos são os martinenses que tem saudades dessa época e dos eventos organizados pelo meu avô José Câmara.
Agradeço primeiramente os elogios feitos ao meu maravilhoso pai, as palavras com que o descreveu são verdadeiras e fidedignas ao homem que ele era realmente. Ele sentia pela Serra de Martins um amor muito fiel e sincero, cidade onde residiu por 23 anos e saiu daqui com muitas lágrimas, mas o cumprimento do dever para com o seu trabalho o obrigou a morar em outra cidade e deixar a Serra que sempre amou como se fosse a sua terra natal. Meu pai José Câmara, mais conhecido aqui em Martins como Zé Câmara, era sim um grande homem, um bom esposo e um pai maravilhoso e por ser tudo isso permanece vivo no coração de todos que o amam e admiram.
Não imaginei que nosso encontro em Pirangí se transformasse numa Crônica tão atenciosa e bem escrita! Primeiro eleva nossa querida Serra, enaltece o meu pai, Zé Camara e me presenteia com essa Pérola! Vamos para outros encontros, dessa vez pode ser em Martins, Cotovelo ou Mossoró. Será que teremos novas Crônicas?
Um grande e afetuoso Abraço!