Por Marcos Ferreira
Como todo operário da palavra, o cronista escreve pensando em determinado grupo de leitores. Em algumas ocasiões, feito agora, ele pensa num leitor específico. Na verdade, para ser sincero, hoje eu penso numa certa leitora que esses dias, por telefone, desferiu contra mim uma saraivada de reprovações às minhas crônicas. Leitora esta que, vez por outra, assina um texto desse gênero.
Trata-se de uma jornalista experiente, cobra criada, e que maneja medianamente bem o nosso idioma. Mas entende tanto de literatura quanto de engenharia atômica. A mulher, entre outros pontos que lhe desgosta, acha um grande saco (expressão dela) essa coisa de eu dialogar com meus hipotéticos leitores, referindo-me a estes por meio do vocativo “prezado leitor e gentil leitora”. Pois é, a tal jornalista acha essa sintonia um negócio meloso, cacoete terrível, algo piegas.
Não sei até que ponto ela está certa ou errada. De repente, convenhamos, outras pessoas podem pensar assim. Esse ofício de cronista, a exemplo do que ocorre em qualquer ramo de arte, tem seus dias de glória e de fracasso, feedbacks bons e alguns bastante ruins. E estes últimos, se a gente não tiver humildade e convicção do que é e faz, podem sepultar a carreira de um autor inseguro.
São estes, digamos, os ossos do ofício. Claro que a jornalista, das mais competentes que conheço nesse ramo, não tem má vontade em relação a mim, não lhe passa pela cabeça o propósito de me fazer parar de escrever. Apenas, num rompante de sinceridade, desabafou. Notei que aquilo estava reprimido há um bom tempo, entalado em sua garganta, sem que ela tivesse coragem de me jogar na cara suas impressões acerca do meu exercício literário enquanto cronista.
Não sei, por sinal, o que ela acha da minha produção em versos e da prosa de ficção. O que dirá dos meus sonetos? Será que conhece e tem algum juízo sobre meus contos? Quem sabe esteja represando outros pareceres negativos e qualquer dia resolva me fuzilar com novo desabafo. Careço dizer, entretanto, que a crítica foi construtiva, embora suave como papel de embrulhar pregos.
— Vá tomar naquele canto! — disparou.
Isso me foi dito não de maneira rude nem chula, mas brincalhona, como é próprio da sua personalidade forte e sem muito asseio verbal. De fato, além de outros pontos que não me animo a citar, a questão do vocativo, do meu diálogo com os leitores, foi o que mais a tirou do sério. Espero que esta réplica não soe como revanchismo da minha parte, entretanto estou certo de que essa leitora, que possui inteligência acima da média, é bem pouco versada em matéria de crônicas.
Não quero me comparar aos monstros adiante, todavia, em se tratando de diálogo com os leitores, imagino que a competente e vocacionada jornalista curitibana nunca leu, sobretudo, as crônicas de Machado de Assis, de Rubem Braga, de Antônio Maria, de Fernando Sabino ou de Otto Lara Resende. Nem de José Nicodemos nem Dorian Jorge Freire. Se leu, não assimilou muita coisa.
É possível, e isso é absolutamente compreensível, que ela simplesmente não goste das minhas crônicas, do meu estilo ou falta dele. Pronto! Acabou-se! O que se há de fazer? Nada. Seria tão só uma questão de gosto, o que nem sempre é discutível. Há autores, nacionais quanto estrangeiros, tidos como mestres da literatura, de que eu, por questões muito pessoais, não gosto. Até os respeito e reconheço como nomes de relevo, porém, ao fim e ao cabo, não me agradam.
Que dirá um Ferreira (ou ferreiro) das letras. Ainda assim, modéstia à parte, por intimidade e ambiência com o mundo literário, possuo certo tirocínio e discernimento. Por exemplo, sei quando um jornalista com aspirações a escritor (ou a escritora) tem e quando não tem talento para a literatura de verdade. Há jornalistas que são ótimos escritores e vice-versa, outros são uma só coisa.
Conheço indivíduos que têm o dom do jornalismo, como é o caso da mulher com quem conversei ao telefone, porém não passam disso. Tais pessoas são craques no texto puramente noticioso, informativo, sabem fazer uma matéria benfeitinha, etc., entretanto, quando se aventuram no campo da literatura, dão com os burros n’água. Não têm talento para a escrita verdadeiramente literária. Até escrevem uns artiguetes bonitinhos, contudo ficam nisso. Feito minha leitora curitibana.
Repito que a crítica que recebi foi construtiva. Tanto que agora está me rendendo, goste ou não a sinceríssima jornalista, uma nova crônica. Porque até as críticas negativas que a gente recebe podem servir de aprendizado ou aprimoramento. Precisamos apenas aguentar o tranco, assimilar o golpe e tocar o barco. Que a minha amiga não se aborreça ao ler estas páginas a ela dedicadas.
— Vá tomar naquele canto! — não fui.
Imagino que a jornalista há de se reconhecer diante deste texto como se estivesse em frente a um espelho. Mesmo eu tendo lhe preservado o nome e o veículo de comunicação para o qual trabalha na capital paranaense. Talvez ela diga de si para consigo que “quem fala o que quer ouve o que não quer”, como reza o ditado. Mas acredito que ela, bem-humorada que é, levará isso na esportiva e dará uma de suas gostosas gargalhadas ao deparar com esta crônica que me inspirou.
Acho justo lhe render tal homenagem, ainda que se tratando de crítica negativa, embora construtiva. Pois lembro que já escrevi textos referindo comentários elogiosos que recebi de leitores por ocasião de narrativas publicadas no Canal BCS (Blog Carlos Santos) e na Revista Papangu, do Túlio Ratto. Hoje, após a morte dos veículos impressos, a Papangu ressurge em suporte eletrônico.
Pois é, prezado leitor e gentil leitora, fui desancado sem piedade. Entretanto, embora depois eu receba mais uma ligação implacável da minha amiga jornalista, aqui vai outra vez o vocativo que a transtornou. Não interromperei, em virtude de uma só crítica negativa, o meu diálogo com os amigos leitores. Ache ruim quem quiser. Sugiro que minha amiga curitibana vá ler Machado de Assis, Rubem Braga, Antônio Maria e outros ases da crônica nacional. É o remédio.
— Vá tomar!!!… — talvez ela repita.
Marcos Ferreira é escritor
Bom dia, Marcos. Após ler sua crônica, fiquei pensando que para fazer a crítica a que você se refere no texto de hoje, seria necessário ler o que escreve com uma certa frequência. Mas se a forma como você se expressa incomoda tanto a referida jornalista, porque será que ela lê você? Não seria mais simples buscar uma leitura que a agrade?
Bom dia Marcos Ferreira, como bem sabes não domino bem o nosso vernáculo; mas sou tinhoso. Insisto em comentar de enxerido que sou.
Uma coisa estava “entalada”, mencionar o quanto voce demonstra carinho com vossos leitores. A exemplo do agradecimento aos seus “prezados leitores e gentis leitoras”, minha humilde opinião, e isso é verdade, vem a corroborar uma educação sem igual.
Estava eu pensando ontem a noite que poetas, musicistas, cantores, crônistas etc. São seres especiais ou quizar de outra civilização, pois tem a capacidade de nos levar a outra dimenção.
Quanto a jornalista paranaense, manda ela se empansinar de barreado.
Não sei quem é, não quero saber e já não gosto! Kkkk
Um abraçaço extensivo a Natália.
Em tempo: Gentil Crônista Marcos Ferreira.
Prá ela: não bula com os meus que não bulo como seus. Passar bem.
Salve!
Bom dia, caríssimos! Bom dia, meu nobre escritor.
Pessoas de Deus, que crônica! Marcos, você não poderá jamais deixar de nos escrever, as suas crônicas têm um valor desmedido para nós. Eu sei que isso é mais cristalino que a cor do mar, mas eu gosto (sempre) de falar isso sobre sua escrita, no geral . Parabéns mais uma vez pelas exímias palavras. Espero que a senhora jornalista faça um elogio no que tange ao texto de hoje, pois é merecido. Um abraço à querida Natália. Abraço para você.
Bom dia, “Ferreiro”. O “leitor incluso”, graça polifônica q Machado de Assis introduziu no gosto literário do país não é do agrado da sua fidelíssima leitora? “- Que se dane!”, diria Tertinha, minha filósofa amiga das tardes mornas. O artifício da intimidade com o presumível leitor ou leitora é o “gancho” que nos salva o dia. Afinal, de q valeria um bom dia se não ouviremos o eco do nosso coração? Bonjour, meu caro, preciso cuidar do gato q já me bate a porta.
Ouvíssemos, desculpa, leitor amigo de comentários rsrs
Bom dia, Marcos! Gostei da sua crônica. Suas palavras denotam sinceridade.
Olá, Marcos!
Boa tarde!
Quem dera, tivéssemos o dom de agradar a todos de alguma forma… Nem sempre isso é possível! Mas uma coisa eu sei, quando o que escrevo me agrada, consigo um alcance maior! Acredito que contigo também! Continue assim, amoroso, educado e dono de uma escrita refinada que faz gosto ler!
Abraços extensivos a Nathália e um carinho especial na “Gudaozinho”
Caro Marcos Ferreira, parabéns pela singela e diplomática crônica em forma de resposta a dito jornalista curitibana, jornalista está, que embora não possais a minima INFORMAÇÃO, imagino que possa trabalhar na GAZETA DO POVO!
GAZETA DI POVO, atualmente o informativo de extrema direita mais atualmente da República do Paraná.
Aquela, aquela mesma que se notabilizou pelas fraudes processuais, pelas delações premiadas encomendas e, sobretudo pela perseguição e justiçamento implacável aos integrantes do PT e ao LULA!
Dentre os jornais que,embora não insertos no rol de grande impacto e circulação nacional, a GAZETA DI POVO, pode ser considerada a OPUS DEI DO JORNALISMO TUPINIQUIM!
Quanto a dita jornalista, muito provavelmente a mesma está sendo vítima da baixa auto-estima e, consequentemente do ódio do
a si mesma!
Veja-se que, por incrível que pareça,, a Dita jornalista se incomoda com o simples fato de Marcos Ferreira demonstrar empatia e alteridade para com “gentil leitor” em suas crônicas!
Quem sabe, os caminhos do ódio na civilização propostos por Freud e como atualmente eles se apresentam no Brasil atual, não expliquem essa aversão ao outro, de parte da mui digna jornalista da República do Paraná..?!?
Esse fato e (ou) essa característica psicológica atualmente tão em alta no país de milhões de Bolsonaristas ressentidos, frustados e psicóticos a procura de um flash psicológico que os leve a redenção nessa bolha e redemoinho de horrores em que se meteram!
Um baraço
FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO
OAB/RN. 7318
Boa tarde, Marcos! E do limão eis que surge uma bela e doce limonada. Espero que convide seus gentis leitores, para degustá-la. Aplausos, menino poeta! Aceita um abraço das bandas do Norte? Para Natália, um cheiro grande! 👏👏👏👏👏
Interessante como escrever atrai, de quem se julga conhece o ofício
(pelo menos teoricamente), uma ponta de tristeza, para não dizer que sempre a crítica é negativa. Se o cabra escreve ruim pra cacete, este não merece nenhuma linha de resposta; porém, se o cabra tem, na pena, a mágica de interagir com o leitor, ah!, esse então se torna alvo, especialmente, de críticas negativas. Normalmente, tira-se isso, coloca-se aquilo; nunca use isso e, muito menos aquilo. Não sei, mas acho que tem muita gente olhando mais para o outro do que tentando aprimorar aquilo que sabe. Sua crônica, caro Marcos, é boa, levemente sarcástica, com ironia e humor, ingredientes necessários para esse gênero tão gostoso de ler. Parabéns!
Interessante como escrever atrai, de quem se julga conhecer o ofício
(pelo menos teoricamente), uma ponta de tristeza, para não dizer que a crítica é sempre negativa. Se o cabra escreve ruim pra cacete, este não merece nenhuma linha de resposta; porém, se o cabra tem, na pena, a mágica de interagir com o leitor, ah!, esse então se torna alvo, especialmente, de críticas negativas. Normalmente, tira-se isso, coloca-se aquilo; nunca use isso e, muito menos aquilo. Não sei, mas acho que tem muita gente olhando mais para o outro do que tentando aprimorar aquilo que sabe. Sua crônica, caro Marcos, é boa, levemente sarcástica, com ironia e humor, ingredientes necessários para esse gênero tão gostoso de ler. Parabéns!
A crônica CRÍTICA NEGATIVA, do escritor Marcos Ferreira, publicada no Blog Carlos Santos, hoje, domingo, 24/10/21, dá margem a muitas interpretações, conclusões, reflexões, o que mostra o valor do texto.
Digo até que, com base em seu conteúdo, é possível escrever dissertações, teses, tratados diversos, de tão abragente que é o assunto.
O motivo temático, a crítica pela crítica, está tão evidente que chega a ser ridículo.
Como pode alguém ter a ousadia de disparar “vá tomar naquele canto!” simplesmente por causa de uma forma de tratamento de que não gostou?
O autor diz que se trata de uma jornalista experiente.
Experiente em quê? No desrespeito? Na falta de educação? Por oportuno, esse tipo de gente começou a sair do esgoto nos últimos três anos.
“Prezado leitor e gentil leitora”.
O que tem de mau nesse tratamento?
Aí tem rancor, e dos grandes, contra os profissionais do Serviço Social, que costumam fazer a marcação de gênero.
Não tem nada de meloso, cacoete terrível, algo piegas.
Tem tudo a ver com ideologia política.
No fundo, não é o vocativo que está incomodando a experiente jornalista.
As posições políticas são bem mais fortes, principalmente nesta fase de disputa entre o “bem” e o “mal”.
Isso tem cheiro de fascista, que tenta abafar quem lhe é contrário.
Os fascistas não aceitam o outro, notadamente se o outro tem talento. Eles odeiam as boas ideias, os bons pensadores, e não suportam ser contrariados.
Não, não foi a questão do vocativo que tirou a jornalista do sério. O motivo é outro, e bem mais profundo.
É, escrever crônica com conteúdo de caráter social, com conhecimento de causa, incomoda e provoca ódio em quem defende o autoritarismo, a banalidade, o negacionismo.
Ainda bem que a crônica deste domingo é ficcional!
Isso pode, Arnaldo?
Avante, Poeta!
Mais um texto primoroso do Ferreira.
Dessa vez usando espeto de ferro.
Para arregalar os olhares invejosos.
Coloque o nome dela.
Caríssimo,
O “leitor incluso”, recurso utilizado pelo mestre Machado de Assis, estreita cada vez mais a cumplicidade que deve haver entre o escritor e o leitor.
Você emprega este artifício literário como um mestres das letras!
Amei a sua capacidade de receber uma crítica e autoavaliar-se positivamente, você tem bagagem e cabedal para tal!
Grande abraço à espera da próxima crônica!
No dia em que conseguirmos agradar a todo mundo, alguma coisa deve estar errada com nós mesmo. Esta é minha ótica inerente a sua magnifica crônica em tela, esta profissional da comunicação escrita que tentou te atingir, amigo Marcos Ferreira, com certeza deverá estar necessitando de uma boa e longa reciclagem inerente aos conhecimentos dela para só assim poder querer te apontar o dedo, haja vista ela, não deverá ler o elenco de comentaristas que conversam contigo através deste cantinho que o BCS reservou para te, e todos nós que só temos tentado construir momentos bons e amenos para nossos egos e almas.
Acho que criticar com sabedoria faz parte do lado bom da vida positva/negativamente, talvés a jornalista “experiente” que nosso cronista Marcos Ferreira, por educação e ética preserva-lhe a identidade, não conhece um tiquinho do nosso mundo, quem sabe Curitiba não a mereça como filha… aí é outra história! nossos valores, costumes e cultura geral, tenho certeza se encontram acima da crítica chinfrim que a jornalista “experiente” tentou nos impôr através do grande valor da crônica escrita que temos no torrão mossoroense que atende simplesmente e humanamente por MARCOS FERREIRA.
O mais cara jornalista “experiente” bom mesmo para você no momento, é plantar batatas. Vou perder tempo contigo não!
Marcão, inté a próxima. Tornei-me seu tiete, e já é para mim o bastante!!!!
Ixi, ia esquecendo rapaz, sua crônica PAUTA DESAGRADÁVEL na Revista Papangu, tá supimpa.
Caro amigo Marcos Ferreira, todos nós que lidamos com arte estamos expostos a críticas ou elogios. No entanto, devemos ter a madureça e a hombridade para assimilar as tais criticas, assim como o elogio. E dele tirar algum proveito, ou lição… ” O escritor é um aprendiz do seu ofício até que deixe de escrever”
-Jorge Amado