Por Odemirton Filho
Pensava com tristeza na vida. As contas estavam atrasadas, sem data para pagamento. As perspectivas não eram das melhores.
Como trabalhava na informalidade vendendo espetinhos de “gato” e bebidas, por causa do isolamento social não podia exercer a sua atividade. Em tempos normais dava para livrar quase dois salários mínimos por mês.
A mulher e os quatro filhos olhavam-no de soslaio, à espera que resolvesse os problemas. Era arrimo de família. A companheira não trabalhava, apenas cuidava dos afazeres do lar. Mulher minha não trabalha! Gostava de alardear.Os filhos, ainda pequenos, não estavam indo à escola pois, em razão do vírus, as aulas foram suspensas. As professoras diziam que talvez as aulas fossem pela internet. Como se o único celular que possuía era “lanterninha” e não tinha computador em casa?
Com o auxílio emergencial que recebeu do Governo Federal fez uma feira que daria para mais ou menos um mês, somente do “grosso”, ainda era preciso comprar a “mistura”. Os biscates, quando fazia, dava apenas para comprar alguns pães, frutas e verduras.
Tivera sorte. Alguns conhecidos ainda não conseguiram a aprovação para receber o auxílio do governo. Eram os chamados “invisíveis” da sociedade. Para quem realmente necessita tudo é mais difícil.
Dizem que milhares de pessoas que não tem direito ao auxilio emergencial se inscreveram e conseguiram receber, alguns por má-fé, outros porque alguém usou de forma fraudulenta os seus nomes. Um crime! Mas para alguns é o “jeitinho brasileiro”.
Como a vida é desigual, pensou. Ficar em casa é bom para quem pode garantir as suas necessidades básicas. Contudo, para quem precisar ganhar o pão de cada dia é angustiante.
Fique em casa! Dizia o prefeito. Ora! O isolamento social que está sendo feito é “meia boca”, estava cansado de ver pessoas andando pelas ruas e conversando nas calçadas, algumas até sem máscaras.
Alertavam que os hospitais estão superlotados, não há vagas para todos que adoecerem. E quando foi que houve atendimento decente? Pois até para marcar um simples exame sempre foi complicado.
O prefeito dizia que logo iria autorizar o retorno da vida normal da cidade e, finalmente, poderia voltar a trabalhar. Ao mesmo tempo, porém, tinha medo de “pegar” o vírus e passar para a mulher e os meninos. “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.
Enfim, para ele, e milhões de pessoas, era ficar trancado em casa, à espera da ajuda do Governo ou da solidariedade de familiares e amigos. Para outros, o isolamento social era com a despensa e a geladeira cheias e as contas religiosamente pagas.
Apesar de tudo, rogava a Deus que essa pandemia passasse. Era homem de fé.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
Faça um Comentário