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domingo - 28/06/2020 - 08:00h

Desigualdade e isolamento social

Por Odemirton Filho

Pensava com tristeza na vida. As contas estavam atrasadas, sem data para pagamento. As perspectivas não eram das melhores.

Como trabalhava na informalidade vendendo espetinhos de “gato” e bebidas, por causa do isolamento social não podia exercer a sua atividade. Em tempos normais dava para livrar quase dois salários mínimos por mês.

A mulher e os quatro filhos olhavam-no de soslaio, à espera que resolvesse os problemas. Era arrimo de família. A companheira não trabalhava, apenas cuidava dos afazeres do lar. Mulher minha não trabalha! Gostava de alardear.Os filhos, ainda pequenos, não estavam indo à escola pois, em razão do vírus, as aulas foram suspensas. As professoras diziam que talvez as aulas fossem pela internet. Como se o único celular que possuía era “lanterninha” e não tinha computador em casa?

Com o auxílio emergencial que recebeu do Governo Federal fez uma feira que daria para mais ou menos um mês, somente do “grosso”, ainda era preciso comprar a “mistura”. Os biscates, quando fazia, dava apenas para comprar alguns pães, frutas e verduras.

Tivera sorte. Alguns conhecidos ainda não conseguiram a aprovação para receber o auxílio do governo. Eram os chamados “invisíveis” da sociedade. Para quem realmente necessita tudo é mais difícil.

Dizem que milhares de pessoas que não tem direito ao auxilio emergencial se inscreveram e conseguiram receber, alguns por má-fé, outros porque alguém usou de forma fraudulenta os seus nomes. Um crime! Mas para alguns é o “jeitinho brasileiro”.

Como a vida é desigual, pensou. Ficar em casa é bom para quem pode garantir as suas necessidades básicas. Contudo, para quem precisar ganhar o pão de cada dia é angustiante.

Fique em casa! Dizia o prefeito. Ora! O isolamento social que está sendo feito é “meia boca”, estava cansado de ver pessoas andando pelas ruas e conversando nas calçadas, algumas até sem máscaras.

Alertavam que os hospitais estão superlotados, não há vagas para todos que adoecerem. E quando foi que houve atendimento decente? Pois até para marcar um simples exame sempre foi complicado.

O prefeito dizia que logo iria autorizar o retorno da vida normal da cidade e, finalmente, poderia voltar a trabalhar.  Ao mesmo tempo, porém, tinha medo de “pegar” o vírus e passar para a mulher e os meninos. “Se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”.

Enfim, para ele, e milhões de pessoas, era ficar trancado em casa, à espera da ajuda do Governo ou da solidariedade de familiares e amigos. Para outros, o isolamento social era com a despensa e a geladeira cheias e as contas religiosamente pagas.

Apesar de tudo, rogava a Deus que essa pandemia passasse. Era homem de fé.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica

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