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domingo - 14/03/2021 - 10:38h

Diário de um voluntário (III)

Por Francisco Edilson Leite Pinto Júnior

A Covid-19 chegou e eu tive que sair pela porta da frente.

Obeso, hipertenso e com passado de arritmia eram tudo que o vírus, pelo menos naquela época, queria para se propagar. Os 22 anos no Hospital Luiz Antônio (HLA), a maior Escola da Vida que eu frequentei, deixaram muitas marcas.Médco e paciente - Francisco Edilson Leite Pinto Júnior - Crônica em 14-03-2021Ali aprendi que o trabalho em equipe é possível de ser realizado na saúde. Ali aprendi que a morte é uma grande professora para a vida: carpe diem!!!

Ali convivi com pessoas incríveis, que esqueciam suas dores, para aliviar as dores dos pacientes.Ali aprendi que a relação profissionais da saúde-paciente é sempre o maior ingrediente na arte de curar.

Quantas histórias incríveis:

Acabara de receber o plantão, às 07h. Logo fui chamado na urgência. Dona S., portadora de neoplasia de mama, gritava de dor. O marido muito estressado com a situação (e não era para menos), andava de um lado para o outro. Aproximei-me dela, disse meu nome, perguntei o dela, peguei na sua mão e, olhando nos seus olhos, disse:

– “Confie em mim. Vou aliviar a sua dor”. Aí, vendo que ela estava mais calma e o marido também, senti a oportunidade de pedir algo: “Não olhe para camisa do seu marido que a senhora já vai aliviar a dor”… Percebi que o marido olhou-me espantado e disse: “O senhor é Flamenguista?! Pois Doutor, eu vou dizer algo…  se o senhor acha que essa camisa causa dor, imagine a dela?”

Aí foi a minha vez de arregalar os olhos: “Não vá dizer que ela é vascaina?!”

Nós três caímos na gargalhada, ela ria tanto que não conseguia parar. Sim, um casal carioca, ele botafoguense, ela vascaína… Contei que também tinha casado com uma carioca e flamenguista, minha Viviane, e, depois de quase 10 minutos, ela, ainda segurando minha mão, disse uma das mais belas palavras que eu poderia ouvir:

– “Doutor, minha dor passou. Era só medo”…

Sim! Há terapia curativa nas palavras: “Dizei apenas uma e serei salvo”.

E a palavra agora é saudade.

Mas a vida é mesmo assim: dia e noite; não e sim… Heráclito e Demócrito…

Francisco Edilson Leite Pinto Júnior é professor, médico e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Lair Solano Vale diz:

    Com as devidas proporções já vivenciei situações parecidas no Patu.
    Amar o próximo e fazer com os outros o que gostaria que fosse feito a você, esse é o plano.
    DINHEIRO É CONSEQUÊNCIA.

  2. Fernando diz:

    Sensacional!

  3. Q1naide maria rosado de souza diz:

    Que beleza de Crônica. Li, reli, acreditei e amei! Parabéns, Dr.Francisco Edilson.

  4. Inácio Augusto de Almeida diz:

    O amor cura.

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