Por François Silvestre
O pensamento filosófico, que nasceu agregado ao conhecimento científico, foi a primeira rebeldia da descoberta. Do intelecto impondo a luz para romper as trevas.
A cada descoberta de uma verdade nova, uma dúvida era vencida; e um deus abatido em pleno voo caía aos pés do caçador. Assim mesmo, dessa luta temporal entre a sombra e a luz. Uma luta de complementação, não de confronto, como o fazem os pintores.
De início, consciente da ignorância, o homem começou a identificar os sinais da ciência. Num embate em que a dúvida nascia da angústia e desaguava na descoberta.
A ciência é da essência natural, independe da perquirição humana. Porém, foi pela filosofia que o homem enfronhou-se no tecido cognitivo do misterioso mundo científico. Desfraldando a bandeira do conhecimento pelo aceiro da sua franja.
Da lição inesquecível de Teilhard de Chardin: “Deslocar um objeto no tempo, para trás, equivale a reduzi-lo aos seus elementos mais simples. Seguidas tão longe quanto possível na direção da sua origem, veremos que as últimas fibras do composto humano confundem-se com o próprio estofo do Universo”.
Chardin, padre e filósofo, perseguido pela intransigência canônica da sacristia, veio da origem filosófica de Aristóteles, e fez conexão de voo com Thomaz de Aquino. Todos construtores em cadeia, numa corrente de elos presos pela sabedoria do invisível. A invisibilidade infinita de cognição quase inalcançável, na presença universal do Cosmo.
Para Thomaz de Aquino o Universo é criação de Deus. Para Teilhard de Chardin o Universo se cria, sob a regência de Deus. E continua sob permanente autocriação. No contorno de um invólucro infinito; “sistema” pela multiplicidade, “totum” pela unidade e “quantum” pela energia.
Para os filósofos clássicos, de onde vem Aristóteles, o conhecimento é a própria criação. Dado que no escopo do conhecer pode-se aferir que até os macacos intuem que o “conjunto das bananas maduras é menor do que o conjunto das bananas”.
O primeiro conceito da palavra Deus, do protosemitico ao sânscrito, não significa aquele que cria, mas aquele que fala. “O princípio era o Verbo”…
Nós evoluímos em tecnologia, no último meio século, mais do que nos últimos quinhentos anos. Contudo, involuímos intelectualmente mais de um milênio.
Vivemos o tempo da involução pensante. Enquanto as máquinas que criamos aprimoram-se, o nosso cérebro criador regride. Tempo de embrutecimento humano, pobreza cultural, imbecilização política, feiura esportiva.
A ausência do pensar filosófico, dos tempos de hoje, implantou o reino da mediocridade. O convencimento foi substituído pela imposição. A vocação deixou de ser um impulso do talento para acomodar-se às cobranças do mercado.
Os filósofos medicaram a humanidade contra a estupidez, mas o medicamento perdeu a validade. Urge nova drogaria na caverna de Platão. Té mais.
François Silvestre é escritor
* Texto originalmente publicado no Novo Jornal.
Como sempre, vindo nosso François Sivestre, perfeita a síntese e o brilhante significado do escrito com que nos brinda o articulista, acerca do histórico(tendo o bicho homem como figura central) “embate” temporal entre as trevas e a luz.
Como diria o crítico inglês Harold Bloom, sem dúvida que vivenciamos manifesto apagão cultural;. Nesse contexto a fuga dos homens em dieção às máquinas e o desapego à concenciosa leitura, deveras resulta um desalento, pois que, reverbera exatamente no esquecimento, para não dizer no repúdio ao exercício do pensar e refletir quanto a importância e o signifado da filosofia, a qual, em tempos idos tinha deveras sua primordialidade existencial.
Infelizmente, conxtextualizado o momento, o que vemos na educação é o contrário disso: Quando do repúdio à filosofia nas grades curriculares, além de projetos e reformas atabalhoadas, rascunhados às pressas e não debatidos com a sociedade (como a Medida Provisória 746), foco em questões eminentemente jurídico-políticas (como o projeto Escola Sem Partido) ou, ainda, reações ad hoc aos rankings anuais. Sem uma visão abrangente sobre a educação no país, continuaremos encontrando, à la Sísifo, os mesmos problemas.
Uma tal visãomedíocre…Mediocrizante,muito embora não possamos desconsiderar a importância das dimensões econômica e jurídica, tampouco pode se deixar reduzir a elas. O desafio é equacionar e equilibrar o conflito de racionalidades inevitável em qualquer aspecto social complexo.
Nisso tudo, para que possamos escapar desse destino tão cruel quanto absurdo, não podemos renunciar a pensar para além do amanhã e planejar o futuro. Desatar o nó górdio do (sub)desenvolvimento brasileiro exige mais do que encontrar um colete salva-vidas.
A alternativa? Seguir empurrando pedras encosta acima, melhor traduzindo…Tentar incultir nas pessoas a importância e a responsabilidade do quanto oportunizar informação e ducação de qualidade. Pois só assim, quem sabe, possamos no porvir tirar o conjunto da sociedade do estuário da mediocridade, através do oxigêncio da leitura e do conjuntoda filosofia aplicada, aos que historicamente foram jogados ao eterno exercício do advinhar as sombras das figuras da caverna de platão.
Um baraço
FRANSUÊLDO VIEIRA DE ARAÚJO.
OAB/RN. 7318.
François Silvestre. Não posso fazer mais elogios do que já fiz.
Há uma pergunta que não quer calar. Onde estava você no meu passado? Por que fui conhecê-lo no outono de minha vida?
Poderia ter usufruído de sua inteligência há mais tempo. Mesmo que eu não concordasse, numa pequena hipótese, com algum pensamento seu, ainda me restaria a chance de aprecia’-lo.
Naide, eu que lamento não tê-la conhecido. Se adivinhasse, teria pedido a Dix-Huit, na última vez que estive com ele, para nos apresentar. Saudade!
Ops! Esqueci de ir às lagrimas.
– BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ! BUÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!
João Cláudio.
Não entendi as suas lágrimas. Se, por acaso, foram provocadas pela minha troca de mensagens com François Silvestre, recolha-as. “Não chore por mim “argentino”… ”
Sou estudiosa, independentemente de minhas ocupações. “Não sou grande nem importante…”, mas sei apreciar a inteligência alheia. Tento assimilá-la, aproveitá-la, tornar-me mais conhecedora do mundo, mesmo que através de olhos alheios.
A busca por um universo mais amplo não merece choro, merece respeito.
Naide, Dix-Huit Rosado foi um ser humano ímpar. Orador excelente, nunca fez concessão à demagogia. Parlamentar, honrou o Rio Grande do Norte. Administrador de Mossoró, é ainda hoje um exemplo a ser imitado. Ainda não alcançado. Seus discursos beiravam as lições filosóficas, com a profundidade da singeleza. Sua dimensão humana faz falta. Sua cultura humanística, também. Mas, vivemos no tempo da graça do rincho. fazer o quê?
Prezada Naide Rosado, caro François Silvestre.
Nem uma coisa, nem outra. O fato de eu ter ”chorado”, foi com relação à frase de Naide Rosado ”Onde estava você no meu passado? Por que fui conhecê-lo no outono de minha vida?”
Lamentei a não aproximação dos dois no passado através do ”choro”, assim como poderia ter lamentado através de uma gargalhada. Hilário, apenas.
Creio que Naide Rosado não percebeu que, a frase que abre o meu comentário, ”Ops! Esqueci de ir às lagrimas”, sugere que, antes desse comentário, existiu um comentário anterior. Releia e analise, por favor.
O comentário anterior (não publicado), não passou de uma brincadeira onde eu lamentei vocês não terem se conhecido no passado, e concluo com a musica “A Time for Us”, tema do filme Romeu e Julieta. Hilário, apenas hilário. Nada pessoal ou que ofendesse suas honras.
Em seguida, fiz o outro comentário ”Ops! Esqueci de ir às lagrimas” o qual gerou esse mal estar.
Eu não ofendi os Senhores. Tudo não passou de um mal entendido, de uma frase mal interpretada, de um ”choro” sem lagrimas, na hora errada e no lugar errado. Creiam e me desculpem pelo mal estar causado.
François Silvestre.
Obrigada pelas palavras sobre Serra Grande, meu pai. Obrigada por serem suas essas palavras. Valorosas!