Por que é tão difícil se discutir programa de governo numa campanha municipal de Mossoró? Essa pergunta faz parte de nossas pautas à cada corrida eleitoral e, sempre ao fim da disputa, fica a sensação de que nunca o vencedor esteve preocupado em fazer algo, mas apenas em vencer.
O ‘marketing eleitoral cosmético’, que é feito para enganar, é sempre mais relevante no processo eletivo, a partir da foto oficial do disputante. Com ele, a mentalidade de se triunfar a qualquer custo (aqui, no sentido financeiro e da ausência de caráter).
Infelizmente, Mossoró não é pensada para ser um lugar melhor para se viver e se produzir. A Prefeitura não funciona para tratar os desiguais na medida de suas desigualdades, zelar pela ‘res publica’ (coisa do povo, em latim) e ser eficiente.
Existe uma pressa frenética em se conquistar e se manter o poder, em vez de se considerar que esse ganho talvez seja até mais fácil de se obter, com uma gestão competente.
A retórica da enganação, a promessa da empulhação e as realizações de fachada e eleitoreiras, acabam determinando o que é prioridade e o que não deve passar de propaganda da tapeação.
A cada campanha, outra vez surgem o messianismo, a falácia, a mentira e a garantia de reconstrução disso ou daquilo. Ufanismo, promessas vãs e demagogia compõem um enredo imutável.
Mossoró não oferece o básico para seus munícipes. Não trata com generosidade mínima quem aporta aqui todos os dias, aos milhares, em busca de serviços de saúde, educação e outras necessidades, também em seu comércio e indústria, lazer etc.
Promessas vãs
Toda campanha avisam que o rio Mossoró será limpo, que irão duplicar a Avenida Francisco Mota etc. É certeza que não vão faltar médicos, remédios e atendimento cordial no sistema de saúde pública. Criam intimidade com a palavra honestidade e dissertam sobre transparência.
O município transformou-se num polo acadêmico com mais de 22 mil estudantes em universidades e faculdades, virou um núcleo de saúde – inclusive com três faculdades de Medicina. É a principal referência urbana e de negócios numa região de mais de 1 milhão de habitantes, com influência no Vale do Jaguaribe (Ceará), Vale do Açu, Costa Branca, Sertão Central, Médio e Alto Oeste, além de conexão com sertão paraibano.
Temos potencial econômico ainda com o petróleo, calcário, fruticultura, indústria da castanha, criação de bovinos, caprinos e ovinos; carcinicultura, sal, riquezas inexploradas das águas-mães e formatação de polo cloroquímico. Poderíamos ser um polo calçadista, cerâmico, têxtil. Temos meios para atração de público com o turismo cultural, de eventos e religioso.
A inteligência das academias pode gerar ambiente para multiplicação de milhares de pequenas empresas voltadas à alta tecnologia. As energias limpas têm espaço e poderiam ter mais incentivo e meios à expansão em seu território.
O potencial é enorme e incomensurável. Parte dele, por exemplo, foi apresentado num amplo e denso estudo no início desse século, trabalho realizado pela empresa de consultoria Natrontec, que levantou viabilidades econômicas de Mossoró e região. Quase ninguém deu atenção a essa bússola para o desenvolvimento, inclusive a prefeita da época, Rosalba Ciarlini (PFL, hoje no PP).
E daí?
“Comprometo-me mais uma vez a reconstruir e transformar a nossa Cidade de Mossoró, para possibilitar a sua volta aos patamares de desenvolvimento já alcançados em nossas administrações e ir além, por meio de uma gestão que primará, sobretudo, pelo bem-estar do cidadão mossoroense”. Sabe quem deu essa garantia? A atual prefeita Rosalba Ciarlini, em 2016.
Agora, em 2018, é candidata à reeleição com a promessa de “fazer a melhor administração” de sua vida.
O único trecho verdadeiro de suas declarações, que apresentaram seu programa de governo àquele ano, é esse preâmbulo em negrito, marcado no parágrafo acima. Foi mais uma promessa, outra vez falando em reconstrução, inflando o próprio ego e exercitando a mitomania.
DEPOIS DE PASSAR PELO GOVERNO DO RN como a pior governante do país, Rosalba retornou à prefeitura com o discurso de sempre. Quem leu seu programa de governo? Quem se deu a esse trabalho? Quase ninguém, claro. Mas se alguém resolver fazê-lo hoje, com um pingo de visão crítica, logo terá um choque.
Nepotismo, empreguismo, aumento expressivo do endividamento público, falta de transparência, comprometimento previdenciário, relação conflituosa com servidores, atrasos contínuos em pagamentos a prestadores de serviços e fornecedores, infraestrutura precária, ausência de fomento à atividade produtiva, deficiência em transporte público, sistema de saúde onde falta desde insulina a gazes, além de não ter praticamente nada que enxergue Mossoró para o futuro, é o conjunto da obra real que a propaganda oficial esconde.
Quando deixou a prefeitura para o sucessor Dix-huit Rosado, após seu primeiro governo (1989-1992), Rosalba tinha uma Mossoró com pouco mais de 192 mil habitantes. Passados 28 anos, é um município com mais de 300 mil pessoas (além de população flutuante expressiva).
O maior território do RN, com 137 comunidades rurais, é vítima da favelização, possui um aterro sanitário saturado, lida com grande violência urbana e no campo, saneamento e drenagens aquém de suas necessidades, está afetado por perdas econômicas expressivas – como o desinvestimento da Petrobras -, fechamento de indústrias e comércios, e sem um planejamento capaz de reconfigurar e potencializar sua economia, enxugar a máquina pública e melhorar a qualidade de vida do seu povo.
Coloque ainda no débito, um aeroporto fechado, transporte público pífio e até cemitérios públicos lotados.
Convive com um Plano Diretor ultrapassado, que chega a ignorar até mesmo corrosivas indústrias de moagem de sal no centro da cidade. Não preparou seu Distrito Industrial para abrigar com o mínimo de estrutura, quem pense em se instalar. É desbravador investir na área que já precisaria de maior espaço.
Qual o programa de governo para os próximos quatro anos? Quem tem o que oferecer de verdade, como objeto de estudo e factível, capaz de sair dessa fanfarrice? A imprensa, em seu papel de informar e formar, deve explorar o tema e rebobinar o que já foi prometido, confrontando passado e presente, para podermos enxergar o futuro.
Entidades de classe precisam se envolver num debate, sem compadrio ou facciosismo partidário e conveniências particulares. Os colegiados de controle social vão funcionar agora? As universidades e faculdades não podem assistir a tudo passivamente.
O cidadão comum, esse, coitado, não deve entender nada disso que estamos postando e acha tudo uma chatice. Nem quer saber de nada mesmo. Com certeza, só leu o título ou no máximo o primeiro parágrafo desse material. Não por acaso, que esse modelo de política e de político continua se dando bem. A cidade, o município, o povo e a prefeitura que se lasquem.
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A matéria é impecável.
Parabéns!
É de cortar no coração quando observamos as potencialidades de Mossoró e percebermos a falta de um plano de desenvolvimento por parte do grupo que governa Mossoró a décadas.
Somos superiores em potencialidades e estamos inferiorizados economicamente a cidades como Feira de Santana, Campina Grande, Caruaru, Petrolina, Juazeiro do Norte e em breve seremos ultrapassados por Parnamirim e sobral.
O que falta acontecer mais para realizarmos uma mudança de comando?
ACORDA, POVO DE MOSSORÓ!
Análise perfeita. Um texto denso que demonstrou com propriedade a nossa
triste realidade. A Mossoró real é bem diferente da retratada pela prefeitura.
Pena, meu caro, que a demagogia e a retórica vão prevalecer. De novo.
Você é foda.Se superou,disse tudo,grande matéria.
NOTA DO BLOG – Bom dia, meu irmão. Vou me organizar para estar aí. Vamos dar uma força ao Guanabará de Willana Dantas.
Vamos botar a prosa em dia, quando esse tempo carregado aplacar.
Obrigado pela força e um abraço de cotovelos.
Inté
Parabéns Carlos Santos pelo brilhantismo de sempre, essa matéria disseca uma mossoró real da mossoró ilusionária divulgada nos comerciais e publicidades, precisamos avançar no desenvolvimento de uma cidade tão bem localizada geograficamente, o que poderia ser um motor para o desenvolvimento, e não é isso que vemos, e agora depois do desinvestimento da Petrobrás, que jorrou royalties por anos a fio nessa terra, que deveria ter melhor se equipado para o desenvolvimento econômico (que o diga o distrito industrial de pouquíssima expressão…), ainda piorará o quadro que aí está, eis uma triste realidade. A iniciativa privada é que ainda mantém a chama viva dessa cidade!
Pura e verdadeira realidade.
Ainda estou sentado na calçada aqui de casa esperando a “metrópole do futuro” passar por essas bandas… Não entro “dendicasa” nem pra mijar!!!
…Era o ano de 1979, eu estudava na E. E. Moreira Dias e fazia Educação Física lá na R.F.F.S.A., onde havia, além daqueles velhos galpões, uma quadra e um campo de futebol… Mas por que eu estou dizendo isso? Pois bem, quando chegávamos bem cedo para as aulas, lá dentro daquele enorme terreno sempre estavam alguns caminhões que eu achava muito bonitos, não só os veículos, como também o nome da Empresa estampado, que eu, ainda ‘desbravando’ a quinta série, sofria pra ler: SCHLUMBERGER, que nome lindo, mas eu não fazia ideia o que eram aqueles caminhões tão bonitos e diferentes!
Passados todos esses anos, hoje eu sei que naquelas máquinas haviam modernos computadores que faziam perfilagem de solo para prospecção de petróleo, e que aquela empresa era (e ainda é) uma das maiores do mundo nessa área… Era o PETRÓLEO que estava sendo descoberto em nosso solo… Era a PETROBRAS chegando e trazendo junto um enorme potencial de desenvolvimento e riquezas. As perspectivas eram de que o progresso havia chegado para nossa querida “terra de Santa Luzia”! Mossoró jamais seria a mesma depois da chegada daqueles caminhões azuis bonitos e com aquele nome esquisito! Como diria o saudoso Emery Costa: lá se vão 41 anos direto do túnel do tempo…
Então, e a SCHLUMBERGER? E a PETROBRAS? Pois é, se foram… E as riquezas? E o desenvolvimento? Bem, buracos ao redor de Mossoró eu sei que elas deixaram aos montes. Riqueza e desenvolvimento também tenho certeza que deixaram, não pra Mossoró, talvez para seus “donos”…
Mas, como diz o “velho deitado”: cada povo tem a rosa que merece!!!
Avaliação perfeita de uma Mossoró do passado, presente e ” sem futuro ” .
Carlos Santos. Você montou um excelente programa de governo. Se cobrado, com certeza a Rosa executará. Não tenho dúvidas. Mas, de fato, cada povo tem a Rosa que merece porque ao invés de cobrança efetiva, todos querem é ocupar a prefeitura. Não existe Corpo Político. Existe o desejo extremo de Poder. São cinco ou seis flores menores, por melhores que sejam, contra uma Rosa. Se as flores se unissem em nome de uma única, haveria embate. Agora, um bouquet, mesmo bonito, desfaz-se , murcha, diante de uma Rosa.
Se cobrado, com certeza a Rosa executará. Dona Naide Maria, eu já vi muita gente com fé, agora, igual a senhora estou por ver.
MDM, é verdade! Presenciei dois milagres em minha vida. Sim, vi o acontecimento dos dois. Não me contaram. Ainda estou em dívida com a bondade divina.
Dona Naide, bom dia. A senhora nao vê problemas na gestão da prefeita Rosalba? Seria capaz de apontar pontos que considera mais fracos, fazer alguma critica , ou para a senhora a gestao é perfeita e nao precisa de reparos?
Inácio Rodrigues, boa tarde. Sim, vejo. Vejo problemas em todo o Brasil. Fomos vilipendiados e até a recuperação vamos trilhar caminho árduo. A minha maior preocupação, Inácio, é com a saúde. Isso me fere, ainda mais levando em conta a Covid-19 que nos ronda cruelmente.
Gostaria de apontar uma gestão excelente, mas não conheço. Lamento a falta de honra e dignidade em muitos gestores e auxiliares que se aproveitam até da pandemia e se locupletam.
É triste os Rosados esse tempo todo enganando os mais desprovidos de conhecimento para se perpetuar no poder com apoio de bajuladores, por isso nunca passaremos de uma província!