Por Marcos Ferreira
Hoje me ocorre dizer que escrevo não por talento, mas por necessidade. Uma necessidade, contudo, no sentido de complemento de minha existência. Digo isto sem sugerir ou reivindicar para mim qualquer espécie de nobreza ou excelsitude. Não se trata disso.
O que me motiva a redigir, entre outros aspectos, é sobretudo o fato de que não aprendi a fazer outra coisa com mais desenvoltura que lidar com palavras. Não estou insinuando, vejam bem, que sou um craque das letras. Bem ou mal, porém, o que me sinto mais apto a realizar é esta valsa com nossa língua portuguesa.
Então, mesmo ciente de minhas limitações e pouco brilho, tal constatação afirmo sem falsa modéstia, escrever me restitui certos valores e posses que o mundo me negou. Outro detalhe é que não envergonho a língua portuguesa, não pisoteio sobre nosso já tão massacrado idioma. Quem se mete e se declara escritor deve (tem a obrigação) de conhecer e respeitar a própria língua. É o que eu penso.
Um literato que desconhece sua língua é como uma ave implume: até almeja e sonha com altos voos, mas não consegue ir a lugar nenhum. Eu, cujas asas e as penas não são as de um albatroz, por exemplo, aprendi ao menos a sobrevoar os melhores expoentes, os mestres do ofício da palavra escrita. Não vou deitar aqui uma listinha desses nomes tão consagrados quanto batidos, ademais não é possível decolar para o céu da grande literatura sem conhecer certos autores e obras, nacionais quanto estrangeiros. “Que rapazinho pedante”, talvez alguém assim me classifique.
Rabiscar, acreditem, digo escrever literatura, requer algo mais que boas intenções e autoridade curricular, estofo acadêmico e títulos outros. Felizmente isso não é uma regra. Porque textos que não são puramente literários (digo literários no sentido de artísticos) têm seu relevo e grande importância. Imaginem que saco seria a escrita cravejada apenas com poesia, contos, crônicas, romances, etc.
Nem oito nem oitenta. É verdade, todavia, que a cada rede social que se passa as pessoas (salvo exceções) estão se divorciando da maneira correta de escrever. Muitos dão coices e patadas violentíssimos no léxico. Sei que este é um assunto chato, pois é uma forma de colocar o dedo na ferida de muita gente, no entanto não sei onde vai parar a pancadaria sobre a língua de Camões e de Machado de Assis. De minha parte, pelo prazer e respeito ao nosso idioma, continuo tentando errar o menos possível quando rascunho, por exemplo, uma página de arriscada como esta.
Redigir, menos por talento que necessidade, é meu barato, meu ópio, meu fraco, minha onda e o meu vício. Decerto um leitor mais atento, ou menos discreto, vai colocar o lápis sobre determinada falha desta crônica um tanto quanto pretensiosa. O tal leitor, cheio de orgulho, dirá assim: “Olha só, falando de quem escreve mal e aqui está um erro dele”. Ainda que seja um mero deslize de digitação.
Escrever com certo talento ou arte, agora chovendo no molhado, é impossível sem que o sujeito antes adquira um bom cabedal oriundo dos autores e de suas melhores obras. Não. Sem isso não dá. Como se diz, é colocar o carro na frente dos bois.
Eu prometi que não vou expor aqui nenhuma listinha de grandes vultos da literatura estrangeira ou nacional e vou cumprir a promessa. Porque sempre é um risco, além de ostentatório, desfilar medalhões das letras, quer daqueles que já foram “estudar a geologia dos túmulos” ou dos que estão neste plano terreno e em atividade.
Torço que embora nesta crônica prolixa o rigorosa o leitor consiga encontrar algum prazer ou vestígio de arte literária. Porque o que tem para hoje é isto. Quem sabe na próxima semana, aqui neste mesmo Canal BCS, blog este onde tenho vivido a aventura de escrever semanalmente, eu lhes traga um assunto menos resmelengo. No mais, repito, escrevo menos por talento que por necessidade.
Marcos Ferreira é escritor
Feliz Ano Novo a todos! Amigo Marcos, permita-me chamá-lo assim e, em seguida, discordar, pelo menos em parte o que descreve o texto de hoje: nem de longe falta-lhe talento em escrever. Ao contrário, você consegue tornar interessante qualquer tema! A necessidade poderia tê-lo levado a outra área, contudo sempre brota da pessoa o que ela faz de melhor. Não é demérito! Você nasceu pra isso. Limitações todos nós encontramos na nossa trajetória! Que bom que você não se desvinculou de sua verdadeira vocação! Hoje alegra as manhãs de domingo dos que o acompanham! Domingo sem crônica fica meio que apagado! Concordo que as redes sociais e a escrita suprimindo vogais e abreviando palavras, tem sido um desafio para a minha compreensão: prefiro palavras escritas com todas as letras! Então, para resumir, você é nota dez! Escreva, escreva e escreva! Não seja modesto! Colha o que planta continuamente! Abraço!
Prezada Bernadete Lino,
Boa tarde.
Contar com sua leitura ao longo desses domingos é sempre um ponto instigante e compensador. Forte abraço e próspero ano-novo para você.
Bom dia Marcos, Carlos Santos e todos da página.
É Marcos, parece que há um chamado, uma coisa até parecendo transcendental, que nos chama a escrita. Se a tinta sai da cabeça, parece que antes corre pelas nossas mãos, antes do pulsar do coração e inicialmente da nossa mente que as vezes até mente, mas não mentir para ser mentira, mas para nos encantar e entrar num universo que os poetas, os profetas, os que são capazes de ter sensibilidade pela vida e a transformar em palavras!
Feliz Ano Novo meu amigo e nunca falte paz e saúde neste ano que começa hoje!
Caro professor Tales Augusto,
Boa tarde.
Que surpresa boa esta sua presença no Blog Carlos Santos, especificamente no espaço reservado à opinião dos leitores. Torço que nos prestigie mais vezes.
Forte abraço e um feliz 2023.
Dizem que o costume é o que mata. Pois se assim for então estou fadado a “morrer” periodicamente aos domingos aqui nessa coluna. Diria mais: aprendo. Parabéns!