Por Inácio Augusto de Almeida
São sonhos de criança. Sonhos de uma época em que tudo era possÃvel.
A brisa que entra pela janela chega a incomodar. Reluto em levantar-me, mas é preciso fazer a caminhada matinal, afinal, prescrição médica não pode ser postergada assim sem mais nem menos. Mas que dá uma vontade danada de continuar curtindo esta preguiça…Em vão procuro os chinelos, os óculos eu sei que estão na mesinha de cabeceira que alguém inventou chamar de criado mudo.
Chego até a porta e vislumbro a vista maravilhosa. Lá embaixo, as ondas se quebram e com suas espumas brancas colorem as areias finas e claras da praia. Respiro fundo, respiro o ar que posso respirar. Afinal, foram mais de 40 anos de cigarro.
Andei por este mundo de meu Deus, cruzei muitas fronteiras, ia e vinha, sempre sem pressa de ir, sempre desesperado por voltar. E sempre com a esperança de um dia voltar para não mais ir.
Grande foi a alegria ao conseguir o cantinho onde ficar definitivamente. E no local mais do que sonhado.
Mossoró.
Não, não dá para esquecer o primeiro dia em que ao despertar fiquei com medo de chegar até a janela e descobrir que tudo podia apenas ser um sonho. Hoje rio destes pensamentos. Quando se deseja ardentemente uma coisa, quando se ama desesperadamente algo, somente lentamente é que nos convencemos de que a realidade é a que está à nossa frente. Até parece que nascemos para sofrer, já que assimilamos rapidamente como real o que nos magoa e levamos algum tempo para incorporar o que nos dá prazer.
É perÃodo de férias e estou em Tibau.
As areias finas no contato com os meus pés causam algum barulho, uma espécie de chiado. É gostoso caminhar descalço. É como se uma massagem estivesse sendo feita nos pés. Acho que é uma massagem, sim. E a melhor de todas, pois a massagista é a senhora natureza.
De volta da caminhada, a grande rede na varanda, o bom livro de algum poeta que sabe, de verdade, fazer poesias. Da cozinha vem o bom cheiro do camarão aferventando. Na geladeira o vinho de uma boa safra. Depois a rede na varanda.
E com o embalo que o vento dá na rede, difÃcil manter os olhos abertos. O barulho das ondas no seu vai-e-vem soa aos meus ouvidos como uma canção de ninar.
E assim a tarde se vai lentamente, cheia de preguiça, indo com vontade de ficar.
Na linha do horizonte o sol, entre nuvens vermelhas, inicia o seu desmaio diário e começa a mergulhar nas águas transparentes da linda praia.
A luz da lua toca os meus olhos. Um convite a olhar o enorme espelho que forma ao se refletir no mar.
Na praia casais namoram. Estão preocupados com a preservação da espécie. Traçam planos…
Existe lugar melhor para o amor? A lua, a praia, o barulho do mar, a beleza das alvas areias da mais bela praia do mundo…
Obrigado, meu Deus. Eu não merecia tanto.
Inácio Augusto de Almeida é escritor e jornalista
O texto é leve, as palavras suaves. Quando se vem da alma, encanta.
Parabéns, mais uma vez, pelo escrito.
Odemirton revela uma sensibilidade acima do comum. Percebe facilmente que tudo que escrevo é com o coração. Quando faço estes textos a minha alma explode.
Carlos Santos o tÃtulo nao seria ocaso?
NOTA DO BLOG – Foi o que entendi na hora de editar.
Aguardar o autor se pronunciar.
Fiquei em dúvida
Ocaso pelo entardecer e O caso pela descrição na demora do entendimento do que nos dá prazer. Parabéns sr. Inácio!Crônica suave, possÃvel desfrutar momentos tão bons!
A fulgurante inteligência da senhora Naide Maria Rosado de Souza conseguiu ver além.
O tÃtulo é OCASO.
A senhora Naide captou também a outra mensagem.
Hoje não sei se o tÃtulo deve ser mudado.
OCASO ou O CASO.
Que o leitor decida.
O autor tem se superado semana a semana! Excelente texto!
Fico feliz em saber que meus textos são lidos por pessoas altamente qualificadas.
Muito obrigado.