domingo - 08/03/2015 - 09:44h

Para que servem as palavras

Por Honório de Medeiros

As palavras valem também para isso, dar alguma existência aos nossos delírios.” (Raduam Nassar, em  “Cantigas d’amigos”, Cadernos de Literatura Brasileira, Ariano Suassuna)

Ariano, entrevistado pelo Cadernos de Literatura Brasileira diz, em certo momento: “não sou um escritor de muitos leitores; costumo dizer que sou um autor de poucos livros e poucos leitores -, (…) Mesmo que eu não publique, tem um círculo de leitores que sempre lê o que escrevo.”

Retruca o Cadernos: “Este é um circuito antimoderno, o circuito da comunidade interessada.”

Assim é, assim será, dado o caráter dos tempos atuais, no qual a imagem evanescente e superficial é tudo e as palavras, quando delírios, manjar para poucos. Aqui a palavra é arte.

Relendo “O Crime do Padre Amaro” do imenso Eça, lá encontro essa idéia pela voz do seco Padre Notário:

– Escutem, criaturas de Deus! Eu não quero dizer que a confissão seja uma brincadeira! Irra! Eu não sou um pedreiro-livre! O que eu quero dizer é que é um meio de persuasão, de saber o que será passa, de dirigir o rebanho para aqui ou para ali… E quando é para o serviço de Deus, é uma arma. Aí está o que é – a absolvição é uma arma.

Recordo que dizia para meus alunos de Filosofia do Direito ser a confissão um inteligente serviço secreto, a serviço da aristocracia, para a manutenção dos interesses de classe.

A palavra: arte ou instrumento. Às vezes tudo isso ao mesmo tempo. Não somente a palavra escrita, mas também a falada, dá existência aos nossos delírios.

Natal, em 7 de março de 2015.

Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    “Recordo que dizia para meus alunos de Filosofia do Direito ser a confissão um inteligente serviço secreto, a serviço da aristocracia, para a manutenção dos interesses de classe.”
    FOI!
    Quem nos dia de hoje que no confessionário vai além do DESEJEI MAL AO PRÓXIMO?
    Nem mesmo que desejaram a mulher do próximo eles confessam.
    Dá para imaginar um prefeito corrupto dizendo que só paga ao fornecedor da prefeitura se receber 30% de propina? Dá para imaginar um edil dizendo que fez um empréstimo já na intenção de não pagar as prestações?
    Há muito deixou a confissão de ter qualquer serventia para as classses dominantes.
    Daí o declínio do poder clerical.
    Duvido nos dias de hoje um confessor ter o poder de conseguir navios para uma empreitada arriscada como a de Colombo, coisa que o Frei João Peres de Marchena conseguiu com a Rainha Isabel, a católica, com uma simples carta. Hoje consegue, quando consegue, apenas a promessa da construção de templo religioso com dinheiro público, mas na promessa a coisa fica.
    Alguém tem alguma dúvida que o confessor conhecia o lado oculto da Rainha? Quem sabe se a isabel, a católica, não tinha o hábito de fazer empréstimo e se escamar de pagar as prestações, coisa que o Frei lembrou na carta…
    Como hoje os tempos são outros e os confessores de nada mais sabem, sem medo de errar digo que a confissão já FOI um instrumento de poder.
    /////
    QUANDO SERÃO JULGADOS OS RECURSOS SAL GROSSO?
    QUANDO A OPERAÇÃO VULCANO, PROCESSO JÁ CONCLUÍDO, SERÁ JULGADA?
    O UNIFORME ESCOLAR NÃO FOI ENTREGUE EM MOSSORÓ.

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