Por Honório de Medeiros
Paulo Maia dizia que era baixinho por minha culpa: eu tinha roubado o leite dele, quando recém-nascido.
Tudo porque eu nasci três dias depois do 23 de abril de 1958, no qual ele veio ao mundo, ambos na Maternidade Almeida Castro, em Mossoró.
Como mamãe não conseguia matar minha fome com seu pouco leite, valeu-se da generosidade da mãe dele, Manolita Pereira, que nos alimentou.
Manolita diz que é minha mãe de leite. Eu respondo, sempre respondi, que eu e Paulo tínhamos que ser irmãos, estava escrito no livro da vida, e beijo a mão dela, reverente.
Entre idas e vindas, altos e baixos, seguimos próximos vida afora, sempre próximos. Amigos desde a maternidade.
Ontem (05/01/2023 – veja AQUI), eu lá pelas bandas de São João do Sabugi, muito longe, em busca das misteriosas raízes genealógicas do meu avô paterno, acordo cedo, abro o celular, e leio a notícia de sua morte.
Um baque. Boto o carro na estrada e venho mudo, de lá até Mossoró, rasgando o centro do Estado, percorrendo um mundão de terra.
Uma espécie de solidão amarga, ensimesmada, uma onda de tristeza que teima em vir, toma conta da gente. Sensação de impotência. Solidão, tristeza e impotência.
Falam que há conforto na partida de alguém que lutou bravamente por dois anos contra essa maldita doença cujo nome, amedronta tanto, que o abreviaram.
Pode ser. Sei que lutou ele, a esposa, filhos, a família toda, os amigos, os amigos dos amigos. Rezamos muito. Luta vã. Que seja feita a vontade de Deus.
Descansou, então, e por fim.
E a saudade?
Paulo, você se lembra daquele dia no qual Antônio de Bé nos levou em sua jangada, começo da madrugada, para além da última visão de terra, como companheiros de pescaria?
Lembra das tardes de cerveja e Belchior, lá no Asfarn, em Natal?
Lembra dos veraneios em Tibau? Do jipe, das meninas, dos amigos comuns, das pescarias no Arrombado?
Do Diocesano e da turma da quarta série ginasial de 1972?
Lembra como decidimos, junto com Delevam, quem seria o padrinho de Paulinha?
Lembra daquele dia no qual fomos barrados na ACDP?
Lembra daquele dia… melhor não contar, não é?
Ê Paulo, são tantas e tantas memórias. Um dia eu conto para meus sobrinhos! As que eu puder, claro.
Ei, Paulo, aguarde aí. Um dia, chego.
Descanse em paz, meu irmão.
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Governo do RN
amigo Honorio nesse encontro so faltou minha pessoa ,nem fui avisado.Um abraço de Joao Fernandes da costa Filho.Sempre estudei com essa turma e disputava com Paulo maia o primeiro lugar da sala,lembra
Lembro, meu amigo João Fernandes. Não recordo quem ficou responsável por reunir a turma. Lamento muito sua ausência. E a de todos os outros que não foram chamados ou, se foram, não compareceram.
Que bonito texto. Que bonita homenagem… das que ficam a alma! Como é bom ter história pra contar…
Muitas memórias mesmo, uma vida bem vivida em muitos aspectos, ele resistiu até o fim, sou grato como filho aos que vieram a se despedir dele,meu pai foi um homem maravilhoso, infelizmente ele se foi mas os ensinamentos ficam para sempre, são eternos.