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domingo - 16/09/2012 - 07:07h

Taxa de Sinceridade

Por Vicente Serejo (O Jornal de Hoje)

Tem sido baixa a taxa de sinceridade da palavra do governo ao longo dos vinte meses de gestão. Praticamente metade do mandato. Tão baixa que mais do que a desaprovação, sempre além de setenta por cento do mesmo eleitorado que o fez vencer no primeiro turno derrotando uma estrutura de vinte anos, sequer conseguiu até hoje estabelecer um diálogo com a sociedade. E todas as vezes que pede sua atenção é para repetir um discurso cansado e inútil a culpar um passado do qual o próprio governo já faz parte.

Tudo revela um persistente sinal de desconexão entre a sociedade e o governo. E tudo nasce de um grave erro de visão, bisonho e esdrúxulo, por si mesmo: a de que há no passado recente um povo que pertenceu a um governo derrotado, a quem o vitorioso não tem o dever de servir; e o povo que elegeu esse novo governo, este sim, merecedor das atenções e dos deveres de Estado. Ao primeiro seu legado é o abandono; ao segundo, um discurso a apontar culpados numa inquisição que parece não acabar nunca.

O mais estranho é a teimosia com que o governo imagina sensibilizar a sociedade que governa há quase dois anos com a retórica fora de foco e dirigida a um eleitorado recompensado e feliz que ninguém conhece e sequer sabe existe. Seu discurso, de tão desligado da realidade, desafia as mais comezinhas lições de comunicação – se comunicar é tornar comum uma informação a dois ou mais universos – com a sua voz difusa e perdida que insiste em levar ao seu ‘auditório’ aquilo que ele não reivindica e deseja.

O exemplo perfeito da desconexão com a realidade é o estado de calamidade no sistema estadual de saúde. O que nasceu de grave decisão de Estado acabou se revelando um campo de manobra política, o que não cabia por hipótese nenhuma. Vinte e quatro horas depois do decreto, foi lançado um documento de acentuado gosto adesista, fruto de ‘mobilização’ reunindo instituições como a Ordem dos Advogados do Brasil e o Ministério Público, um artifício urdido para neutralizar os olhos fiscalizadores da sociedade.

O artificialismo que alguns tentaram confundir com união de esforços não suportou o impacto de duas decisões graves: as posições de denúncia do Conselho de Medicina e do Fórum Estadual de Saúde, entidades não sindicais e de referência legitimadora de um processo de calamidade pública.

Como se não bastasse, um intenso noticiário há sessenta dias revela um estado de caos absoluto que rompeu os limites do Estado e se projetou nacionalmente como um atentado contra a vida humana a exigir intervenção.

A falta de sinceridade, como se já não vivêssemos o absurdo em toda sua plenitude, se configurou mais uma vez na recente nota assinada pela governadora, poucos dias depois do comunicado feito quando da reunião de avaliação dos primeiros sessenta dias.

Outra vez, melancolicamente, culpa o passado que já dista quase dois anos, como se a saúde, dever de Estado, pudesse ser postergada sob qualquer pretexto diante da constatação unânime de que o governo conseguiu a façanha inimaginável de torná-la muito pior.

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Categoria(s): Artigo

Comentários

  1. Italo Gomes diz:

    Perfeito, Caro Vicente Serejo.
    És um mestre na escrita e na observação da CENA URBANA. Parabéns! Sem qualquer conotação político-partidária, você fez um retrato lúcido do proceder deste desgoverno do RN. Sinto-me triste, pois tenho a convicção de que a gestão deste Estado vai piorar. Os recursos financeiros já não são suficientes para quitar os compromissos assumidos; há débitos com quase todos os fornecedores do governo. O governo rosado não fez o dever de casa: era preciso uma reforma administrativa. O que se viu foi o governo criar mais cargos. Criou, inclusive uma secretaria extraordinária para a cunhada. Um absurdo! Não é preciso uma secretaria para se fazer cultura; precisa-se somente de competência e querer. Não há planejamento estratégico. Não há competência administrativa. Não há inteligência administrativa. O que se vê é um governo gerido por alguém que nem andar no centro administrativo, anda: o marido da governadora. É um governo caminhando para o caos geral. Escrevam!

  2. chagas diz:

    Parabéns ao Vicente serejo pela fluente escrita desse desastre admin istrativo do estado, serejo sabiamente fala por milhões de papas jerimuns, dando um diagnóstico real desse caos dasatinado do casal govenante, Serejo é um monstro da escrita sábia.

  3. Elves Alves diz:

    Era só o que Serejo faltava ainda taxar: a sinceridade. Seu portifólio agora está ‘nos trinques’.

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