Por Paulo Procópio
A resistência respira. Ninguém tá sozinho na luta. Nessa pisada a “Venda” de Júnior ou a “Venda de Leivinha”, que são a mesma pessoa, atravessa décadas sem perder a tradição no bairro Doze Anos, em Mossoró. A Venda, de modo inusitado, também é conhecida por Cantinho Bar pelos frequentadores mais antigos, numa referência (ou reverência) ao antigo comércio da família Freitas, que existiu no local há dez mil anos atrás.
Leivinha não aceita pix nem cartão de crédito, e pronto. O aviso tá fixado na entrada pra todo mundo ver. Entrar na venda também é privilégio de poucos. Os estranhos são atendidos do lado de fora, através das grades, por uma portinhola. Esse sistema foi introduzido por prevenção, depois de um assalto.
A Venda só aceita pagamento em espécie. Dinheiro vivo. A única exceção é anotar algumas compras daqueles fregueses cativos do bairro numa caderneta. Esses pagam na quinzena ou no final do mês. Desse jeito ele vai mantendo a velha tradição dos bodegueiros, que herdou do pai. Como um Dom Quixote, enfrenta os moinhos do capitalismo triturador dos costumes locais. Tá nem ai para as praticidades do mundo moderno. Bom mesmo é o papel bordado.
E lá se vende de tudo. Material de limpeza, higiene pessoal, alimentação, refrigerantes, água mineral, cerveja, cachaça, vinho, velas, chocolates, balas, drops, queijos, embutidos e carne de jabá. Tem lápis, borracha, lapiseira, régua, caneta, cola, cadernos e cadernetas. Alfinetes, agulhas, linhas, friso, cortador de unhas, tesouras e lixas. Cigarro, fumo, papel de seda, isqueiro, rádio portátil, pilhas, headphones, carregadores de celular, e o que mais você possa imaginar.
E messe mundo avesso, pelo avesso a Venda funciona. O horário é anticonvencional. Abre das 11h às 14h, quando fecha para uma sesta esticada, e reabre das 18h à meia-noite, com uma clientela cativa.
É assim de domingo a domingo, com algumas exceções, naqueles finais de semana que ele resolve armar a rede na praia de Redondas, depois da divisa, no bom Ceará. Nesses dias a senha para a freguesia é a ausência da placa em tripé com a legenda: Venda, na calçada da Rua Frei Miguelinho, bairro 12 Anos, no Mossoró Grande que eu gosto demais.
Paulo Procópio é jornalista e advogado
Comprei muito no Júnior ! Kkkkkk lembro-me que até alguns “cheques” eu trocava com ele kkkk comprei muitas latas de leite pra meu menino ! CabaBom demais da conta
Agradeço o amigo Carlos Santos por publicar estás escritas do também nobre amigo Paulo Procópio, tão bem narrado pelo autor sobre o cotidiano do meu querido irmão, (somos ao todo 12, ele é o número 10), filhos de dona albaniza e seu Expedito Tertuliano de Freitas, Que teve a bravura de 1968 colocar a familia na carroceria de um caminhão e deixara o pequeno povoado de malhada Vermelha, onde morávamos para vim dá estudos e se estabelecer aqui em Mossoró.
Nota do Blog – Valeu, Riba. E feliz Aniversário com saúde e paz para Naeide, sua esposa. Abraço em todos.
🙏🙏🙏🙏
Sem necessidade de retoques a crônica do Colega Paulo Procópio, especialmente com relação ao espaço comercial administrado à seu modo e no tempo/espaço do Sr. Expedito Tertulino de Freitas Junior – nosso Leivinha, demonstrando nesse tempos de “obrigatória” imersão no mundo digital, que remar contra a maré, também, pode ser um ponto de inflexão a ser analisado e observado sob o enfoque de personalidade e de visão prática no corpo do que chamam de livre mercado e de livre iniciativa.
Afinal, por qual razão não possamos e podermos resistir, por conseguinte, por que não adotarmos algumas práticas que nos levem e encaminhem nós simples mortais podermos continuar vendo, lendo e tateando cédulas, sobretudo para voltar, quem sabe, lembrar e voltar a praticar e utilizar nossas mãos em inúmeras atividades e tarefas do dia a dia como antigamente, sob pena de nos tornarmos, por exemplo, novamente ágrafos….!?!?
Nesse campo e tempo hodierno em que a dependência digital já é uma triste realidade e consequentemente já vivenciamos e temos um imenso vazio real advindo do nosso isolamento social. Nesse contexto, entendo que se o bicho predador bicho homem não atentar realmente e como devido para sua existência como de origem, brevemente nossos abraços serão virtuais, nosso cheiro e xêro, nossas cores, dores e amores serão apenas e tão somente telas de cristais limpinhas e higiênicas telas de um espaço inumano, frio, gélido e atemporal…!!!