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domingo - 26/09/2021 - 07:10h

Um icônico referencial cultural na serra do Martins

Por Marcos Pinto

“…Falar  de  coisas   que  só  batem  nos  que

Conjugam   a  metáfora  do  peso  dos  anos”.

(José   Sarney).

Nada  mais  impressionante  na   região  do  alto  Oeste  potiguar  do  que  a  fantástica  serra  do  Martins,  cuja  denominação  toponímica  atrela-se  ao  seu   fundador  Francisco  Martins  Roriz.  Suas  matas  nativas  revelam  mistérios  circundantes,  aromatizados  por  clima  ameno, instigante   e  salutar,  emoldurando   misterioso  e   sepulcral  silêncio.

As  suas  contagiantes  belezas  naturais  tem  proporcionado  o  surgimento  de  expressivas  intelectualidades  em  todos  os  contextos  dos   valores  humanos   do  país.  Desde  os  primórdios,  evidencia   a  rubrica  de  ser  feudo  e  celeiro  de  intelectuais.

Júnior Marcelino, densidade intelectual sem afetação e zelo pela cultura e conhecimento (Foto: reprodução BCS)

Júnior Marcelino, densidade intelectual sem afetação e zelo pela cultura e conhecimento (Foto: reprodução BCS)

Sobressai-se   como  manancial  de  valorosos  homens e  indômitas  mulheres,  enchendo  de  vivas  ações  de  acentuado  cunho  espiritual  as   páginas  que  marcam  os  anais  da  sua  arraigada   história.  A  sua  vasta   panorâmica  sociocultural   embeleza-se  pela  correção  da  linguagem  a  colorir  os  pensamentos  do  seu  pacato  e  hospitaleiro  povo.  Revela-se  numa  tessitura  simples   e  natural, ao   todo  desprovida  de  apelos  eruditos.  Sob  estes  matizes  envolventes, surge  a  cativante  e  referencial  figura  humanista  e  icônica  em   intelectualidade,  de  nome  Júnior Marcelino.

Homem  de  profunda  fé  e  sólidas  convicções  religiosas, características  peculiares  que   induziram  os  seus  amáveis  genitores  a  encaminhá-lo   ao  famoso  Seminário  Santa   Terezinha,  em  Mossoró-RN, lá ele  amealhou vastíssimos  conhecimentos  em  Humanismo, Classicismo, Geografia  Histórica  e  História  local,  Genealogia, Corografia, Ordenamentos  Políticos  e  Jurisprudência.  O  renomado  Seminário  foi  a  fonte   primordial  e  precípua  da  sua  sua  imensurável  e  respeitável  erudição.

Nesta  conspícua  instituição  eclesiástica  foi  aprovado  com  destaque e  Grau  Superior  em  todas  as  matérias:  Latim, Leitura, Canto, Gramática, Missa  e  demais  cerimônias.  O  Consuetudinário  e  metódico  rigor  aplicado  no  desenvolvimento  espiritual  dos  notáveis  Seminaristas  incluía  matérias  de  casos  de  consciência  e  dos  sacramentos   contidos  na  famosa  Obra  litúrgica  denominado  de  “Breviário”  e, também,  o   “Manual dos Confessores”,  do   Aspilcueta   Navarro.

Pela  sua  acentuada  desenvoltura  intelectual,  deve  ter  participado  das  percucientes  e  famosas  “Visitações Pastorais”,   do  eminente  e   reverendíssimo  Bispo  Diocesano  da  sua  contemporaneidade  de  admirável  seminarista, época  em  que  era  comum  o  vestir-se  com  batina  preta, o  que  imprimia uma  circunspecta  impressão  visual   litúrgica.

Apesar  das  culminâncias  intelectuais  e  espirituais  condensadas  no  seminário,  o  jovem  seminarista  não  resistiu  aos  encantos  de  uma  recatada  e  competente  professora, visão  alicerçada  em  seu  espírito  durante  suas  férias  de  final  de ano,  em  sua  amada  e  nunca  esquecida  Martins.  O  coração  falou  e  calou  mais  alto.

Após  longa  explanação  ao  seu  genitor   quanto  às  razões  de  cunho  sentimental,  de  certa  forma  inesperado, da  sua   firme  decisão  de  desistir  da  sua  iminente  ordenação  sacerdotal, teve  incontinenti  acolhida  do  seu  compreensivo  genitor.  Desfecho  com  emblemático  consórcio  matrimonial  com  a  ditosa  e  elegante  mestra  Perpétua.

Com simplicidade  e  modéstia, criou  e  instalou  em  sua  residência  um  vultoso  museu   com  relevante  acervo  de  fósseis  animais  milenares, destacando-se  como  sendo  o  único  do  estado  do  Rio  Grande  do  Norte  que  tem  em  seu  acervo  um  osso  fóssil  constitutivo  da  mandíbula  do  Mamute,  o  ancestral  do  Elefante.  Como  intelectual  polivalente,  desfruta  de  largo  prestígio  em  todos  os  segmentos  sociais  e  administrativos  do  Estado  do  RN,  e   também  em   âmbito  nacional.

Tudo  em  decorrência  do  seu   arquétipo. Homem  atuante,  embora  comedido. Liberal  sem  demagogia, tradicionalista sem  fanatismo;  construtivo  sem  imprudência.

Impelido  por  um ardoroso  ânimo  de  trabalho,  sabe  aproveitar  as  oportunidades  na  consecução  dos  virtuosos  propósitos.  Sou  testemunha  da  austeridade  e  probidade,  perenes  e  inexpugnáveis  em  seu  “modus  vivendi”, repudiando   tenazmente  o  chamado  e  detestável  ‘culto à personalidade’, configurador  de  asqueroso  vedetismo.

Nunca  se  deixou  vencer   pelas  circunstâncias  adversas, sempre  vencendo  as  barreiras  do   desânimo.  Como  “cultor  da  história”,  lança  mão  do que  tem  na  memória  para  vestir  suas  ideias  acerca  do  processo  evolutivo  da  sua  amada   terra   natal.  A  sua  excepcional  simplicidade  de  estilo  desperta   intensa   empatia, dado  o  seu  boníssimo  coração.

O  nobre  amigo  Júnior Marcelino   contextualiza-se  na  assertiva   de  que  é  uma  pessoa  brilhante, discreto,  justo,  sempre  intervindo  com  maestria  nos  momentos  mais  difíceis  da  pesquisa  em  vetustos  documentos   cartoriais  ou  eclesiásticos.

Visitar  a  inesquecível   cidade  de  Martins  e  não  procurar  conhecer  o icônico intelectual  Júnior Amorim equivale  a    ir  a  Roma   e  não  ver  o  Papa.

Habemus Junius Marcelinus!

Inté!

Marcos Pinto é advogado e escritor

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Amorim diz:

    Bela naratíva!
    Gosto muito da cidade de Martins.
    Caro mestre, me perdoe a obsevação: tive que parar a leitura, indo ao dicionário para ver algumas palavras do nosso vernáculo.
    O que tem de bom, aprendi!
    Um abraçaço.

  2. Marcos Pinto. diz:

    Meu caro Amorim, Releve estes surtos de prolixismo deste ARUÁ de Pé -de-Serra de Apodi. Deve ser reflexo da minha inesquecível época em que lecionei as Disciplinas Português e História Gwral nos renomados Colégios Diocesano (Colégio Diocesano Santa Luzia) e Colégio Sagrado Coração de Maria (Colégio das Freiras). Você desvende do Português Clemente Gomes de Amorim, um dos fundadores de Portalegre-RN, mas radicado na Serra do Martins, geudo territorial tradicional da nobre família AMORIM. Abraçaço.

  3. Marcos Pinto. diz:

    Em adendo ao primeiro comentário : Onde se lê desvende leia-se Descende. Onde se lê Geudo leia-se Feudo. INTÉ.

  4. Nazaré Brandão Noronha diz:

    Sempre acompanho o Blog Carlos Santos aqui de Manaus, admirando-o pela imparcialidade da sua linha editorial.
    Sou uma das muitas Webleitoras do erudito apodiense em terras manauaras. Que venham mais artigos do intelectual Marcos Pinto.

  5. Nurim de Bugue diz:

    Meu caro conterrâneo, amigo de infância das peralrices no Jardim do quadro da rua, do patamar da igreja Matriz, como o tempo passou rápido e o fez grande escritor. Nao posso deixar de elogiar o culto, o pesquisador incansável da história, não só de Apodi, como da região Oeste norteriograndense. Mais uma vez, como sempre, com escrito plausível.
    Do apodiense Nurim de Bugue.

  6. Marcos Pinto. diz:

    Meu Grande amigo de infância e traquinagens na beira da Lagoa NURIM DE BURGUE DENTISTA . Corríamos rumo a água da Lagoa e pulando estilo bunda canastra, ou seja, correndo para protagonizar um salto olímpico virando por cima e caindo em pé já em profundidade da água a altura da cintura. Eita tempo bom.

  7. Esmak Soares diz:

    Antes de eu morar em Umarizal, entre meus 10 e 12 anos, meu pai já falava muito de Martins. Principalmente de uma caverna com um abismo que parecia não ter fim.

    Infelizmente ele nunca me levou para conhecer essa cidade, mesmo quando passamos a morar em Umarizal, bem ao lado. Um tio de minha mãe, se não me engano, João de Oliveira, veio de charrete nos levar para seu sítio que tinha por lá. A minha mãe deu uma desculpa que não poderia ir, e aí perdi a última oportunidade no final dos anos 80 de conhecer Martins.

    O Museu particular do Senhor Júnior Marcelino é aberto ao público?

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