Por Nilson Gurgel
Falar sobre Luiz Gonzaga é um prazer tão grande quanto é ouvi-lo. Orgulho-me de ter tido um momento com ele, foi no final do ano de 1974.
Na época eu era Diretor Técnico e Executivo da Cimparn e estávamos concluindo a implantação física do projeto das vilas rurais da Serra do Mel, quando o governador Cortez Pereira me chamou e disse:
– “Cabeludo” (como carinhosamente me chamava), meu mandato foi reduzido em um ano e quero encerrá-lo com uma grande festa de inauguração do Projeto lá na Serra do Mel. Prepare tudo, você tem 15 dias!
Aí lhe respondi: “Sem problema, doutor Cortez.”
Tratei de arrumar tudo e na véspera da dita, fui ao Palácio Potengí para fazer uma checagem das coisas com ele. Ao final, o governador olhou para mim e disse:
– Só está faltando uma coisa, mas um amigo vai mandá-lo para nós. É o Luiz Gonzaga que está fazendo um show no Recife hoje à noite e amanhã o Zé Lins ( José Lins de Albuquerque, superintendente da Sudene na época) traz ele para nós no Asa Branca (nome do avião da Sudene).
E completou: “Já está tudo acertado, volte para Serra e me espere amanhã cedo.”
No dia seguinte chega doutor Cortez e logo em seguida Luiz e Zé Lins.
Caro amigo Carlos Santos, foi um dia inteiro na companhia do rei. Tanto ele cantava, como tocava, como contava piadas e conversava. Era só alegria e terminei indo deixá-lo no Recife no avião do estado, pois o Zé Lins, em razão de compromissos, teve que ir antes.
Luiz atendeu a todos tocando, cantando e autografando. Para se ter uma idéia da dimensão do evento, só famílias já assentadas havia no projeto 518 com cerca de 6,2 pessoas em média para cada uma e todas estavam presentes.
Faltaram guardanapos e pratos de papelão. Todos viraram autógrafos. O autógrafo que pedi, único de minha vida por anos, se juntou anos mais tarde ao de Tânia Alves (cantora e atriz) que quando me deu o dela e soube que ia fazer companhia ao de Luiz Gonzaga, saiu com esta:
– É uma honra fazer companhia ao meu rei. Mas Nilson, bote o meu bem coladinho ao dele, quem sabe eu faça umas carícias nele!
E deu aquela risada gostosa que só ela sabe dar.
Meu neto que ainda não “interou” três anos, quando vou visitá-lo, ele olha para mim e diz: “Vovô, vovô Nilson”. Ee logo vai cantando (só as duas primeiras estrofes) “Estrada de Canindé”, que segue para quem quiser:
Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e uma cabocla
Cum a gente andando a pé
Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e a lua branca
No sertão de Canindé
Artomove lá nem sabe se é home ou se é muié
Quem é rico anda em burrico
Quem é pobre anda a pé
Mas o pobre vê nas estrada
O orvaio beijando as flô
Vê de perto o galo campina
Que quando canta muda de cor
Vai moiando os pés no riacho
Que água fresca, nosso Senhor
Vai oiando coisa a grané
Coisas qui, pra mode vê
O cristão tem que andá a pé.
Amigo, desculpe a extensão do comentário, mas estou falando do único rei brasileiro que reverencio.
E encerro meu texto com uma frase do discurso de Cortez a quem, sem ser rei, exalto também e tenho saudades do dia da inauguração, final de1974:
– Este projeto nasceu da coragem e imaginação de um governo que soube antecipar o futuro!
Nilson Gurgel é economista