Por Marcos Pinto
A paradisíaca serra, em sua exuberante beleza natural, contempla os viandantes que perlustram o venerando solo da antiga “Serra da Maioridade” com nostálgica e misteriosa transcendentalidade. Tais predicados tem como referencial a atual cidade denominada de Martins, no Rio Grande do Norte.
É emblemática em exponenciais figuras da Magistratura potiguar, tendo sido berço de nascimento de seis Desembargadores. O referencial toponímico pioneiro foi “Serra do Campo Grande”, denominação constante do requerimento do Capitão-Mór Aleixo Teixeira, e da concessão de Carta de Data de Sesmaria datada de 20.07.1736.
Aleixo era Capitão-Mór da então Aldeia de São João Batista dos Tapuias Paiacus, do Lago Pody, atual Apodi, onde também foi concessionário, no lugar que ficou conhecido como “Data do Aleixo”.
Como o Capitão Aleixo caiu em comisso, ou seja, não efetivou posse na sesmaria que lhe foi concedida, seis anos após, precisamente a 1º de Março de 1742, foi concedida a mesma Data de Sesmaria ao Capitão Francisco Martins Roriz, que residia na Ribeira do Jaguaribe, Capitania do Ceará, que fundou no alto da serra ainda inabitada, uma fazenda e currais de gado, que passou a ser conhecida pelo nome de seu proprietário – “Serra do Martins”.
Emoldurando o perfil histórico desta tradicional família, detentora da nobreza de quatro costados, consigna-se que é oriunda da Ilha Terceira, do arquipélago dos Açores.
A história dessa família no Brasil começa no início do século XIX, com a vinda de Portugal, do Ajudante de Cavalaria Alexandre José Leite de Chaves e Mello.
Esse militar prestou importantes serviços à coroa portuguesa. Em 1805 acompanhou o 2º Governador da Capitania do Ceará, João Carlos Augusto de Oeynhausen, em expedição ao Ipu, com o objetivo de prender o Coronel Manoel Martins Chaves e seus sobrinhos, o Capitão Francisco Xavier de Araújo Chaves e Bernardino Gomes de Franco, tendo o Ajudante José Leite, desempenhado importante papel nessa missão.
Em 1817 vamos encontrar Alexandre José Leite de Chaves e Mello no posto de Coronel, Comandante das Fronteiras e Inspetor das Milícias do Jaguaribe, onde impede que a “Revolução Pernambucana de 1817”, que subvertia a ordem nas Capitanias de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte, se alastrasse até o Ceará. Quando o Crato aderiu à causa da Revolução, o Governador mandou o então Coronel Leite marchar sobre o Cariri, a fim de sufocar a revolta.
Nos preparativos para descer sobre o Cariri, eis que Alexandre recebe, oriundos do Crato, onde já havia sido deflagrada a contra-revolução, os presos: irmãos Alencar (Tristão e o padre Carlos), Francisco Pereira Maia, Pereira dos Santos e José Francisco de Gouveia Ferraz, remetendo-os para Fortaleza.
Recebidos os reforços normais constantes de tropas regulares, contingentes de índios e tropas de milícias, e como já não fosse mais preciso marchar sobre o Cariri, ordenou que se postassem piquetes nas estradas que davam acesso às Capitanias vizinhas, e marchou em fins de maio para o Rio Grande do Norte, onde pacificou o Apodi, Martins, Porta Alegre e Pau dos Ferros, fazendo numerosas prisões e obrigando o povo a acatar o governo português.
Consta que Alexandre José Leite de Chaves e Melo trouxe da terra natal dois irmãos: Leandro Leite Chaves e Mello e Francisco Álvares Afonso Leite de Chaves e Mello, que no Brasil viveram e deixaram frondosa descendência. O primeiro ter-se-ia localizado no Rio Grande do Norte, transferindo-se depois para o Rio de Janeiro, deixando prole numerosa e ilustre.
Francisco Álvares Afonso se radicara no Rio Grande do Norte, onde deixara muitos filhos, entre os quais: Manuel Álvares Afonso Leite, Maria Afonso de Chaves e Melo Pereira “Mariazinha”, Antonio Leite de Chaves e Melo e Alexandre Leite de Chaves e Melo.
Mariazinha casou-se com o português Francisco Emiliano Pereira, latinista e educador de grandes méritos, tendo sido professor de seu sobrinho, o Senador Almino Álvares Afonso. Sua filha Maria Joaquina Chaves, “Maroca”, casou-se com o primo Ildefonso Leite de Araújo Chaves e Melo.
Manuel Álvares Afonso Leite morava entre Patu e Martins, no Rio Grande do Norte, tendo deixado dois filhos: Francisco Manuel Álvares Afonso e Viriato Afonso. Viriato foi Coletor em Independência, Ceará e Advogado em Martins e Francisco Manuel era pai do senador Almino Álvares Afonso.
Adentrando, ainda, na contextualidade do título que encima este despretensioso artigo, é possível afirmar que há possibilidades de a fixação inicial dos Leite de Chaves e Mello na “SERRA DO MARTINS” ter sido objeto de concessões de atenuantes feitas aos revoltosos alí residentes pelo Coronel Alexandre José Leite de Chaves e Mello, destacando-se entre estes a inolvidável figura do Capitão Antonio Alves Cavalcanti, que é o mesmo Antonio Alves Cavalcanti citado no livro “Documentos Históricos”, publicação da Fundação Biblioteca Nacional.
Encantado com as belezas naturais e do clima ameno daquela aprazível serra, teria o Alexandre, passada a turbulência do movimento revolucionário, instalado o seu irmão Capitão Francisco Afonso de Chaves e Mello, em terras que teriam sido confiscadas dos partícipes revolucionários.
Marcos Pinto é advogado, pesquisador e historiador