Por Marcos Ferreira
Talvez o colapso absoluto, o apocalipse total, ainda demore um século. Ou, quem sabe, bem menos do que isso. Não sei. O que sei é que a conta está chegando. Os cientistas estão carecas de nos alertar sobre essa questão.
Uma espécie de Zaqueu, antigo cobrador de impostos em Jericó, baterá à nossa porta. E, ao que parece, ele vem a galope. Trata-se de uma dívida que geramos e que não pode ser paga com nenhum cartão de crédito. Quando o sapato realmente apertar, quando chegar a hora da onça beber água, não mais será possível pendurar a despesa num prego, parcelar em prestações a perder de vista.
Este globo azul, nosso lindo planeta Terra, mostra-se de saco cheio, zangado. Já não tolera como antes tantas agressões e desumanidades da destrutiva raça humana. O Homem é essencialmente mau, pernicioso, um corpo estranho, um tumor que a Natureza decerto vai expelir.
Sim, há muita gente boa por aí, pessoas que agem de modo admirável, que respeitam e tentam fazer do nosso habitat um lugar melhor. Esses, infelizmente, são um tiquinho, uma gota de sensatez no oceano das maldades do bicho-homem. Chuvas diluvianas, furacões, fortes ondas de calor, terremotos e temperaturas glaciais surgem mundo afora. É isso. A conta está chegando com juros altíssimos e não temos como pagá-la. Gastamos até o último níquel de paciência da Natureza. Ninguém se engane, não suponham que este planeta será destruído. Não como se imagina.
O que está em avançado processo de extinção é a nossa permanência sobre a face da Terra. O planeta vai cobrar o que devemos, vai se livrar dos tumores que somos nós: a nociva humanidade. O desrespeito à fauna e à flora e a cobiça que nos leva a incontáveis e irreparáveis agressões ao meio ambiente não ficarão impunes. Não. Nada disso receberá indulto. O débito é astronômico e inegociável.
Não sou cientista nem religioso. Todavia tenho olhos com que ver e ouvidos com que ouvir. Os sinais estão às escâncaras. O derretimento dessa “geleira do juízo final”, por exemplo, é uma reação da Natureza entre o sem-número de consequências pelas quais teremos que responder. Aquelas suaves e inócuas palavras do sumo pontífice pedindo um cessar-fogo são um risco n’água. Ninguém (entenda-se Rússia e Israel) dá a mínima. Com as exceções já referidas, o Homem é o pior inquilino que habita a Terra. Sim. O ser humano é uma besta-fera falsamente civilizada. Sob as barbas e olhos das grandes e pequenas nações, o tirano da Rússia prossegue massacrando a Ucrânia. Idosos, mulheres e crianças somam a maior quantidade de mortos.
Em Gaza é ainda pior. Com sangue nos olhos e nas mãos, Benjamin Netanyahu, primeiro-demônio de Israel, também comanda uma guerra covarde contra a Palestina, genocídio que já resultou em milhares de mortos, civis inocentes, sobretudo (repito) mulheres, crianças e idosos. Enquanto isso os terroristas do Hamas, verdadeiros alvos do exército israelense, continuam vivinhos da silva.
O jumento é bom. O Homem é mau. É mais ou menos assim que dizia Luiz Gonzaga em uma de suas músicas de maior sucesso.
A Terra, como sempre, vai renascer do cataclismo. O mesmo não se pode dizer da espécie humana. É possível que não reste ninguém para repovoar este planeta. Nem mesmo os imortais das academias de letras, supostamente imorredouros. A hecatombe aqui abordada não representa uma simples crônica distópica. Não é mera distopia! E não acho que Deus ou Jesus Cristo moverá uma palha sequer para salvar a nossa pele.
O Criador também está de saco cheio. Tal coisa não é de hoje. Segundo as Escrituras, o Todo-Poderoso ficou transtornado e lavou as mãos desde aquele terrível dia em que crucificaram o Nazareno, o filho unigênito do Altíssimo.
As tragédias são brutais. As guerras e a fúria da Natureza têm se revelado piores do que em todas as etapas da era medieval. As superpotências bélicas e econômicas cairão de joelhos, as mãos erguidas para o Céu, pedindo clemência. Mas aí será tarde demais. Como diz o conto bíblico, haverá choro e ranger de dentes. Acho muito improvável que dessa vez surja um Noé com uma arca salvadora.
Se tal arca por acaso aparecer, creio que será (merecidamente) para resgatar um bocado de bichos ditos irracionais. Esses não têm culpa alguma no cartório planetário. E eu, que nem sei rezar, apenas aguardo nosso fim.
Marcos Ferreira é escritor