domingo - 01/05/2022 - 11:34h

O sabor do êxito na produção e exportação de manga do semiárido

Por Josivan Barbosa

A produção de manga no Submédio do Vale do São Francisco já ultrapassa 50 mil hectares. A região do Submédio do São Francisco possui uma área irrigada de 120 mil hectares de um total irrigável de 360 mil hectares. A região tem muitas vantagens para a produção de frutos tropicais entre elas: 3000 h sol/ano e precipitação média de 450 mm/ano, o que permite mais de 2 safras de manga/ano, dependendo da cultivar utilizada pelo produtor.

Produto tem grande aceitação externa e é exportado principalmente por via marítima (Foto ilustrativa)

Produto tem grande aceitação externa e é exportado principalmente por via marítima (Foto ilustrativa)

Em média, as áreas produtoras de manga do Submédio do Vale do São Francisco estão distantes 930 km do Porto do Pecém, 500 km do Porto de Salvador (principal porto usado na logística de exportação), 700 km dos Portos de Recife e 900 km do Porto de Natal (usados esporadicamente). O Porto de Recife não é adaptado para a exportação de frutos e o de Natal, apesar de ser muito bom, é distante.

O principal modal de exportação da manga é o marítimo (92%), sendo o aéreo e o rodoviário em torno de 4% cada um.

Atualmente, o transporte de carga no Aeroporto de Petrolina está suspenso desde que iniciou-se a pandemia Covid 19.

Área cultivada

A Valexport trabalha com a estimativa de 51 mil hectares sendo 21 mil hectares cultivados nos perímetros irrigados e 30 mil hectares fora dos perímetros irrigados. Bem acima da área cultivada com uva que é em torno de 14 mil hectares.

Os perímetros irrigados instalados naquela região do Semiárido a partir de 1970 são: Bebedouro, Tourão (Juazeiro), Nilo Coelho, Maniçoba, Curaçá, Maria Tereza (ampliação do Nilo Coelho), Salitre (Rio Salitre, afluente do São Francisco), Pontal (em início de operação) e os perímetros de áreas de assentamentos (Santa Maria da Boa Vista, Orocó, Belém do São Francisco), além das áreas irrigadas de Sobradinho (lotes de 6 ha).

Certificação

Os principais sistemas de certificação adotados são: PIF, Global GAP, USA GAP, Fair Trade, Tesko/Marckspenser e Rainforest Aliance. Este último é o mais importante e o primeiro que é o brasileiro, praticamente nenhum país aceita.

A CEE (Comunidade Econômica Europeia) permite apenas o uso de até 3 agroquímicos e com apenas 1/3 do LMR da legislação Europeia.

A mosca-das-frutas (ceratis capitata) é a principal praga da fruticultura na região.

Exportação e empregos

O principal destino de exportação da manga do Submédio do Vale do São Francisco é a Europa (120 toneladas/ano) e o segundo destino é os EUA. A exportação de manga rendeu no ano passado para o país U$ 224 milhões. Se somado o valor da uva chega a U$ 376 milhões.

Em 2021 a região do Submédio do Vale do São Francisco que, também, é denominada de RIDE (Região Integrada de Desenvolvimento Econômico) exportou 245 mil toneladas de manga.

A Agrodan é a principal empresa exportadora.

O setor gera 250 mil empregos diretos e quase 1 milhão de empregos diretos e indiretos.

A organização da exportação, a política do setor e a responsabilidade da certificação sanitária fica a cargo da Valexport que assume o ônus de todo o setor frutícola do Submédio do Vale do São Francisco.

Variedades

A Tommy Atkins e a Palmer são as principais variedades de manga cultivadas no Submédio do Vale do São Francisco. A Tommy Atkins é muito conhecida no mercado nacional e tem uma vida útil pós-colheita boa, mas é fibrosa. A Palmer é mais saborosa, menos fibrosa, mas o ciclo produtivo é de 180 dias e a Tommy Atkins é de apenas 120 dias. A Palmer é de fácil indução floral, produz 12 meses por ano, mas apresenta uma vida útil pós-colheita menor do que a Tommy Atkins. A Palmer apresenta boa produtividade (50 toneladas/ha).

A produção é mais concentrada no segundo semestre (70%) e 30% no primeiro semestre. A temperatura baixa a partir de maio favorece a floração.

As variedades Kent e Keitt são saborosas, pouco fibrosas e são muito aceitas na Europa.

A manga Ataulfo (doce e sem fibra), bastante conhecida no México, não tem apresentado boa produtividade. Média de 8 toneladas/ha.

Transporte e mercado

O transporte aéreo é usado apenas para a Ásia (Japão e Coréia do Sul). O transporte marítimo é usado para a Europa, EUA e África do Sul. A manga é transportada em contêiner refrigerado (10 graus).

A Valexport contratou a consultoria da Mango Board para ampliar a divulgação da manga do Submédio do Vale do São Francisco nos EUA.

Os principais mercados são: Mercado Comum Europeu (ME), Norte Americano (EUA e Canadá). O Canadá não tem exigências fitossanitárias a exemplo da Europa. O produto ainda é exportado para a Ásia (Japão e Coréia do Sul), África (África do Sul), Mercosul (Argentina e Uruguai) e Chile.

O mercado americano representa uma janela de exportação (setembro a outubro) em função da competição com a manga peruana. O Peru tem 72 plantas (packinghouses adaptados para tratamento hidrotérmico da manga) de exportação de manga enquanto que o Brasil tem apenas 12 (11 no Submédio do Vale do São Francisco e uma no Rio Grande do Norte – Finoagro em Ipanguassu).

A exportação de manga é apoiada pela instrução normativa 12 de 2010 do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA).

Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Ufersa

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Categoria(s): Artigo
domingo - 01/05/2022 - 10:42h

Correção de injustiça com os aposentados

Por Ney Lopes

A reforma da previdência, que entrou em vigor em 13 de novembro de 2019 (EC 103), causou grande prejuízo mensal aos aposentados por invalidez.

Antes, esses aposentados recebiam 100% da média salarial, independentemente do tempo de contribuição, ou seja, era pago um benefício integral.Aposentados, aposentadoria, fazer contas, dinheiro, crise,

Após a reforma, ocorreu redução que chega a 40%. Por exemplo: quem recebia 6 mil reais teve perda mensal de R$ 2.400 reais. Exceção para aposentados por acidente de trabalho ou de doenças profissionais ou de trabalho.

Critérios novos – O cálculo passou a ser feito a partir de um percentual de 60% da média, somado a 2% para cada ano de contribuição, no caso de mais de 15 anos de contribuição acumulados para as mulheres, e 20 anos para os homens.  Assim, na maioria dos casos, o valor do benefício passou a ser menor do que um auxílio-doença — que é temporário e calculado a partir de 91% da média do salário de benefício

Justiça – Os Juizados Especiais Federais do Sul do país têm firmado entendimento em decisões recentes, de que o cálculo da aposentadoria por invalidez após a reforma é inconstitucional, por ofensa aos princípios da igualdade, da proporcionalidade e da razoabilidade,

STF I – De acordo com o acórdão do STF (Recurso Extraordinário n. 1.360.286), “além da flagrante ofensa aos princípios da razoabilidade, da seletividade na prestação dos benefícios, da irredutibilidade do valor dos benefícios e da isonomia, cabe ressaltar o cabimento do devido processo legal substancial como meio de controle de constitucionalidade”.

STF II – E complementa: “ Desta forma, entendo que as alterações trazidas pelo art. 26, §§ 2º e 5º, da EC nº 103/2019 ofendem o princípio do devido processo legal substancial, já, além de não atender aos anseios da sociedade, colabora para a perpetuação das injustiças sociais. Assim, diante da flagrante ofensa aos princípios da razoabilidade, da seletividade na prestação dos benefícios, da irredutibilidade do valor dos benefícios e da isonomia, bem como ao princípio do devido processo legal substancial, entendo pela inconstitucionalidade do art. 26, §§ 2º e 5º, da EC nº 103/2019”.

Direito – Conclui-se que  segurados, em qualquer situação, com incapacidade permanente, não podem ganhar valor inferior a 100% da média salarial em suas aposentadorias por invalidez.

Cálculo – Portanto, o cálculo da média salarial para benefício concedido após a reforma, deve levar em conta os salários de contribuição desde julho de 1994, ou desde o início da contribuição.

Advogado – A recomendação é que, quanto antes, o segurado prejudicado acione o Judiciário contra o cálculo que reduz seu benefício.

Desvalorização – O direito à aposentadoria por invalidez foi desvalorizado a partir da mudança da reforma previdenciária. As decisões do Judiciário brasileiro têm sido fundamentais para corrigir essa distorção imposta pela reforma.

Não é cabível que um benefício temporário seja maior que uma aposentadoria que reconhece a invalidez permanente do segurado do INSS.

Acréscimo – Aposentado por invalidez que comprove depender de outra (s) pessoa (s) para realizar atividades da vida diária, como banho e alimentação pode requerer o acréscimo de 25% do benefício.

É permitido que o  acompanhante seja um familiar

Provérbio – Para os injustiçados com a reforma é bom lembrar o provérbio português: “a justiça tarda, mas não falha”.

Ney Lopes é jornalista, advogado e ex-deputado federal

*O autor do artigo  dará orientação a quem interessar, independente de honorários.

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Categoria(s): Artigo
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domingo - 01/05/2022 - 09:24h

Além do horizonte

Por Odemirton Filho

Olhava o horizonte sentada numa jangada na beira do mar. Estava sozinha. Pensava no ontem, naquilo que viveu. Ou, melhor, no que não viveu.

Os dias passaram rápidos, nem viu o tempo voar. Sobre os seus ombros carregava o peso da vida. Sim, era uma mulher realizada, tinha um bom marido, lindas filhas e belos netos. Mas, ainda assim, queria mais. Embora estivesse aposentada, queria viver, bem vivido, o tempo que ainda lhe restava de vida.  horizonte, mar

Tinha dentro de si, às vezes, uma profunda solidão. Sua alma, de vez em quando, era uma ilha. Precisava habitar a sua vida com novas experiências. Quem sabe, enveredar na arte de escrever colocando no papel os sentimentos d´alma; rabiscos de saudades e lembranças.

Lembrou que por muitos anos acordou de madrugada para preparar o café do marido e das filhas, arrumando-as para irem ao colégio. Ficava o dia inteiro ocupada com afazeres domésticos; mal tinha tempo para se olhar no espelho e ajeitar os seus longos cabelos pretos.

O tempo passou. As meninas crescerem, constituíram família, cada uma seguiu o seu rumo. O marido se aposentou. Chegou a sua vez de fazer o que sempre sonhou: escrever. Em alguns cadernos, com as folhas amareladas pelo tempo, tinham alguns escritos que foram feitos ao longo da vida.

Lembrava que a vida passava rápido como o vento. A infância passou, a adolescência correu, e só restaram a maturidade e as lembranças de uma infância acolhida e de uma juventude repleta de sonhos.

O que passou, passou. Agora, sentia a brisa batendo no seu rosto, e observava a natureza, a qual nos mostra o canto dos pássaros; a beleza do mar. Sem pressa, contemplava o que um dia passou despercebido. Estava ali, sentada em uma jangada, olhando além do horizonte.

“Nós imaginamos que assim que somos arrancados do nosso caminho habitual tudo acaba, mas é apenas o começo de algo novo e bom. Enquanto houver vida, haverá felicidade. Há muito, muito diante de nós”, diria um famoso escritor russo.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica
domingo - 01/05/2022 - 08:34h

Luiz Gonzaga, Cortez Pereira e o sonho da Serra do Mel

Por Nilson Gurgel

Falar sobre Luiz Gonzaga é um prazer tão grande quanto é ouvi-lo. Orgulho-me de ter tido um momento com ele, foi no final do ano de 1974.

Na época eu era Diretor Técnico e Executivo da Cimparn e estávamos concluindo a implantação física do projeto das vilas rurais da Serra do Mel, quando o governador Cortez Pereira me chamou e disse:

Luiz Gonzaga na Revista O Cruzeiro, edição de 12 de setembro de 1952 (Reprodução de página de Rostand Medeiros)

Luiz Gonzaga na Revista O Cruzeiro, edição de 12 de setembro de 1952 (Reprodução de página de Rostand Medeiros)

– “Cabeludo” (como carinhosamente me chamava), meu mandato foi reduzido em um ano e quero encerrá-lo com uma grande festa de inauguração do Projeto lá na Serra do Mel. Prepare tudo, você tem 15 dias!

Aí lhe respondi: “Sem problema, doutor Cortez.”

Tratei de arrumar tudo e na véspera da dita, fui ao Palácio Potengi para fazer uma checagem das coisas com ele. Ao final, o governador olhou para mim e disse:

– Só está faltando uma coisa, mas um amigo vai mandá-lo para nós. É o Luiz Gonzaga que está fazendo um show no Recife hoje à noite e amanhã o Zé Lins ( José Lins de Albuquerque, superintendente da Sudene na época) traz ele para nós no Asa Branca (nome do avião da Sudene).

E completou: “Já está tudo acertado, volte para Serra e me espere amanhã cedo.”

No dia seguinte chega doutor Cortez e logo em seguida Luiz e Zé Lins.

Caro amigo Carlos Santos, foi um dia inteiro na companhia do rei. Tanto ele cantava, como tocava, como contava piadas e conversava. Era só alegria e terminei indo deixá-lo no Recife no avião do estado, pois o Zé Lins, em razão de compromissos, teve que ir antes.

Luiz atendeu a todos tocando, cantando e autografando. Para se ter uma ideia da dimensão do evento, só famílias já assentadas havia no projeto 518 com cerca de 6,2 pessoas em média para cada uma e todas estavam presentes.

Faltaram guardanapos e pratos de papelão. Todos viraram autógrafos. O autógrafo que pedi, único de minha vida por anos, se juntou anos mais tarde ao de Tânia Alves (cantora e atriz) que quando me deu o dela e soube que ia fazer companhia ao de Luiz Gonzaga, saiu com esta:

– É uma honra fazer companhia ao meu rei. Mas Nilson, bote o meu bem coladinho ao dele, quem sabe eu faça umas carícias nele!

E deu aquela risada gostosa que só ela sabe dar.

Meu neto que ainda não “inteirou” três anos, quando vou visitá-lo, ele olha para mim e diz: “Vovô, vovô Nilson”. E logo vai cantando (só as duas primeiras estrofes) “Estrada de Canindé”, que segue para quem quiser:

Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e uma cabocla
Cum a gente andando a pé
Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e a lua branca
No sertão de Canindé
Artomove lá nem sabe se é home ou se é muié
Quem é rico anda em burrico
Quem é pobre anda a pé
Mas o pobre vê nas estrada
O orvaio beijando as flô
Vê de perto o galo campina
Que quando canta muda de cor
Vai moiando os pés no riacho
Que água fresca, nosso Senhor
Vai oiando coisa a grané
Coisas qui, pra mode vê
O cristão tem que andá a pé.

Amigo, desculpe a extensão do comentário, mas estou falando do único rei brasileiro que reverencio.

E encerro meu texto com uma frase do discurso de Cortez a quem, sem ser rei, exalto também e tenho saudades do dia da inauguração, final de1974:

– Este projeto nasceu da coragem e imaginação de um governo que soube antecipar o futuro!

Nilson Gurgel é economista

*Crônica originalmente publicada em nossa página no dia 28 de outubro de 2012 (veja AQUI), há quase dez anos, por um amigo falecido no dia 7 de junho de 2016 (veja AQUI).

Reproduzir essa crônica é uma forma, modesta, de homenageá-lo. Que Nilson Gurgel descanse em paz.

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Categoria(s): Crônica
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domingo - 01/05/2022 - 07:20h

Mistério? Onde?

Por Marcelo Alves

Hoje vou misturar alguns assuntos da minha predileção: os romances policiais/detetivescos e os seus subtipos e a tendência (quase mania) que temos hoje de elaborar listas sobre as mais diversas coisas (os dez mais ricos, as vinte mais bonitas, os cinquenta melhores e por aí vai).

Os especialistas classificam os romances policiais em dois tipos: policiais de enigma e policiais noir, também chamados, respectivamente, de policiais ingleses e policiais americanos, levando em consideração os países de onde esses dois subgêneros teriam se originado.Romance-Policial-ID

Nos policiais de enigma – de gente como Arthur Conan Doyle (1859-1930), C.K. Chesterton (1874-1936) e Agatha Christie (1890-1976), o leitor é “convidado” a desvendar o crime. Ele segue os passos e o raciocínio do detetive através de um jogo de pistas e charadas até o final, em regra, surpreendente.

O mistério é, de fato, o mais importante da estória, muito mais que o ambiente em que ela se passa. Já nos policiais noir – de craques como Raymond Chandler (1888-1959), Dashiell Hammett (1894-1961), James M. Cain (1892-1977) e Ross MacDonald (1915-1983) – temos um mundo estranho e corrompido, e essa atmosfera na qual estão as personagens, “carregada” até visualmente (daí o termo “noir”), é tão ou mais importante do que a trama em si.

A elaboração de listas também é um caso antigo, mas que, até para podermos lidar com a enormidade de informações de hoje, tem virado uma “febre”. Eu mesmo possuo um livrão, “10.000 Things You Need to Know: the Big Book of Lists” (edição de Elspeth Beidas e publicado pela Universe Publishing em 2016), que acho o máximo. Adoro folheá-lo.

O fato é que estes dias topei com uma classificação de romances policiais, com as respectivas listas de títulos indicados, que achei inusitada. Foi no site literário Goodreads, que aponta “100 Mystery and Thriller Recommendations by Setting” – “100 mistérios e suspenses recomendados/classificados pelo ambiente onde se passa a estória”. Tipo: uma biblioteca, um quarto de hotel, no teatro, no escritório, um apartamento decrépito, à mesa, uma casa de campo, um quarto trancado por dentro, em um campus universitário, na igreja, um lugar extremamente frio, aviões e trens, um barco, na praia, uma ilha, através do tempo ou no espaço sideral.

Eu vou escolher três desses locais para tratar. Os de minha preferência para frequentar ou para fins de um bom mistério/suspense/crime (ficcional, deixo isso muito claro). Vou de biblioteca, campus universitário e igreja.

Para a biblioteca, vou com a amiga Agatha Christie em “Um corpo na biblioteca” (“The Body in the Library”, 1942). Em Gossington Hall, na mansão do coronel Arthur e Dolly Bantry, o corpo de uma bela jovem é encontrado na biblioteca. “Quem era a jovem? O que ela estava fazendo na biblioteca? E há uma conexão com outra garota morta, cujos restos carbonizados são achados em uma pedreira abandonada?”, indaga o Goodreads. É um caso para Miss Marple.

Para o campus universitário, vou viajar com Guillermo Martínez (1962-), da Argentina para o Reino Unido. O título é “The Oxford Murders” (“Crímenes imperceptibles”, 2003), pois foi a versão em inglês que li, maravilhado, numa temporada de estudos na cidade universitária. Em um dia de verão, um estudante argentino encontra sua senhoria – uma idosa que ajudou a decifrar o Código Enigma na 2ª Guerra Mundial – friamente assassinada.

Um célebre lógico da universidade recebe uma correspondência anônima com um símbolo estranho. Os símbolos e os assassinatos vão se sucedendo. Cabe aos dois matemáticos deter um serial killer. Já não me lembro mais do final. Vou ler novamente. Embora desta vez em casa, infelizmente.

E, na Igreja, mais precisamente numa abadia da Itália Medieval com uma labiríntica biblioteca, investigo na companhia de Umberto Eco (1932-2016) e seus Guilherme de Baskerville e Adso de Melk, em “O nome da rosa” (“Il nome della rosa”, de 1980). É o cenário de sete dias de “crimes e castigos” imaginados por Eco, misturados nas vidas religiosa e ideológica do século XIV, com suas ortodoxias e heresias, que passaram a compor meu conhecimento (e imaginário).

Por fim, afirmo: não tenho qualquer intenção de me mover para um lugar extremamente frio, para o espaço sideral ou muito menos através do tempo. Nem mesmo tenciono devanear estar por lá resolvendo mistérios. Mas fiquem à vontade. Consultem o Goodreads e o texto “100 Mystery and Thriller Recommendations by Setting”. Cada qual com seu gosto.

Marcelo Alves Dias de Souza é procurador regional da República e Doutor em Direito (PhD in Law) pelo King’s College London – KCL

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Categoria(s): Crônica
domingo - 01/05/2022 - 05:36h

A “Geni” das profissões

Por Marcos Araújo

Embora seja uma das mais antigas e consideradas profissões, nenhuma outra mostrou-se tão polêmica ao longo dos tempos quanto a advocacia. A história registra momentos de alternância entre prestígio e perseguição aos advogados. Enaltecida ou execrada, conforme a época e as circunstâncias, a advocacia foi chamada por Marco Túlio Cícero como um “nobre e régio labor”, e por Robespierre “o amparo da inocência”.advocacia

Pouco tempo depois da Revolução Francesa, Napoleão Bonaparte passou a perseguir os causídicos, costumando dizer, no melhor estilo de sua formação militar e autoritária, que “os juízes distorcem a lei e os advogados a matam”. Frederico II, da Prússia, pretendeu abolir a profissão em seu país, o que, evidentemente, não conseguiu.

Francisco Petrarca, célebre poeta medieval italiano, disse não pretender advogar para não seguir uma carreira que não deixava alternativa entre “ser desonesto ou parecer ignorante”.  De Santo Ivo, ilustre patrono da classe, advogado dos humildes e miseráveis, a quem defendia sem nada cobrar, costumava dizer-se: “Santo Ivo era bretão, Advogado, honesto, não ladrão Coisa de admiração!”.

A literatura saxônica guarda páginas desalentosas sobre os advogados, tendo o bardo Shakespeare escrito uma frase reativa à categoria: “A primeira coisa que devemos fazer é matar os advogados” (Henrique VI, Ato IV, cena 11).  Outro blague vem num insólito diálogo entre Hamlet e Horácio, perante o crânio anônimo, perfazendo um insulto ao perguntar: “Não será porventura a caveira de um advogado? Onde estão agora as suas cavilações, os seus sofismas, o seu casuísmo, as suas usurpações e as suas trapaças?” (Ato V. Cena I).

Em que pese as críticas, os valores humanitários mais defendidos, como democracia, liberdade e dignidade, são contribuições de célebres advogados. Em memória mais próxima, cabe lembrar os americanos Thomas Jefferson, George Washington, Abraham Lincoln; e na história brasileira José Bonifácio, Rui Barbosa, Sobral Pinto, Affonso Arinos, Raymundo Faoro, Seabra Fagundes.

No Brasil, a execração de advogados criminalistas é prática comum, associando-os equivocadamente aos seus clientes. O célebre Evaristo de Morais Filho foi muito atacado por ter defendido o presidente Collor;  Roberto Podval foi ameaçado, por ter aceito a defesa do casal Nardone; Márcio Thomaz Bastos morreu com a indevida pecha de ter defendido Carlinhos Cachoeira…

Nada mais perigoso para o Estado de Direito do que o vilipêndio aos profissionais que estão nas trincheiras da democracia, garantindo o direito de defesa dos acusados. Embora odiando advogados, Moro e Joaquim Barbosa se inscreveram na Ordem dos Advogados, o que parece ser um paradoxo… Aos que defenestram a advocacia, lembro Carnelutti, “a essência, a dificuldade, a nobreza da advocacia é esta: sentar-se sobre o último degrau da escada, ao lado do acusado, quando todos o apontam”.

Como a “Geni” descrita por Chico Buarque, apesar de enxovalhado por muitos, ao advogado cabe “defender a cidade do Comandante do Zepelim gigante”, atendendo aos contritos pedidos feitos pelo “prefeito de joelhos, bispo de olhos vermelhos, e o banqueiro com um milhão”. Após a sua dedicação, e já afastada a ameaça, volta-se contra ele a turba a desferir-lhe impropérios de desvalia.

Tenha você, advogada e advogado, orgulho da sua profissão. Ave, advocati!

Marcos Araújo é professor e advogado

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Categoria(s): Crônica
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domingo - 01/05/2022 - 04:02h

Texto de quase bêbado

Por François Silvestre

E nessa condição vou esnobar cultura. Amanhã estarei ou não arrependido. Não pela demonstração da burrice oficial militar do país, mas pela exibição das coisas simples que conheço as quais me permitem expor o analfabetismo dessa gente.bebida, cerveja, chope

Vi hoje um vídeo do general presidente do Superior Tribunal Militar (STM). Não sei seu nome. Falou durante cinco minutos. Cometeu quatro erros de português. Crassos. Quase um erro por minuto.

Aí, me veio à memória uma fala de Bolsonaro contra a cultura vasta. Disse ele, do alto da sua sublime ignorância, que a escola tinha por base fundamental ensinar português e matemática. Portanto, os militares cumpriam essa tarefa educacional.

Aí, eu pergunto ao general: O que enuncia o Teorema de Pitágoras? O senhor sabe? Eu sou nulo em matemática, mas sei. A soma dos quadrados dos catetos é igual ao quadrado da hipotenusa. Fácil decorar isso, né não? Quer dizer o quê? Pegue uma folha de papel, desenhe um triângulo retângulo, a linha vertical é um cateto e a linha horizontal é outro cateto. A linha que une as duas pontas dos catetos é a hipotenusa, que se opõe ao vértice do triângulo.

Basta você fazer um quadrado na linha da hipotenusa pra descobrir que esse quadrado é a soma dos quadrados que você fará dos catetos. Entendeu, general? Serve pra quê? Pra quase tudo na medição e rigidez das construções. O triângulo retângulo é figura mais rígida da geometria. Pitágoras foi o gênio da simplicidade.

General, o senhor sabe o enunciado da lei da gravidade? Eu sei. Matéria atrai matéria na razão direta do produto das massas e na razão inversa do quadrado das distâncias. Isso quer dizer o quê, general?

Quer dizer que quanto maior a massa de um corpo, mais ele atrai o corpo de menor massa. E quanto mais distante estiver o corpo de maior massa, menos será a sua força de atração. Sacou, general? Vá estudar.

Estou quase bêbado. Mas, inversamente proporcional à burrice.

P.S: Isaac Newton, da gravidade, disse “ter visto mais distante por estar sobre os ombros de gigantes, e Pitágoras era um deles”. Sobre os ombros de Newton, Albert Einstein e Stephen William Hawking viram mais longe ainda.

François Silvestre é escritor

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Categoria(s): Crônica
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