Por Inácio Augusto de Almeida
Peço caldo de cana e pastel. Enquanto espero, lembro-me de quando meu pai me levava para comer pastel com refresco de maracujá numa lanchonete que ficava próxima à Farmácia dos Pobres.
Olho a rua e na calçada a passar uma mulher com um barrigão enorme e uma gigantesca expressão de felicidade estampada no rosto. Certamente estava perto de ser mamãe.
Penso nos grupos que lutam pela legalização do aborto sempre apoiados por religiosos e políticos descompromissados com os princípios da fé cristã.
São os Herodes modernos, sempre vistos comemorando o aumento geométrico do número de suas INDEFESAS vítimas.
São os que matam pelo prazer de matar.
Em bandos se organizam para acobertar seus indefensáveis crimes. Crimes que passam a chamar de DIREITOS SEXUAIS REPRODUTIVOS. Rotulam pomposamente o mais indefensável de todos os crimes.
Covardes, atuam sempre em conjunto, tal qual hienas, e contam com total apoio de uma imprensa mantida pelos compromissados apenas com o interesse econômico.
E com o apoio de religiosos negacionistas dos ensinamentos que juraram propagar com o sacrifício da própria vida, se necessário for.
Por ambição, esquecem as promessas e rasgam as juras. E se dedicam de corpo e alma a uma luta contra princípios que jamais poderiam atacar.
Para isto tentam amortecer as suas consciências com as mais esfarrapadas desculpas.
Antes argumentavam que o mundo não conseguiria alimentar tantas bocas e matar, para evitar a explosão demográfica, era preciso. Pintavam um mundo superpopuloso, cheio de doentes e famintos, nos descrevendo cenas que faziam o inferno parecer o paraíso.
Foram desmentidos pelo tempo. E esta falácia genocida não serve hoje nem para piada de mau gosto.
A produção de alimentos explodiu, a evolução da medicina aumentou a expectativa de vida, a engenharia deu um salto e moradias, construídas em série, existem para todos.
Se muitos passam fome, carecem de remédios e não têm moradias, a culpa é da pior praga que continua existindo e não é combatida com firmeza.
A CORRUPÇÃO.
Uma voz grita dentro da minha cabeça e mostra a grande verdade. Nenhuma criança pede para nascer e, muito menos, para morrer.
Reflito.
E quanto mais reflito mais fico sem entender um religioso falar de amor ao semelhante e defender o assassinato de criancinhas ainda no ventre materno. Fazem isto para ato seguinte distribuir o corpo de Cristo junto com bençãos mil.
E tudo isto dentro da CASA DE DEUS.
Casa que estão esvaziando porque o verdadeiro POVO DE DEUS condena esta conduta que faz lembrar os campos de DACHAU e de AUSCHWITZ.
Fico buscando uma música mais linda do que o choro de um recém-nascido acompanhado daquele movimento de pernas a lembrar um balé celestial.
Não encontro.
A quem interessa o fim da espécie humana?
Na garapeira da Alberto Maranhão, mesma rua da Igreja de São Vicente, igreja que serviu de trincheira para enfrentar o bandido Lampião e seu bando de assassinos, sou desperto destes pensamentos pela chegada dos pastéis quentinhos e do caldo de caldo de cana geladinho.
Não consigo deixar de continuar mergulhado nestes pensamentos e esqueço o pastel e o caldo de cana. Prossigo na busca de razões para justificar tanto ódio a criancinhas ainda em formação, sem condições sequer de defender o seu direito à vida.
Na rua a mulher gestante passou tão alegre, feliz, certamente sonhando um futuro venturoso para o filho carregado na barriga, irradiou tanta felicidade e fez a todos feliz.
Enquanto isto, infelizes tramam a morte de inocentes em nome de uma modernidade idiota e geradora de remorsos quando o outono da vida chegar.
O pastel esfriou. O caldo de cana continua doce e a vida mais bela.
Inácio Augusto de Almeida é escritor e Jornalista