Por Marcos Ferreira
Nunca fui de fato um boêmio. Não ao menos por natureza. Embora tenha ido a certos lugares etílicos por um determinado tempo. Isto em companhia dos notívagos Caio César Muniz, Túlio Ratto e Cid Augusto. Eu frequentava os bares e alguns outros endereços onde se adquiria bebida alcoólica, no entanto nunca passei de uma garrafinha ou duas de refrigerante.
Hoje, por respeito à saúde, não bebo nem mais isso. Só uma vez por ano sucumbo à tentação de uma KS geladinha.
Há outras coisas que mudaram. Refém da Netflix, costumo assistir a vários filmes. O mais recente que vi foi “O Pálido Olho Azul”, longa-metragem bem-bolado que destaca a vida do poeta americano Edgard Allan Poe. Há poucos dias, a propósito, essa película ganhou uma bela resenha de Cid Augusto. Então, quanto a “O Pálido Olho Azul”, depois da resenha de Cid, não tenho mais nada a declarar.
Com o tempo, em especial quando a literatura “se fez mais forte/ mais sentida”, como na canção do Peninha, tornei-me recluso. Durante determinada parte do dia, embora não seja aposentado, eu me dedico ao exercício da palavra escrita, feito agora acontece. À noite, para descontrair, armo uma rede e vou me entreter com a sétima arte. A essa altura, porém, já tenho tomado meu arsenal de remedinhos e aí acontece de eu deixar cerca da metade das cenas para a noite seguinte.
É isto. Não mais me sinto confortável ou à vontade nesses espaços muitas vezes barulhentos, com música ao vivo e pessoas falando alto ao mesmo tempo. É por essas e por outras razões que não boto meus pés na praia de Tibau nessa época do ano. Um empresário ricaço deste município chegou a me oferecer duzentos mil reais para que eu passasse o final de semana em Tibau, porém recusei.
Como dizia Camões: “mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Além de não mais ir a bares, lugares que se encontram cheios de homens vazios, segundo afirmou Vinicius de Moraes, habituei-me a viver só e a ter uma vida social mínima, com um pequeno número de amigos de fato verdadeiros.
Com isto não pretendo dizer que as pessoas que frequentam os referidos bares sejam inferiores ou vazias. Não. Tal frase, a meu ver, não passa de uma boutade do autor de “Pátria Minha”.
No momento, para que ninguém diga que veio a esta casa e não bebeu coisa nenhuma, tenho a oferecer um bom café numa residência novinha. Como a obra está nos acabamentos, não entrarei em detalhes. Mas Carlos Santos e Elias Epaminondas já cantaram a bola e disseram que devemos (regado a café) promover um sarau para inaugurarmos a casa.
Concordo e todos serão bem-vindos.
Marcos Ferreira é escritor