• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
domingo - 01/05/2022 - 08:34h

Luiz Gonzaga, Cortez Pereira e o sonho da Serra do Mel

Por Nilson Gurgel

Falar sobre Luiz Gonzaga é um prazer tão grande quanto é ouvi-lo. Orgulho-me de ter tido um momento com ele, foi no final do ano de 1974.

Na época eu era Diretor Técnico e Executivo da Cimparn e estávamos concluindo a implantação física do projeto das vilas rurais da Serra do Mel, quando o governador Cortez Pereira me chamou e disse:

Luiz Gonzaga na Revista O Cruzeiro, edição de 12 de setembro de 1952 (Reprodução de página de Rostand Medeiros)

Luiz Gonzaga na Revista O Cruzeiro, edição de 12 de setembro de 1952 (Reprodução de página de Rostand Medeiros)

– “Cabeludo” (como carinhosamente me chamava), meu mandato foi reduzido em um ano e quero encerrá-lo com uma grande festa de inauguração do Projeto lá na Serra do Mel. Prepare tudo, você tem 15 dias!

Aí lhe respondi: “Sem problema, doutor Cortez.”

Tratei de arrumar tudo e na véspera da dita, fui ao Palácio Potengi para fazer uma checagem das coisas com ele. Ao final, o governador olhou para mim e disse:

– Só está faltando uma coisa, mas um amigo vai mandá-lo para nós. É o Luiz Gonzaga que está fazendo um show no Recife hoje à noite e amanhã o Zé Lins ( José Lins de Albuquerque, superintendente da Sudene na época) traz ele para nós no Asa Branca (nome do avião da Sudene).

E completou: “Já está tudo acertado, volte para Serra e me espere amanhã cedo.”

No dia seguinte chega doutor Cortez e logo em seguida Luiz e Zé Lins.

Caro amigo Carlos Santos, foi um dia inteiro na companhia do rei. Tanto ele cantava, como tocava, como contava piadas e conversava. Era só alegria e terminei indo deixá-lo no Recife no avião do estado, pois o Zé Lins, em razão de compromissos, teve que ir antes.

Luiz atendeu a todos tocando, cantando e autografando. Para se ter uma ideia da dimensão do evento, só famílias já assentadas havia no projeto 518 com cerca de 6,2 pessoas em média para cada uma e todas estavam presentes.

Faltaram guardanapos e pratos de papelão. Todos viraram autógrafos. O autógrafo que pedi, único de minha vida por anos, se juntou anos mais tarde ao de Tânia Alves (cantora e atriz) que quando me deu o dela e soube que ia fazer companhia ao de Luiz Gonzaga, saiu com esta:

– É uma honra fazer companhia ao meu rei. Mas Nilson, bote o meu bem coladinho ao dele, quem sabe eu faça umas carícias nele!

E deu aquela risada gostosa que só ela sabe dar.

Meu neto que ainda não “inteirou” três anos, quando vou visitá-lo, ele olha para mim e diz: “Vovô, vovô Nilson”. E logo vai cantando (só as duas primeiras estrofes) “Estrada de Canindé”, que segue para quem quiser:

Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e uma cabocla
Cum a gente andando a pé
Ai, ai, que bom
Que bom, que bom que é
Uma estrada e a lua branca
No sertão de Canindé
Artomove lá nem sabe se é home ou se é muié
Quem é rico anda em burrico
Quem é pobre anda a pé
Mas o pobre vê nas estrada
O orvaio beijando as flô
Vê de perto o galo campina
Que quando canta muda de cor
Vai moiando os pés no riacho
Que água fresca, nosso Senhor
Vai oiando coisa a grané
Coisas qui, pra mode vê
O cristão tem que andá a pé.

Amigo, desculpe a extensão do comentário, mas estou falando do único rei brasileiro que reverencio.

E encerro meu texto com uma frase do discurso de Cortez a quem, sem ser rei, exalto também e tenho saudades do dia da inauguração, final de1974:

– Este projeto nasceu da coragem e imaginação de um governo que soube antecipar o futuro!

Nilson Gurgel é economista

*Crônica originalmente publicada em nossa página no dia 28 de outubro de 2012 (veja AQUI), há quase dez anos, por um amigo falecido no dia 7 de junho de 2016 (veja AQUI).

Reproduzir essa crônica é uma forma, modesta, de homenageá-lo. Que Nilson Gurgel descanse em paz.

Compartilhe:
Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Amorim diz:

    Não percam tempo,
    Ele não retrocede!
    Tempo ainda pode ter
    Com amor e alegria
    Que o coração pede
    Vai, levanta-te ande
    Dê uma chance, faça!
    Só VOCÊ pode e deve
    Retrocede não, mas
    Recupere, vai ainda,
    Tempo haverá de ser feliz
    Erros cometemos; conserte
    E não repita,
    Peça sinceras desculpas
    Esclareça , mesmo que
    O vivente ser não tenha percebido
    Alivie o coração seu,
    O importante é a opinião
    Que nós temos da vida nossa
    E mais, não sejamos cabido!

    Um bom domingo
    PS. Sei que estou ferindo os verdadeiro Poetas.

Faça um Comentário

*


Current day month ye@r *

Home | Quem Somos | Regras | Opinião | Especial | Favoritos | Histórico | Fale Conosco
© Copyright 2011 - 2024. Todos os Direitos Reservados.