Por Marcos Ferreira
Parece até piada pronta, mas não é. A Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (CAERN) está em chamas. A empresa vinha tentando apagar o fogo por conta própria, mas a situação fugiu do controle e o caos explodiu na semana passada. A boca é quente! Sua gestão, que já se encontrava queimada, agora virou cinzas. Outra vez, de forma negativa, Mossoró irrompe no cenário da mídia nacional (e também aos olhos da imprensa internacional) com um novo vexame.
Dezenas de repórteres da Rede Globo (incluindo equipes do Fantástico) ocupam hotéis do município. São tantos que até o Hotel Caraúbas está lotado. William Bonner e Renata Vasconcellos não têm dormido direito por causa da grande ansiedade de transmitir, em primeira mão, o desfecho dessa crise hídrica.
Mas o páreo é duro. Entre outros que buscam dar o furo jornalístico, estão CNN, The New York Times, The Washington Post, Folha de São Paulo, USA Today, Jornal de Fato, Brasil 247, Jornal O Mossoroense, Le Mond, Estadão, 95 FM, BBC News, The Guardian, Correio Braziliense, Blog Carol Ribeiro, O Câmera, Passando na Hora, Mossoró Hoje, Na Boca da Noite, Inter TV, TCM Telecom, Rádio Difusora, Revista Papangu, Blog do Barreto, Blog Carlos Santos e o Fuxiqueiras News, este último aqui da Rua Euclides Deocleciano, no Conjunto Walfredo Gurgel.
Veículos do Corpo de Bombeiros de Mossoró, de Natal, Parnamirim, Fortaleza e de João Pessoa estão atuando durante vinte e quatro horas por dia para debelar as chamas, no entanto o incêndio é de magnitude vulcânica.
Com urgência urgentíssima, a governadora Fátima Bezerra transferiu o governo do Rio Grande do Norte para Mossoró e está na cidade cercada por toda a sua tropa de gerenciadores de crise. O atual presidente da estatal, Roberto Sérgio Linhares, encontra-se à beira de um colapso nervoso. Enquanto isso o ministro da Justiça e Segurança Pública, que não suporta mais nem ouvir falar no nome de Mossoró, o senhor Ricardo Lewandowski, está retornando a este cafundó do judas. Portanto, Lewandowski desembarcará na província ressequida a qualquer momento.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cancelou a sua agenda e também virá com os comandantes das Forças Armadas a tiracolo. Aquele aparato policial disponibilizado para a captura dos dois fugitivos da penitenciária de segurança “máxima” de Mossoró (integrantes do Comando Vermelho) agora será redirecionado para compor os esforços no sentido de prender ladrões de água potável.
Sim. Toda essa barafunda se deve ao fato de que poços da Caern vêm sendo constantemente atacados por elementos cuja identidade ainda é um mistério. Os indivíduos, por meios que a Companhia não consegue explicar, têm furtado muita água da empresa, sobretudo durante a madrugada. A Caern acionou as polícias civil, militar, federal, Ibama, todos os grupos de escoteiros de Mossoró, rezadeiras de tudo quanto é parte, entretanto a água continua sendo desviada de um modo quase sobrenatural. Comenta-se nos escritórios da Avenida Alberto Maranhão que gerentes e supervisores locais da Caern estão em polvorosa, puxando os próprios cabelos, sem que nenhum deles compreenda como é possível, da noite para o dia, tanta água ser roubada.
Os políticos potiguares, angustiados e com os olhos vermelhos menos pela comoção que pela fumaça, deixaram de lado as suas futricas, questiúnculas e diferenças partidárias. Agora estão unidos em favor de medidas que possam salvar a Caern das lavas desse vulcão que segue devastando a Companhia.
A situação é gravíssima, bem pior do que aquele espetáculo de aspecto cinematográfico protagonizado pelos fugitivos que conseguiram escapar da penitenciária de segurança “máxima” desta aldeia. Comparado ao problema de agora, aquilo é fichinha. Portanto, órgãos de imprensa de várias partes do planeta estão na terra da “liberdade” para cobrir a captura dos fora da lei com os quais a população desassistida simpatiza e chama apropriadamente de Quadrilha da Torneira. Tais “espíritos” (repito que ninguém sabe dizer como) transferem água de poços com bom funcionamento para os lares onde a Caern não coloca uma gota d’água desde o ano passado.
Graças à ação dos infratores, ou seres extraterrenos, correm boatos de que pessoas dos subúrbios desabastecidos conseguem tomar até um banho por semana, cozinhar, lavar umas três ou quatro calcinhas e cuecas, panelas, pratos, e também dar de beber a bichinhos domésticos como cães e gatos, que têm sofrido com a falta d’água. A felicidade geral é quando bate uma chuva e os munícipes conseguem captar parte dessa água. Registre-se que os banhos não são propriamente banhos. São tomados usando panos molhados, como se o cidadão fosse uma espécie de vidraça humana.
O serviço de inteligência da empresa, que entrou em parafuso, acha que a Quadrilha furtou cerca de oitocentos a um milhão de litros do precioso líquido das instalações da estatal. A Caern não faz a menor ideia, claro, do número de sujeitos que integra a Quadrilha da Torneira. Esses Robin Hoods urbanos, como foi dito, acodem famílias carentes que não têm como pagar por carros-pipa que são vendidos e disputados pelos condomínios de luxo ao preço de mil e quinhentos reais. Ainda assim, apesar das façanhas dos “ninjas”, a quantidade subtraída é pouca para atender a tantos necessitados. Porque o desabastecimento é de uma abrangência nunca vista.
— Deus, proteja a Quadrilha! — rogam as vidas secas desta urbe, às quais a Caern só envia a conta de uma água que ela não fornece.
Os irmãos e músicos Caetano Veloso e Maria Bethânia vão dar uma pausa nos preparativos para a turnê conjunta, anunciada para o início do mês de agosto, e vêm ao País de Mossoró ver de pertinho o que Vulcano (deus do fogo) anda aprontando por aqui. Por sua vez, Jair Bolsonaro solta fogos de sua nova mansão em Brasília, onde se refugiou com medo de Alexandre de Moraes e da Polícia Federal. Pois é, o futuro morador de Bangu 8 está gostando do caos da Caern. Não menos desprezível, o sevandija Donald Trump também deseja ver a Caern carbonizada.
Em solidariedade à situação dramática em que se meteu a Caern, Vladimir Putin e Volodymyr Zelensky anunciaram um cessar-fogo na guerra entre Rússia e Ucrânia. O mesmo gesto foi copiado pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, e pela cúpula do Hamas. O papa Francisco, em suas triviais orações, suplica ao Todo-Poderoso para que a Quadrilha da Torneira seja trancafiada em uma prisão de segurança máxima. “Que não seja naquela cidade!”, apela o pontífice.
— Deus do Céu, proteja nossos benfeitores!
É dessa forma que a população desvalida, que padece nos bairros onde um litro de água está custando os olhos da cara, reza ao Altíssimo para que livre e guarde a infalível, louvada e miraculosa Quadrilha da Torneira.
Marcos Ferreira é escritor
“- Ora, ora, Quadrilha das Torneiras. Não vis esqueçais dos Meninos do Cobre. Acudai-nos”, entoa Danuzinha. E o domingo está salvo. Bela crônica, M.
Há tempos não me fartava de tanta ironia, enchi a pança. O sabor está delicioso, obrigado pela pândega
Boa tarde, caro poeta.
Assunto por demais importante para o momento…
A nossa rua, Kléber Dantas Bezerra, aqui no Alto de São Manoel tem mais de dez dias que não pinga uma gota na torneira… Mas a fatura no final do mês nunca falha… Outro detalhe é que, aqui por trás, na rua paralela, Souza Pinto, tem mais de dezoito dias que derrama água, rua abaixo num vazamento sem fim… Os vizinhos registraram queixa por duas vezes, porém até agora a CAERN não veio apagar o fogo… É sorrir pra não chorar…
Olá, Marcos!
Como você bem o disse, parece piada o sofrimento da população em relação a falta d’água em alguns bairros. Vez por outra pagamos caro pelo precioso líquido! Valendo salientar, que o valor da conta permanece inalterado, como se não houvesse interrupções no abastecimento. É preciso urgente, mudar essa realidade!
Obrigada, pela voz!
Abraços
Seria cômico, se não fosse trágico. Que situação! Num outro momento, o editor do Blog Carlos Santos, gravou um vídeo quando faltou água na hora que ele tentava tomar um banho. Difícil! Houve uma época, aqui em Caruaru, que faltava água por dias e meses. Tínhamos que abastecer nossas residências comprando água de carros-pipa. Cansei de protocolar boletim com a Compesa. Reclamava. E água, nada! Fiquei traumatizada! Que tempo difícil. Hoje vivo tocaiando o calendário de abastecimento. Por conta da falta de água, foi retirada a boia e o controle tem que ser constante. Ligar e desligar a passagem de água. Aqui e acolá eles interrompem o abastecimento. Mas considerando o passado, estamos felizes! Com esse calor infernal (imagino que Mossoró, já sendo uma cidade de temperatura quente), esteja enlouquecendo a população que deseja um banho. Sinto muito por vocês! Reclamem!
Uma linda Ferreirada barrrocodélica. ,(Parafraseando Haroldo de Campos).
Meu Caríssimo Marcos Ferreira , mais uma obrigado por.nos brindar com sua verve sarcástica e criativa ao abordar a questão quase secular da famosa Caern, por muitos,.ilustrada usada e abusada, inclusive jornalísticamente, como marketing pessoal e.politico partidário, como se r. Caern fora fundada no Governo Fátima Bezerra .
As digamos criativas e oportunas hipérboles bem como o sarcasmo tão bem utilizados e empregados em vosso benfazejo escrito, também,.muito nos diz, fala e demarca o quão nosso jornalismo, sobretudo o praticado no âmbito do mundo virtual,.muitas e.muitas vezes pode estar deveras contaminado pelo superficialismo, imediatismo e busca de fama, likes,.poder e dinheiro fácil.
Tudo bem! Mas até o Hotal Caraubas lotado foi demais. Kkkkk
Um abraçaço Caro amigo
TOMARA QUE CHOUVA 3 DOAS SEM PARAR.
Retificando. Dias.