O elo inquebrável
Por Marcos Ferreira
Com vinte e oito anos de idade, completamente avessa à ideia de ser mãe, Laura Gondim é uma mulher não só de um rostinho bonito, com seus grandes olhos claros, esverdeados, com negro e curto cabelo sempre muito bem tratado, mas também uma “pequenina boneca de carne”, como diz a canção do Vicente Celestino. É, ainda, uma barata de academia, pois puxa ferro quase que diariamente.
Além do cuidado com a alimentação, ela consome alguns suplementos vitamínicos. Embora baixinha, medindo menos de um metro e sessenta, Laura possui um corpo escultórico, de fato invejável, em especial uma bunda que, se não chega a isso, beira a perfeição.
Muito mais do que um corpo modelar, seja dito, ela é dona de uma personalidade insubordinável, cativante e manipuladora. Tanto que faz Jaime e o primo Reginaldo de gato e sapato. Não é de maneira alguma inclinada a leituras, implica com os livros de Jaime mais por pirraça, todavia é inteligente, de uma perspicácia e de um senso de humor cortantes como poucas vezes encontramos por aí.
Ambos estavam ligeiramente extenuados, mas logo o seu vigor físico se renovaria. Depois que terminaram o sexo — pois era apenas isso que eles faziam: sexo puro e simples, ardente e depravado —, Jaime e Laura se aquietaram sobre a cama. Ficaram em silêncio por cerca de um minuto, cada qual pensando com os seus botões. Ele arrumou o travesseiro sob a cabeça e cruzou os dedos embaixo da nuca.
Parte do lençol lhe ocultava os órgãos genitais. Laura, porém, que havia acendido um dos cigarros de Jaime, tinha o corpo nu, inteiramente exposto, a vulva de negros pentelhos contrastando com sua pele branca ao extremo. Encontravam-se um pouco suados, mas não fazia calor. O clima era agradável naquele final de manhã de setembro.
Alheios à repercussão do atentado aos Estados Unidos, que gerou vários tsunamis de informações e repercussões na mídia do Brasil e do mundo inteiro, o insólito casal, adepto de um triângulo promíscuo que envolvia o repórter político Reginaldo Marinho, primo legítimo de Laura, só estava preocupado naquele momento com o destino profissional e financeiro de Jaime. Especialmente Laura.
Ela, enfermeira do Hospital Regional Tancredo Neves, parecia esperar que Jaime tirasse da manga uma carta salvadora, um milagroso coelho da cartola, alguma opção de trabalho fixo que pudesse se equiparar ou melhorar o orçamento deles. O ramo de imprensa em Mondrongo, como em toda parte, em particular a mídia impressa, estava ruim das pernas havia bastante tempo. A Tribuna Mondronguense se via às vascas da morte financeira.
O Diário do Oeste, outrora campeão de audiência no município e região, também agonizava e, a exemplo da Tribuna, já fizera algumas demissões. Por essa época começava o advento da Internet, o fenômeno dos blogues, sites e portais se estabelecendo. A debacle era iminente. Os anunciantes escasseavam.
— E então, Jaime, o que você pretende fazer?
— Não sei. Ainda estou assimilando o golpe.
— Fico pensando se essa demissão repentina não está relacionada às suas críticas ao prefeito. Sabemos que você às vezes pega pesado através da literatura, e aquele rapazinho tem fama de perseguidor. Pode ter se mancomunado com o diretor Alberto Cardoso. Não duvido nada desse prefeito songamonga. Quem quiser que o compre por justo e correto. Você viu o que ele aprontou com o próprio vice, puxou o tapete do cara e deixou o sujeito chupando o dedo. Depois teve aquele espetáculo midiático que ele estrelou na maternidade do Tancredo Neves: filmou parcialmente a sala de parto no momento em que uma mulher dava à luz e postou nas redes sociais.
— Não creio que Wallace Batista tenha nada a ver com isso. Falo no tocante à minha demissão. No mais eu sei que ele não é flor que se cheire. A Tribuna Mondronguense faz oposição aberta a ele. Será muita conspiração, coisa de romance policial, se ele e Alberto Cardoso tiverem reunido seus “podres poderes” para me demitir, juntando o útil ao agradável.
Prefiro acreditar, sendo bem racional, que minha demissão foi acelerada pela animosidade que Alberto Cardoso tem contra mim e também devido às condições do meio jornalístico, que são mesmo precárias.
Quase dez centímetros mais alto que Reginaldo, que mede pouco mais de um metro e setenta, Jaime não possui feições tão belas quanto as do primo de Laura, no entanto é um indivíduo mais culto e bem-dotado sexualmente. Vantagem esta que decerto empata o jogo entre quatro paredes comandado por Laura.
— Vamos lá! Me mostre o que você tem aí.
— Eu gostaria que terminasse com Reginaldo.
— De novo esse assunto?! Ficará como está!
— Antes eu não me importava. Mas agora…
— Agora você tem que pensar é em trabalho, em arrumar outro emprego. Não vou ficar com um homem dentro de casa sem fazer nada.
— Já está me mandando para a rua também?
— Não. Só lhe recordando que há prioridades.
— Tenho algumas coisas em mente. Planos.
— Por acaso eles envolvem algum dinheiro?
— Eu decidi que vou vender os meus livros.
— Que livros?! Essas velharias das estantes?
— Sim. Você não é louca para se livrar deles?
— Não posso negar. Mas não valem muita coisa.
— Qualquer dinheiro a esta hora é bem-vindo.
— Está bem. Tem minha completa aprovação.
— Lógico. Nunca gostou da presença deles.
— Nem eles da minha. Atacam minha rinite.
Fumante esporádica, ela compartilhou o cigarro com ele. Cruzou a perna direita, cobrindo a pequena região de pelos pubianos. A seguir descruzou a perna, manteve uma toda aberta e o joelho recurvo. Acariciou a si mesma e se ergueu, apoiando o tronco nos cotovelos e antebraços. Olhou Jaime de cima abaixo com um ar risonho, um risinho que ele conhecia bem, e então o apalpou por cima do lençol:
— Eu quero de novo. Você também quer?
— Claro! Com você eu sempre quero mais.
— Eu não posso lhe trocar por Reginaldo.
— Contudo insiste em ficar com nós dois.
— É que vocês me fazem sentir completa.
Laura bateu o martelo e nem Jaime nem Reginaldo tinham coragem de quebrar aquele elo mágico. O osculatório recomeçou. A felação foi avidamente retribuída, Laura voltou a ser sorvida com igual ardor como da primeira etapa da transa. Ficaram nesse estremecer de carnes, incursões linguais e termos chulos por mais alguns minutos. Até que ela gemeu no ouvido dele, após novos orgasmos:
— Agora eu quero tudinho na minha boca!
Logo, então, ele satisfez a vontade dela.
Leia também: A cidade que nunca leu um livro – Prólogo;
Leia também: A cidade que nunca leu um livro – Capítulo 2;
Leia também: A cidade que nunca leu um livro – Romance – Capítulo 3.
Marcos Ferreira é escritor
Terminei a leitura do A HORA AZUL DO SILÊNCIO na quinta-feira, dia que Mossoró voltou a registrar morte por COVID-19.e foi constatado um aumento de 338% nos casos de COVID-19 no RN.
Da leitura do seu livro ficaram emoções mil a mexerem com minha sensibilidade. Você nos leva a refletir sobre o amor bandido da interesseira que abandona o que nunca foi amado ao saber da desgraça do desemprego até o amor na sua expressão maior, pura, verdadeira
Você é o poeta do choque que desperta o leitor para as verdades da vida.
Que todos leiam A HORA AZUL DO SILÊNCIO.
/////
Aproveito para lembrar ao prefeito Alysson Bezerra que em Mossoró um idoso, 76 anos, há 112 dias aguarda a marcação de uma consulta oftalmológica pelo SUS. A REQUISIÇÃO ESTÁ NA UBS SINHARIAZINHA.
Até para a SOCIEDADE PROTETORA DOS ANIMAIS, na condição de ANIMAL RACIONAL, o idoso pediu apoio. Resta agora o prefeito que paga cachê de 600 mil reais ao Safadão liberar esta consulta.
Pena em Mossoró não ter um órgão de proteção ao usuário do SUS ou ao idoso. Até quando o idoso, prefeito Alysson Bezerra, vai continuar aguardando uma consulta OFTALMOLÓGICA em Mossoró?
Este idoso sou eu.
Prezado Inácio Augusto de Almeida,
Fico feliz que tenha gostado do meu livro “A Hora Azul do Silêncio”. Grato por suas estimulantes palavras.
Forte abraço,
Marcos Ferreira.
Bom dia Caro Cibernético Amigo.
Romance deveras intrigante.
A forma como escreve, além do perfeito domínio do nosso vernáculo, como também nos faz “ver” as cenas, um filme!
Parabéns.
Um abraçaço.
Amigo Amorim,
Você favou pouco, mas disse o suficiente para me deixar feliz. Obrigado pela leitura e comentário.
Forte abraço,
Marcos Ferreira.
Prezado escritor Marcos Ferreira,
Estou gostando de ler essa reprodução perfeita dos fatos da vida.
Geralmente as palavras revelam o que a mente e o coração estão cheios.
Parabéns!
Liceu Luis de Carvalho
Natal-RN
e-mail:
liceuluis@gmail.com
Prezado Liceu Luís,
Bom dia.
Que coisa boa ter um leitor do seu nível acompanhando este meu romance folhetim. Espero que a narrativa continue lhe despertando interesse e curiosidade. Um forte abraço e até a próxima.
Marcos Ferreira.
Guardadas as devidas proporções, quando criança na minha terra natal, Toritama, havia uma senhora que levava o patrão pra sua casa com o consentimento do marido. Não faziam um trio mas o ricão tinha acesso livre à cama de casal dessa senhora. Na cidade rolavam piadas de que ele (o marido) falava pra mulher pedir presente pra ele. Uma vez ela pediu uma camisa e não sabia a cor. Dizem que o marido estava debaixo da cama e disse a cor pretendida. Era fato normal essa relação! Acontece na vida real!
Cara Bernadete Lino,
A história que você aqui descreveu, sobre o marido que compartilhava a esposa com outro homem, é muito inspirativa e merece ser escrita. Espero registrá-la num conto brevemente. Obrigado, mais uma vez, por sua leitura e presença neste espaço reservado à opinião dos leitores.
Cordialmente,
Marcos Ferreira.
Grande Ferreira!
Um romance à lá Dona flor e seus dois maridos.
Dadas às devidas proporções um enredo similar e bem tramado com a riqueza de detalhes que só um escritor do quilates do Marcos possui.
Querido poeta Francisco Nolasco,
Bom dia.
Você, para variar, sempre certeiro nas avaliações e comparações. Realmente tem muito a ver com “Dona Flor e seus dois maridos”. Tanto que fiz essa alusão no Capítulo 5, a ser publicado amanhã. Confira mais esse.
Forte abraço,
Marcos Ferreira.
Boa tarde, nobre amigo escritor!
Que a saga do romance “A cidade que nunca leu um livro”, nos surpreenda em cada novo encontro aos domingos. Receba meu abraço das bandas do Norte! 🤗
Querida poetisa Rizeuda Silva,
Obrigado pelo acompanhamento deste meu romance folhetim e por seus comentários preciosos. Amanhã tem mais.
Cordialmente,
Marcos Ferreira.
Boa tarde, Marcos!
E a saga continua rica em detalhes…
Até o próximo capítulo.
Abraços
Muito bom, MARCOS. Fiquei, aqui, matutando… Se a cidade nunca leu um livro então nosso personagem está, no melhor do coloquial, lascado em banda. Instintivamente, olhei para a estante de livros…
Abraços!
Boa Noite, Marcos!
Este triângulo amoroso só aguça a nossa curiosidade pelos próximos capítulos…articulados, com certeza, de forma novelesca a fim de enredar-nos nessa teia como só você sabe fazer!
Aguardando ansiosa…
Abraços!