O publicitário Igor Rosado, natural de Mossoró, episodicamente trabalha na sucessão municipal de Salvador (BA). Como um "correspondente ad-hoc", escreve um ótimo artigo que nos ajuda a entender o poder pós-Antônio Carlos Magalhães.
Leia, abaixo, o artigo "Eleição do Absurdo (Diário de Bordo)":
O ex-governador Otávio Mangabeira não escondia de ninguém, falando a quem quisesse ouvir: Pense em um absurdo! Na Bahia tem precedentes!
Estava certo o governador. A terra da magia, do axé, da alegria, também é a terra do absurdo. A terra das coisas onde você só encontra por aqui, nem exageros. A campanha municipal desse ano não foi exceção. Um governador disputado por três partidos (PSDB, PMDB e PT) e um presidente brigado a tapa pelo próprio PT e pelo partido da base aliada e que governa Salvaodor, o PMDB. Isso, por só, já mereceria um capítulo. Mas tem mais.
Um eleitorado que na primeira vez em sua história precisou pensar em como seria a Bahia do pós ACM. No tempos idos do babalorixá baiano as coisas eram muito mais simples. Ou você é ACM, ou não é. Estava resolvida a questão. Agora não.
Quatro candidatos disputam com mais força a preferência do eleitor, que está penando para tomar uma decisão que considere segura, haja vista a pluralidade de opções de candidaturas que trazem em si todos os riscos e beneficios.
Imbassahy, ex-prefeito por duas vezes, criado no ninho carlista, foi um dos prefeitos mais bem avaliados do Brasil. Em três vezes o Datafolha o apontou como o melhor do Brasil. Tudo isso com o apoio do carlismo. Ao fim do seu Segundo mandato ele rompe com o grupo hegemônico e decide seguir por carreira solo.
Candidatou-se ao senado em 2006 e perdeu para João Durval, pai do atual prefeito de Salvador, João Henrique. Tem sofrido o peso de não ter compromissos seja com o carlismo, seja com o presidente Lula.
O prefeito, que até junho era um politico considerado liquidado ressurgiu das cinzas. Com uma forte associação a imagem do presidente Lula, para o pânico dos petistas, com uma campanha milionária e ainda o dobro de tempo de TV que tinham os seus principais adversários. Hoje ele assume a ponta das pesquisas. E já se transforma num case de recuperação de imagem de mandato.
ACM, o Neto, aparece como um misto de herdeiro carlista mais a oportunidade de renovação, com cara nova e política moderna para levar Salvador para o século XXI. É claro que todo esse discurso vai por água abaixo quando mostramos as cenas do deputado ameaçando de surra o presidente Lula, na tribuna da câmara. Ainda assim, o candidato é um dos favoritos a irem para o Segundo turno.
Faz uma campanha corretinha, careta, mas funcional, tendo-se em conta que ele está liderando as pesquisas e não está sendo atacado fortemente por ninguém. "Pinheiro do PT". Esse é o nome dele de Guerra. O candidato que comecou nas pesquisas com 5% dos votos e hoje chega a 21% deve tudo e mais um pouco a sua legenda e, principalmente, ao efeito Lula.
Ninguém nas campanhas ou institutos de pesquisa tem coragem de apontar os dois nomes que devem ir para o segundo turno. A ressaca Wagner, provocada pela vitória repentina de Jaques Wagner sobre Paulo Souto em 2006, refreeou os sentimentos premonitótios dos técnicos no assunto. Tudo pode acontecer.
A única certeza é que em Salvador haverá Segundo turno. Pinheiro e Imbassahy? É possível. Pinheiro e João? Seria muito normal. Interessante seria ver a disputa de dois lulistas. ACM Neto e Imbassahy? Muito normal, seria o carlimos reavaliado.
Neto e Pinheiro, o cenário mais apostado e que indica que o PT tem grandes chances de finalmente conseguir alinhar o executivo. Prefeito da capital, governador e presidente do mesmo partido.
Vamos esperar para ver, mas pode ter certeza, seja o que vier, vai ser um absurdo!
Igor Rosado é publicitário e atua na campanha de Imbassahy.
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