O Lula do Paço Municipal era outro; que se preparava para ser o exterminador do futuro e ninguém sabia. Só ele e Golbery do Couto e Silva. Nem o cardeal Paulo Arns, conhecedor das conversas do general com o metalúrgico, conseguiu decifrar o LUla daquele tempo. Nem Lula se conhecia.
Como estava dizendo, JK não se interessou pela sorte das eleições de sua sucessão. E esse desinteresse acabou por destruir as aspirações de voltar à Presidência. E desaguou na pior de todas as ditaduras, que fez da de Vargas uma imagem pífia.
A desculpa de que Lott não venceria Jânio nem com o empenho de Juscelino, não procede. Mesmo sendo verdadeira a assertiva.
O problema residia na escolha de um bom candidato. JK sabia da impossibilidade de ganhar com Lott. Mas poderia ganhar com outro. Inclusive fazer uma aliança com a UDN e impedir a candidatura de Jânio, que era mal visto pelos udenistas não-lacerdistas.
Lacerda bancou a chapa janista, na convenção. Teve dificuldade. Se o governo dá uma mãozinha, o candidato seria outro. E outro seria o resultado.
Mas JK queria voltar, em 65, como candidato da oposição. Seria imbatível. E praticamente abandonou a campanha. Ele e Lacerda pagaram com preço da morte política.
Lula faz diferente. Aprendeu com a História. Não quer devassa do seu governo feita por governo adversário. Aposta todas as fichas na eleição de Dilma.
A sorte de Lula, no futuro, fora do seu controle, dependerá de Dilma. Ela não me parece uma pessoa conformada em ser a costela de Adão. Leva jeito de dar rasteira até na serpente. Quando estiver naquela cadeira, nego se segure. A velha e surrada luta da criatura contra o criador.
Se eu estiver errado, também dependerá dela a sorte de Lula. Precisará fazer um excelente governo, sob pena de jogar nele o desgaste de um governo ruim. E aí será o paraíso desmascarado que expulsará Lula para o ocaso em Node, ao oriente do Éden.
Se houvesse bolsa família quando Lula era garoto, em vez de metalúrgico teria sido apenas um cachaceiro de botequim. E o Brasil não teria a era Lula. Essa lição de Laurence Nóbrega é um achado.
Nossa estabilidade social é sustentada na esmola. Um mendigo faz mal a si mesmo. Uma nação mendicante faz mal à humanidade. Nunca sairá da pré-humanidade.
E aceita viver sem educação, sem saúde, sem segurança, sem cultura. As alternativas são desanimadoras. É o passado se oferecendo como opção. Na disputa, não há futuro. É o presente não convicente contra o passado que não convenceu.
Lula aposta no futuro que ele pensa ter edificado matando Getúlio, sepultando Jango e pondo flores no jazigo de Juscelino.
Té mais.
François Silvestre – escritor (Texto originalmente publicado no Novo Jornal, 29 de agosto de 2010)
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