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domingo - 02/02/2014 - 08:11h

A força de um capricho do tempo e do destino…

Por José Dario de Aguiar Filho

Há vinte anos, em 12 de janeiro de 1994, fui agraciado com a aprovação em concurso de Juiz do Trabalho do Tribunal Regional desta unidade federada.

Empossado no dia 25 daquele mês, vim a ser designado juntamente com outro colega então também recém-empossado, o magistrado Zéu Palmeira Sobrinho, para o exercício da judicatura nesta cidade (Mossoró).

Na manhã do dia 31 aqui chegamos e não conhecendo nada nesta cidade, nos hospedamos logo na praça do mercado, no Hotel ”Scalla”.

Para mim, Mossoró não se tratava de uma terra desconhecida, pois, antes mesmo de balbuciar as primeiras palavras, ouvia de papai e mamãe que se tratava de uma cidade próspera, produtora de quase todo o sal do pais, onde nasceu o vizinho da rua Samuel de Farias, no bairro da Casa Forte, na cidade do Recife,  e estimado amigo, seu Antonio da Costa Gomes, Mossoroense da gema, detentor uma grande casa de comércio nesta cidade e em Natal, conhecida por A. C. GOMES.

Por gostar de acompanhar a política, meus pais como meus avós paterno e materno sempre falavam da tragédia sem par representada pelo acidente de avião que vitimou o então governador Dix Sept Rosado Maia e seu secretariado, ocorrida em Sergipe, lá nos idos de 1951. Coisas de minha memória !…

Ao aqui chegar (janeiro de 1994), Mossoró detinha apenas duas varas, as duas mais trabalhosas do estado, já que a cada ano ingressavam em torno de três mil ações, em cada uma das unidades judiciárias.

Tempos bons, o da chegada à Mossoró (RN), em um batismo de fogo que embora fosse penoso, mostrava-se gratificante pelo tão sonhado exercício da judicatura.

Aqui permaneci continuamente por cinco meses e meio e durante todo ano de 1994, auxiliando o colega Edwar Abreu Gonçalves, e até o final do mês de janeiro de 1995, praticamente todo dia de sexta-feira aqui comparecia, para realizar as audiências de suspeições dos então juízes titulares das duas varas, Edvar (1ª VT) e Ricardo Luís Espíndola Borges (2ª VT).

Por uns seis anos não mais vim a esta calorosa terra, retornando por cerca de três semanas em meados de agosto a setembro do ano de 2000.

Depois, em janeiro à fevereiro de 2001, por um mês e meio laborei perante a 2ª Vara de Mossoró (RN).

Finalmente, em 27 de março de 2001, foi exarada a minha nomeação para a titularidade da 2ª Vara desta cidade, sendo empossado na presidência do Tribunal em Natal, no final da tarde do dia 28 e já na manhã do dia 29  (quinta-feira) cheguei em Mossoró, logo cedo, através de avião.

Na segunda-feira, dia 02, deu-se o primeiro dia de audiências.

O tempo foi se passando, e em meados de 2008 surgiu a vacância da Vara de Caicó (RN), da qual declinei de pedir remoção, pois se encontrava em curso o acordo da MAÍSA, na fase ainda de venda de bens para pagamento de parte da dívida dos empregados daquela empresa.

Não poderia ser diferente, pois como um capitão de navio, o mesmo não desembarca da nau até que o último dos passageiros e tripulantes  tenham sido salvos.

O tempo foi se passando e hoje por uma incrível coincidência é dia 31 de janeiro de 2014 (um dia de sexta-feira) ou seja, vinte anos depois do primeiro dia em que comecei a trabalhar como juiz (dia 31 de janeiro de 1994 – segunda-feira), , dos quais catorze dedicados a esta cidade e região.

Foram anos de trabalho árduo e até estressante, mas gratificante por resultados que restabelece a harmonia e paz social, além de distribuir justiça.

Confesso que irei sentir saudades do convívio diário, o eterno bom humor de Marcos Artur e Melo Neto, das brigas entre alguns patronos, que como sempre dizia brincando – “É amor demais! “,  das audiências demoradas mas, esclarecedoras do direito, da descoberta a cada dia dos novos talentos que despontam na advocacia desta terra.

Afasto-me do edificante labor do dia a dia, para poder melhor conviver com minha mulher, meus filhos e a última grande dádiva de Deus – o meu primeiro neto, bicho macho cheio de moral para o avô e credor de todo amor do mundo.

Assim, deixo o dia a dia de Mossoró, levando a experiência da verdadeira economia do Rio Grande do Norte, representada pela produção de frutas, de camarão, de sal, de petróleo, do cimento e de outras atividades, como legado para os dias vindouros, quem sabe, para novamente melhor poder servir à sociedade de Mossoró e dos municípios de seu entorno, com Mossoró sempre bem viva dentro de mim !

Houve dificuldades ! Houve contratempo!

Por fim agradeço a todos que durante esse longos anos aqui trabalharam – advogados, prepostos e a todo o corpo funcional da Justiça do Trabalho em Mossoró, não por terem convivido com algumas de minhas qualidades, mas, sobretudo, pela tolerância com os meus defeitos.

Encerro esses palavras para dizer ter sido um privilégio ter podido servir ao povo e a população de uma cidade de destino cosmopolita, já com ar de metrópole, que surgiu a partir da fazenda de Santa Luzia do rio Mossoró.

Mas tenho que me curvar ao que o tempo revelou, o de que a minha permanência em Mossoró perdurou até o dia em que foi permitido, não podendo violar e nem afrontar A FORÇA DE UM CAPRICHO DO TEMPO E DO DESTINO….

José Dario de Aguiar Filho é juiz da Vara do Trabalho em Mossoró

 

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Categoria(s): Crônica

Comentários

  1. Moura diz:

    É bom ver alguém “de fora” agradecendo nosso povo e elogiando nossa terra. Enquanto isso, em Pau dos Ferros, bem perto daqui, um “desafortunado” que sequer é “de fora” vem comprovar como tem gente ingrata no próprio Rio Grande sem Sorte (como costuma falar C.S.).

  2. Luiz Soares diz:

    Tenho e honra de conhecer tal figura. Um homem acima de qualquer tipo de predicado; um Juiz, que tendo labutado como Advogado de Usina sabe equilibrar e defender os interesses do mais humildes. Dario foi e continuará a ser uma figura invejável, visionário, cordial e humilde. Que os ventos vitoriosos da sinceridade e do amor as labutas exitosas soprem sem limites, no sentido de te conduzir e iluminar para os braços eternos da felicidade!

  3. naide maria rosado de souza diz:

    Exmo. Sr. Juiz de Direito José Dario de Aguiar Filho.
    Que texto emocionante. O do Juiz dedicado à sua nobre atividade e o do Juiz, homem, que se apaixonou pela terra em que veio trabalhar, Mossoró e entorno, que estará sempre ” bem viva” em V. Exa. Ainda, o do Juiz que agradece de maneira gentil ao quadro funcional que lhe acompanhou! O do juiz que, corajosamente e com altruísmo, não abandonou a nau até a saída do último passageiro e tripulante.
    Reconheço a sensibilidade de V. Exa. no amor ao neto. Confirmo, Dr. José Dario, é quase impossível descrever o amor aos netos. Estou aqui, escrevendo, e pensando nos meus. É um renascimento, começamos tudo de novo.
    Parabéns!
    Respeitosamente,
    Naide Maria Rosado de Souza.

  4. Paulo Melo diz:

    Um magistrado que passa mais de uma década nesta cidade de Mossoró, prestando serviços, deixou um verdadeiro legado de serviços.
    Ao meu vê o que mais se destaca com o Dr. Dario, era o pensamento social, quando empresas de grande porte (como a Maisa) faliram, ele não se contentava em ver os trabalhadores receberem os seus direitos trabalhistas, mas também a viabilidade de que aquele complexo agroindustrial, volta-se a empregar.
    A função principal como empregado federal era cumprida, mas, o divisor de águas, era o interesse em vender os objetos (sobretudo as fazendas e empresas) de grande porte penhorados a quem se preocupava em reinseri-los no mercado, para voltar a empregas e assim não deixar sem atividades centenas de trabalhadores.
    Mossoró perde, com a saída de Dario, mas, tem muito a agradecer pela imensidão de serviços prestados durante mais de uma década.
    Magistrado turrão, de opinião formada, ávido por informações, e conhecedor como poucos de tudo o que acontece na economia de nossa sofrida região Nordeste, sério como tinha de ser, mas muitas vezes descontraia a todos nas salas de audiência.
    Lembro-me bem, ele me relatando a arte da conquista…
    Bom amigo Dario Aguiar, te desejo toda a sorte do mundo nessa nova fase da sua magistratura
    Paulo Melo
    Advogado

  5. Ernesto diz:

    Prezado Dr. Dario, tive o prazer de conviver e compartilhar do seu conhecimento, conhecimento este não só fruto da sua atividade laboral mais da vida, das pessoas, do nosso SPORTO CLUBE DO RECIFE. Recebo essa informação com tristeza por não poder compartilhar da sua agradável presença, mas feliz por ser sua ausência, consequência de tantos anos dedicados a magistrutura, esta exercida com bastante vigor, dedicação, presteza e profissionalismo.

    Um fraterno abraço e sucesso !!!!

  6. Daniela Rosado diz:

    Dr. Dário,
    Linda mensagem de despedida e agradecimento a esta cidade, que pelo suas palavras foi acolhida integralmente por vossa excelência. Como mossoroense e colega de profissão(de justica diversa, estadual), quero desejar muitas alegrias na nova etapa de sua carreira e um sincero agradecimento pelo carinho que revelou por esta comarca, pela qual tenho muito apreço, apreço este sendiemntado deste cedo por meu avô Vingt-un Rosado e América Fernandes. Abraços, Daniela Rosado.

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