domingo - 27/04/2025 - 12:32h

A formação de um repentista também carece de tempo

Por Aldaci de França

Arte ilustrativa

Arte ilustrativa

A formação de um repentista profissional ou cantador, como queiramos denominar quem manuseia uma viola nordestina, em harmonia com versos improvisados, requer muita atenção, paciência,  sabedoria e determinação para alcançar o objetivo pretendido. A arte é uma lapidação contínua e sem fim para conquista de plateias Brasil a fora,

São vários os requisitos exigidos que devem ser preenchidos pelos que sonham em se tornar profissionais do repente e terem essa habilidade poética como um meio de sobrevivência. A trajetória de construção como profissional autônomo, que com sua arte, mexe com sensíveis espectadores e ouvintes/admiradores da poesia popular, é desgastante. Muitas vezes, permeada por muitas frustrações.

O ponto de partida para essa viagem poética por céus terras e mares do universo das rimas, acontecerá com a constatação pelo próprio agente, de que dispõe de um aguçado dom de lidar com as palavras, frases e metáforas, incluindo nesse bojo, descoberta de mundos que que só os poetam acham.

Feito isso, vem o necessário domínio técnico (rima, métrica e oração), o qual constitui em saber que quanto à rima, as palavras são ordenadas pela tradição, fonética.  Ou seja, sonhar rima com cantar, sonhar, caminhar, e não com sabiá, está, lá, figurará.

Os primeiros repentistas foram influenciados pelo modo dos português falarem, em que por exemplo, pronunciavam as palavras trabalhador, sonhador, escritor, caminhar, navegar, puxando fortemente pelo R no final dessas palavras.

A métrica, sabemos que é o tamanho do verso, se a forma poética for sextilha, cada verso vai conter sete sílabas, contando-se a sílaba até a tônica do final do verso.

Oração ou conteúdo, quando o repentista vai dissecar determinada temática, se faz necessário sua fidelidade ao desenvolver os versos, devendo sempre manter um raciocínio lógico no que a temática sugeri.

As comissões julgadoras dos Festivais de Repentistas são sempre atentas a esses critérios de julgamento desses eventos.

Ter a consciência desses pontos elencados acima demanda tempo, e consideremos que a isso junta-se a cadência no baião de viola, o ritmo, a afinação e a voz trabalhada em sintonia com esses aspectos. Bote na conta, ainda, a superação da timidez (fator comum de quem começa em qualquer modalidade da arte) do repentista ao se deparar com plateias diversas em diferentes regiões e com colegas profissionais de características distintas, embora a modalidade artística seja a mesma.

Joaquim Crispiniano Neto, escritor e poeta repentista, pesquisador da cantoria, ministrando uma oficina em Mossoró-RN, nos idos de 2000-2001, sobre a poesia popular e especificando o repente, da qual participei, afirmou: “para o repentista tornar-se um cantador profissional é necessário estudar e praticar a cantoria em no mínimo de cinco anos.

De fato, vivi a experiência para me tornar seguro como repentista e preparado para os desafios poéticos que arte de cantar repente nos incube.  Mas, claro, o aprender nunca para. É como a inspiração: em todo lugar, em qualquer lugar, em múltiplas fontes a gente se encontra.

Aldaci de França é poera repentista, escritor, cordelista e coordenador dos Festivais de Repentistas do Nordeste no Mossoró Cidade Junina

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Categoria(s): Artigo

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