Refiro-me, evidentemente, ao programa “Memória Viva” – que vai ao ar há duas ou três décadas pela TV Universitária. Visto de relance, sem o necessário olho clínico, poderia suscitar a suspeita de que se trata de uma prova contundente da incapacidade das pessoas envolvidas em seu processo, enquanto se trata, na verdade, de algo muito bem pensado e melhor executado, para mostrar na prática, ao espectador desinformado ou interessado em jornalismo, como não se deve fazer um programa de televisão.
Afinal, a Universidade é uma instituição que prepara para a vida profissional, portanto, deve ter seus métodos e um deles se relaciona às formas de aprendizagem. Por isso, não me acanho de afirmar que “Memória Viva”, como objeto de estudo, dá lições de excelência. Como um programa de entrevistas, “Memória Viva” utiliza-se do que podemos chamar de “método negativo”, ao proporcionar aos telespectadores e mesmo aos estudantes de comunicação social tudo aquilo que eles, no exercício de sua futura vida profissional, não devem fazer para não enfadar o público nem decepcionar àqueles que exigem, de uma entrevista, que seja mais do que conversa jogada fora.
Assim, ao contrário de uma assembléia de comadres que se esmeram em se imiscuir na vida alheia, representa uma lição prática e inconteste do que não deve ser encarado como documentário jornalístico. Pelo menos, não como jornalismo moderno, desses que vemos nos famigerados talk shows que permeiam a programação da tevê comercial.
O padrão da nossa TV Universitária está na vanguarda do didatismo, em termos de congêneres. Pelo menos em matéria de entrevistas. Em vez de mostrar como se deve fazer, mostra como não se deve fazer, o que resulta, para o telespectador e demais interessados na questão, em uma lição muito mais explícita e convincente.
Assim, vemos um apresentador desprovido de carisma, articulando as palavras com forçada afetação, patinando no dejá vu e no anedotário dessa grande fazenda iluminada que é Natal, esforçando-se ao máximo para nos fazer ver que aquilo não é o que parece, mas coisa muito diversa do que poderia ser. Um achado digno da admiração de todos.
Não consta que a TV Universitária tenha alguma vez realizado pesquisa de opinião para medir o grau de audiência de tal programa, único no gênero, repita-se, a praticar o jornalismo pelo método negativo, um processo que norteou inclusive uma tese acadêmica digna de nota. Nisto, está dormindo no ponto, pois muito lucraríamos sabendo qual é o perfil dos telespectadores de “Memória Viva” e quantos eles são.
A esperteza sussurra que são legião…
Franklin Jorge, escritor e jornalista – franklinjorge@yahoo.com.br
é de espantar a coragem do autor desse artigo. como será que o chato e vaidoso apresentador vai reagir????
só acho que o texto devia ter destacado a importância do programa preservando a memória histórica e cultural do estado. e para o programa ficar perfeito é fácil: basta mudar o apresentador.