Por Marcos Araújo
A vida tem sido muito curta para os grandes cantores. Como disse Cazuza, “nossos heróis morreram de overdose”. Com menos de 30 anos de idade, se foram Amy Winehouse, Jimi Hendrix, Janis Joplin, Kurt Cobain, Brian Jones, Pete Ham, Jim Morrison… A esses, se atribui o vício e a dependência química como elementos voluntários da autodestruição. Porém, nenhum deles tem uma biografia de sofrimento, de dor e de injustiça quanto Billie Holiday.
Eleanora Fagan Gough, conhecida pelo nome artístico de Billie Holiday nasceu na Filadélfia, Pensilvânia, e morreu antes de fazer 44 anos de idade. Eternizou-se como um dos maiores nomes do jazz no mundo, embora poucos saibam do quanto sofreu de perseguição por ter se valido da música para denunciar o racismo americano.
Abandonada pelo pai, com pouco contato com a mãe, sem irmãos ou amigos, a artista teve uma infância muito difícil, passando necessidades e todo tipo de humilhação e abuso. Aos dez anos foi violentada sexualmente por seu vizinho, e posteriormente abandonada por seus parentes, sendo internada numa casa de correção para meninas. Aos doze anos, fugiu de lá, e passou a morar na rua, pedindo esmolas, arranjando depois um trabalho informal, lavando o chão de um prostíbulo em troca de um local para dormir e uma refeição por dia.
Sua vida como cantora informal começou em 1930, em um bar no Harlem onde foi se oferecer para ser dançarina. Não conseguindo agradar o público, o pianista, penalizado, chamou-a para cantar. Autodidata e com voz potente, encantou ao crítico de música John Hammond, um frequentador assíduo, que a levou a um estúdio, onde Billie gravou seu primeiro disco com a big band de Benny Goodman. Foi daí o início de uma breve e vertiginosa carreira, tendo se consagrado em apresentações com as orquestras de Duke Ellington, Teddy Wilson, Count Basie e Artie Shaw, e ao lado de Louis Armstrong.
Billie Holiday saiu da pobreza e da marginalidade para se tornar uma estrela de primeira grandeza da música americana, mas não esqueceu suas origens e a situação de exclusão social, discriminação e racismo dos americanos afrodescendentes.
Inspirada num fato histórico ocorrido no condado de Marion, Indiana, em que três negros são enforcados numa árvore por uma multidão ensandecida que os acusava de terem cometido um crime violento, sem provas, Billie compôs Strange Fruit (“fruto estranho” – é contraditória a autoria, sendo atribuída a Abel Meeropol e o seu poema Bitter Fruit (fruto amargo). Esta canção traria a Billie muitos aborrecimentos.
A letra da música retrata os linchamentos constantes no sul dos Estados Unidos, remetendo ao dissenso contrastante da educação e dos modos cavalheirescos de seus habitantes com a carnificina brutal dos justiçamentos contra negros. Por isso, o “estranho fruto”: Árvores do sul carregam um estranho fruto/sangue nas folhas e sangue nas raízes/corpos negros balançando na brisa sulista/ fruto estranho balançando nos álamos”
Sua interpretação emotiva e triste fixou a canção no imaginário coletivo, transformando-a em uma música de aberto protesto político. A figura frágil e ao mesmo tempo desafiadora de Billie Holiday motivaram muitos dos protestos dos negros e suas apresentações começaram a provocar desconforto em políticos sulistas.
O FBI, atendendo a pedido de parlamentares (isto também é comum por aqui!), passou a investigar a cantora e sua entourage. Os investigadores federais infiltraram agentes no grupo da cantora e ela foi presa por posse e consumo de entorpecentes. O processo ficou conhecido pelo nome das partes, como ocorre na Justiça americana: “United States v. Billie Holiday”.
Pessimamente defendida em juízo, acabou fazendo um acordo com a promotoria federal para cumprir um ano de prisão em um presídio feminino federal em West Virginia. O pior para Billie foi que, como resultado do processo, ela perdeu sua credencial para apresentações em público na cidade de Nova Iorque.
A história do processo envolvendo a célebre cantora deixa lições para o tempo presente, ao mostrar os perigos da seletividade e do uso político da justiça criminal, problema que é especialmente agravado em sociedades racialmente estratificadas.
Nos últimos anos de vida, perseguida e sem shows, volta à pobreza. Faleceu com 70 centavos de dólar no banco. Sua cerimônia fúnebre foi paga por seus amigos. Morreu no Hospital Metropolitano, em Nova York, em 17 de julho de 1959, na cama em que havia sido presa pouco mais de um mês antes, já mortalmente doente, sob a falsa acusação de posse ilegal de narcóticos.
Um policial lhe fazia guarda permanente, custodiando sua liberdade, como se ela pudesse escapar. Sua vida sofrida foi palmilhada por uma constante injustiça.
Billie vive eternamente na minha mente e nas minhas audições.
Marcos Araújo é professor e advogado
Dr. Marcos, filho do saudoso Seu Ari e Dona Clotilde, voce botou prá lascar. Eu que chego a ser “fanático” por músicas e histórias e estórias, foi emoção pura.
Obrigado!
Um abraçaço.
Ora ora, o que pode ter ocorrido…que transformação foi essa.. ?!?
Antes o Magnânimo professor, advogado e comentarista político e econômico Marcos Araujo, quando do período mais agudo do processo golpista, mormente na Deposição da Presidente Dilma ROUSSEF!
Atualmente o país sendo gradativamente destruído pelo seu PRESIDENTE o EXCREMENTISSIMO JAIR CLOROQUINETE ASCO NARO!
Então, ele como se estivesse em outro UNIVERSO( SERIA NO UNIVERSO EM QUE A TERRA É PLANA ?!?) , me aparece como cronista musical de uma era que não volta mais!
Afinal, onde e como se explica o SUMIÇO do AGUERIDO e suposto combatente da corrupção e dos desmandos com a res pública..?!?
Vóssa Senhoria, SABIDAMENTE possuidor de vasto conhecimento jurídico!.
Então, porque não instrumentalizar para para conscientizar o excluído cidadão, trazendo a lume o descalabro administrativo, além claro, do vasto cabedal de crimes praticados por aquele eleito com o seu voto através da digital 17 criminosa..?!?
Um baraço
FRANSUELDO VIEIRA DE ARAUJO
OAB/RN 7318
Oh Inacio! Acorda.
Estou no aguardo.
Um abraçaço!
Um texto muito informativo e emotivo .