Por Odemirton Filho
Passos apressados. Precisava chegar ao trabalho no horário do expediente, pois tinha se atrasado algumas vezes e o patrão já reclamara.
O caminho que percorria sempre passava pelo mesmo lugar: a praça Vigário Antônio Joaquim, defronte à Catedral de Santa Luzia, em Mossoró.
Uma cena, todavia, chamava a sua atenção: havia sempre uma moça sentada no banco da praça, folheando um livro.
Como tinha pressa, não a observava de forma mais acurada, apenas de soslaio. Porém, como a cena era recorrente, começou a se interessar pela presença da jovem. Ela vestia roupas simples, mas possuía um belo semblante.
Algumas vezes, apesar do pouco dinheiro, comprava um jornal na banca do saudoso “Zé Maria”, a fim de ter um motivo para vislumbrar aquela moça.
Nos dias seguintes começou a acordar mais cedo, sempre com o intuito de chegar a praça e ver a desconhecida que tanto o encantava e o intrigava.
Certo dia, arriscou cumprimenta-la e, de forma educada, a jovem respondeu com um sorriso.
Em uma ocasião, tomou coragem, parou e puxou um dedo de prosa. Disse-lhe que estava curioso, pois sempre a via sentada no banco, quase no mesmo horário.
Ela, de forma gentil e com a voz suave, respondeu-lhe que sempre assistia à missa das 06h na Catedral e depois gostava de ficar sentada no banco, lendo e, de quando em vez, acompanhando o voo dos pombos que faziam morada nos arredores da praça.
Como dizia ela: apreciando o simples da vida.
Com o passar dos dias, ele sempre chegava cedo para que pudesse conversar com sua nova amiga, que tinha um “papo” agradável.
A jovem, pedindo reservas, disse-lhe que estava doente e o médico tinha lhe dado pouco tempo de vida.
Quem passasse pela praça acharia que se tratava de um casal enamorados, mas, na verdade, ali estava uma bela amizade. Com o tempo, ambos confidenciavam seus segredos e medos.
Ela o encorajava a buscar um novo emprego e continuar os estudos. Ele, por outro lado, dizia-lhe que tivesse fé, pois ainda viveria muitos anos.
Completavam-se.
Um dia, como de costume, saiu cedo de casa para conversar com sua jovem amiga, contudo, não a encontrou.
Outros dias sucederam e não a encontrava. Começou a ficar aflito. Entretanto, depois de muito procurar, soube que sua amiga tinha falecido há alguns dias.
A vida continuou, decerto. Porém, ao fazer seu caminho diário e atravessar a praça os olhos marejavam e vinham à mente as mais doces lembranças.
Alegre somente o sobrevoo dos pombos na praça Vigário Antônio Joaquim, no Teatro Lauro Monte Filho e na Catedral de Santa Luzia.
O simples da vida.
Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça
Que bonito, prof.Odemirton…o “simples da vida “.
Naide Maria sempre generosa com meus escritos. Agradeço, de coração.
A beleza está nas coisas simples. Ninguém consegue escrever com afetação coisas do coração.
Crônica escrita com lágrimas que rolaram dentro do coração.
Meus parabéns.
Grande Inácio, suas palavras me deixam lisonjeado.
Abraço fraternal.
Tristemente belo.