Existem duas Mossoró: uma é aquela da propaganda oficial, que fala em "boom" de desenvolvimento, graças a intervenção do Governo "Da Gente " (deles); outra é real e humilhante, feita de pobreza e descaso com o ser humano.
É essa segunda versão mais realista e que muitos preferem esconder ou ignorar, que o professor e geógrafo José Romero Cardoso (da Uern) resolveu estudar, com levantamento técnico insofismável. Nu e cru.
O trabalho dele é uma pequena mostra, microcosmos de Mossoró. Uma face famélica, doente, excluída entre os conjuntos Geraldo Melo e Vingt Rosado. Pateticamente, residenciais que homenageiam dois políticos de larga expressão na região e Estado.
"Com base no diagnóstico realizado, constatamos que as condições de vida dessas famílias são precárias ao extremo. Precisa-se, com urgência, que ações públicas sejam direcionadas para esse bolsão de miséria apresentado de forma contundente no entorno dos Conjuntos Geraldo Melo – Vingt Rosado, mas não apenas para a amostra que nos despertou a atenção, bem como para outras situações de miséria crônica apresentada nos espaços urbanos e rural do município de Mossoró (…)", aponta Romero.
Veja material impactante AQUI.
Foto – Do próprio autor do trabalho.
Caro Carlos Santos e leitores do blog.
Entre 2001 e 2008, trabalhei no PAM do Bom Jardim, no serviço de Hanseníase. Entre 2004 e 2007, estudamos a geografia da doença, marcando as coordenadas (X e Y), para avaliar a real distribuição dos casos no município. A partir desses mapas, realizamos várias campanhas de diagnóstico.
As favelas e “assentamentos” urbanos não fizeram parte desse trabalho por problemas de endereço, serem descobertos de P.S.F. e por motivos de insegurança.
A hanseníase tem tratamento e cura. Foi eliminada dos países ricos antes do primeiro antibiótico ser inventado, com medidas de isolamento, saneamento e melhora nas condições de vida e habitação. Hoje, existe apenas em países pobres. O Brasil é o segundo país em número de casos, e Mossoró está entre as 50 cidades do país com maior incidência da doença.
Isso tudo é pra fazer alguns comentários sobre a foto e artigo acima:
– Mossoró apresenta IDH (Índice de desenvolvimento humano) incompatível com sua riqueza;
– Os casos de hanseníase estão concentrados em áreas com baixo IDH;
– As áreas de maior concentração dos casos estão localizadas em pontos mais pobres dos bairros Barrocas, Santo Antonio, Bom Jardim, Belo Horizonte, Carnaubal, Lagoa do Mato;
– Em abril desse ano, visitei esses locais com um pesquisador americano que trabalha com hanseníase e ficou impressionado como a cidade “não tem miséria”;
– Acostumado a encontrar a doença em bolsôes de miséria da Índia, Salvador, Recife, África…
– Encontramos, e muito, apenas na periferia, em bolsões de pobreza, não de miséria, com baixo IDH;
– Ou seja, Mossoró está “comido” de hanseníase mesmo quando não se procura nos grandes bolsões de miséria.
– Imagine se o poder público chegar lá …
– E se um outro doido (meu juízo já acabou) resolve ir procurar hanseníase, tuberculose, impingem, pereba, hepatite…
– E se morássemos numa cidade compatível com a riqueza que possui…
E se…
Parabéns pelo estudo, mas isso é apenas uma pequena amostra do cinturão de miséria que circunda o progresso cantado em prosa e verso pelas autoridades dessa cidade.
Desenvolvimento no cu dos outros é refresco! (desculpem a indelicadeza do termo, mas foi o que veio pra melhor demonstrar minha indignação por tanta incoerência).
Esse triste cenário me conduz à um dado estatístico de suma importância para os estudiosos da geopolítica: Qando ROSALBA ROSADO foi eleita prefeita para o primeiro mandato (1989-1992) Mossoró só tinha 04 favelas. Ao concluir seu terceiro mandato(1996-2000) a cidade tinha um CINTURÃO DE MISÉRIA composto por 76 favelas. É nisso que resulta o domínio de uma cidade, por uma oligarquia familiar.