Por Honório de Medeiros
“Aqueles que atravessaram
de olhos retos, para o outro reino da
morte
nos recordam – se o fazem – não como
violentas
almas danadas, mas apenas
como os homens ocos
os homens empalhados”.
“Os Homens Ocos” (Thomas S. Elliot)
Li, certa vez, há muito tempo, a lenda de Diógenes, O Cínico.
Refiz imprecisamente, claro, na imaginação, a cena: ao ver Diógenes uma criança se dessedentar na margem de um riacho utilizando o côncavo da mão, desfez-se de sua caneca e, a partir de então, somente passou a ter, de seu, o manto com o qual ocultava sua nudez e o tonel onde dormia. A caneca era desnecessária.
Acreditava Diógenes que em nada possuindo, seria um homem livre. E o era, em certo sentido. Há muito de Diógenes na ira de Proudhon ao dizer “toda a propriedade é um roubo!”
Instado por Alexandre, O Grande, seu admirador, a lhe dizer o quê desejava, Diógenes respondeu de pronto pedindo que não fosse obstruída a passagem do sol com o qual se banhava.
Heroicos tempos, aqueles, nos quais homens como Empédocles preferiam descobrir uma só lei causal a governarem o mundo; assim era Atenas, a Hélade, berço da civilização ocidental, aurora da democracia cuja essência repousa no conceito ético de “homem público virtuoso”.
Qual a ligação existente entre a ingênua concepção de mundo de Diógenes e esse homem público virtuoso cujo perfil Péricles tão bem delineou em sua célebre “Oração aos Mortos de Maratona?”
Entre outras uma dicotomia aparente: a virtude privada, de um lado, e, do outro, a virtude pública.
Para Diógenes, o homem somente se realizava através do rompimento com os grilhões que a vida em sociedade impõe; para Péricles, o homem somente se realizaria na medida em que esses grilhões, ou seja, as leis, os costumes, a moral, estabelecidos voluntariamente a partir de uma cultura comum, transformassem o homem em “cidadão”, e em o transformando, concretizassem um ideal de sociedade virtuosa. Ou seja, esse “cidadão” deveria ter altruísmo social, subordinando sua ambição pessoal ao projeto de construção de uma sociedade democrática tal qual a delineada pela “Paidéia” ateniense.
Hoje, ao observarmos o cenário político no qual vivemos, não podemos deixar de nos lastimar. Os políticos pouco ou nada fazem para ocultar a ambição pessoal que origina suas ações políticas, e suas aparições públicas são de um ridículo atroz.
Pior: as agressões pessoais, a lavagem de roupa suja em público, a indigência oratória, a ignorância generalizada, o cinismo deslavado, atingem os eleitores e permitem a continuidade de um processo eleitoral que lembra, a todo instante, para os observadores mais avisados, quão atrasados estamos…
São tais políticos os homens ocos aos quais se refere Elliot. Em ambientes políticos como o que vivemos, florescem as mais exóticas e nocivas plantas.
Trata-se, segundo os cientistas políticos herdeiros do liberalismo, do ônus da democracia. E, assim, por sermos democratas, somos obrigados a conviver com alpinistas sociais, corruptos, mentirosos, hipócritas, arrivistas, aventureiros, e assim por diante.
O homem comum, por não entender a complexidade das forças que dispõem acerca de tal estado de coisas, passa a ansiar pela concretização de fantasias esdrúxulas: alguém que lhe traga ordem, segurança, que restabeleça o “status quo” anterior, o passado mítico…
Torna-se, assim, presa fácil de messiânicos, manipuladores, ilusionistas. Como aconteceu na eleição de Fernando Collor de Mello. Na de Jânio Quadros. Como pode acontecer novamente se nossas instituições continuarem frágeis como o são.
Como pode acontecer novamente se não forem realizadas as reformas econômicas, políticas e sociais das quais tanto necessitamos, e o Brasil se enrodilhe, mais uma vez, na teia de interesses escusos que a ambição de alguns, neste presente momento, com certeza, está tecendo para nossa angústia.
E, em se enrodilhando, em se alienando nessas armadilhas todas, ao longo do tempo amplie, na Sociedade, um sentimento funesto de desencanto com a democracia. Argumentos contra a Democracia não faltam. Sempre existiram, existirão sempre. Inteligentes, sutis, perigosos…
Não faz muito tempo que Jorge Luis Borges a chamou de mera “ficção estatística”.
Argumentos como esses, em ambiente construído e manipulado pelo capitalismo selvagem, no qual a ótica do lucro se impõe à ética do altruísmo social, são apropriados para aventuras tais como censura à imprensa, desprezo às leis e juízes, aplicação do “olho por olho, dente por dente”, corrupção de Estado… Aventuras nas quais todos perdem, inclusive quem as provoca e delas supõe usufruir!
Honório de Medeiros é professor, escritor e ex-secretário da Prefeitura do Natal e do Estado do RN
Em Mossoró o que mais vemos é “desprezo às leis e juízes, aplicação do “olho por olho, dente por dente”, corrupção de Estado e da sociedade…” Temos os bares tomando conta das calçadas, músicas ao vivo perto de escolas e hospitais, seguranças inexistente, doidos varridos no meio da rua assustando o povo, gays e drogados fazendo sexo no meio da rua, mortes violentas constantes, ataques de assaltantes a qualquer hora do dia e da noite, mais de dia, motovigias desrespeitando as leis descaradamente com apoio de comunitários que o pagam para buzinarem noite adentro, batalhão da polícia sendo atacado. Eu sempre defendi e defendo uma desobediência civil para que a sociedade perceba que estamos numa guerra civil e que o Governo, principalmente do RN esta derrotado…
Caro Honório;
Lembro-me do meu bom tempo de “aprendedor” de história antiga e como aprendi amigo. O deputado federal Xavier Fernandes, primo do meu pai, hóspede da nossa casa em Mossoró, apaixonado também, por Roma, Grécia, Egito, Pérsia e tudo que tem direito me deixava um livro( os Césares, Eu Cláudios o Imperador, A Eneida, Ilíada etc, etc e etc.) para estudar e me garantia que na sua próxima volta, por cada pergunta respondida corretamente sobre o seu conteúdo “DESTÔES” (dez tostões) que era equivalente a mesada semanal que papai me dava todo sábado e, as vezes amigo eu faturava com essa história e história um conto de réis, era uma nota preta. Não me sai da memória e uma das perguntas sobre Diógenes foi a seguinte: O que disse Diógenes quando em uma manhã pegando sol, deitado e totalmente nu à Alexandre que queria conhece-lo. Alexandre, coincidentemente, chegou e parou Bucéfalo (nome do cavalo árabe dele) entre ele e o sol, projetando assim a sombra do cavalo e cavalheiro sobre ele Diógenes? Aí respondi: “Senhor não me tires aquilo que não me podes dar”! Alexandre ainda retrucou o que eu conquistador de praticamente todo mundo conhecido não pode lhe dar? A luz do sol senhor. Aproveitando Diógenes lembro que ele andou a vida toda de lamparina acesa na mão para ver se enxergada um HOMEM e pelo visto, mesmo usando as modernas tecnologias de iluminação atuais ainda estaria procurando. Aproveito e lembro uma frase muito usada pelo nosso amigo Canindé Queiroz: Nilson não sonhe muito essa coisa, pois a nossa elite é perversa e não tem interesse que as coisa aconteçam, falo da elite política e social.
Nilson
Ah! Primo, não sei se já lhe disse, os restos mortais e descendentes vivos do “facínora” (ou nome bonito) Décio Holanda estão na cidade de Araguari MG. Uma de suas filhas, Leonor era solteirona, se esta viva, deverá ter hoje 74 anos. De Pedra de Abelhas para Imperatriz MA, de Imperatriz para São Luiz MA, de São Luiz em um vapor para Vitória ES e de Vitória para Araguari. Coincidentemente, os Gurgéis filhos de Cláudio Gurgel do Amaral também fugiram para Araguari, onde tinham fazendas, em 1699 uns irmãos permaneceram lá, outros foram para Penedo AL e outro José Gurgel do Amaral Filho meu tataravô. Detalhes pessoalmenet, mas dar para adiantar par ir pesquisando a família deixada por Chicuta Gurgel, irmã da minha mãe, é grande. Um abraço amigo e primo velho,
Nilson
Primo, é sempre muito bom obter notícias suas. Ainda mais desse tempo, envolvendo reminiscências de primeira grandeza! Obrigado pelas informações. E saiba que eu não considero Décio um facínora. Não esqueçamos que aqueles foram os tempos dos coronéis. É preciso dar o devido contexto. Gosto sempre de lembrar que o Coronel Adolpho Fernandes, tio-avô de minha mãe, expulsou Joaquim Correia de Pau dos Ferros na bala, em episódio que motivou a ida dos Ayres (Terto Ayres) para Mossoró. Adolpho que era seu parente, tenha a certeza.
Tudo isso é, hoje, história, a história das grandes famílias que ocuparam o Sertão da Paraíba e Rn: Fernandes, Maia, Saldanha, Gurgel, e assim por diante.
Um grande abraço do seu amigo e primo Honório de Medeiros.
Meu dileto amigo e cordial colega Honório como sempre nos presenteando com suas luminescentes digressões filosóficas. Ô amigo, nunca permitas o assédio do jejum intelectual e filosófico. Abração.
O dileto amigo e cordial colega HONÓRIO sempre nos presenteando com suas luminescentes digressões filosóficas. Ô amigo, nunca permitas assédio de jejum intelectivo e cognitivo. Abração.
Ressalvo, apenas, que muito embora defendendo a contextualizaçao nescessária ao entendimento do fato histórico, isso não significa que eu aceite, como sendo fruto da época, o assassinato do Coronel Chico Pinto, em Apodi, e Paschoal Ayres, em Pau dos Ferros.
Minha Nossa! Como esse autor é resiliente!!!
Estava ainda até bem, mas citou J. L Borges.