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domingo - 05/11/2023 - 11:38h

A solidão devora

Por Odemirton Filho

Imagem ilustrativa da Freepik

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 Percebia-se o olhar distante. O senhor idoso, talvez com mais de oitenta anos de idade, por vezes abria um largo sorriso. Sentado em uma cadeira, após tomar o seu lanche vespertino, estava sozinho, embora na sala da casa que abrigava idosos estivessem várias pessoas.

No que estava pensando? Quem sabe na sua vida de outrora. Vinha à sua memória lembranças do passado, da infância, de seus pais. Se alguém perguntasse sobre a sua vida, ele, na maioria das vezes, falava sobre os tempos de menino e da juventude.

O velho senhor sempre recebia visita de seus familiares. Alguns colegas da casa, porém, foram esquecidos ali. Ninguém os visitava. Viviam assistidos pelos funcionários que trabalhavam no local. Eram a família daquelas pessoas. Por motivos diversos, que não nos cabe julgar, os familiares os abrigaram naquele local.

Aquele senhor, nos seus raros momentos de lucidez, lembrava do passado; dos almoços aos domingos; das inúmeras festas de aniversário ao lado de seus filhos e netos. Talvez, lembrasse da juventude, do namoro com sua mulher, há tempos falecida. Lembranças de tempos idos e vividos. Tempos de alegria. Agora, o vazio; a falta de sentir o calor de um abraço.

O que ele mais gostava era se reunir com a família e amigos. Reuniões festivas, regadas a bebida e comida. Vez ou outra viajava com sua mulher. Iam passear por aí, conhecendo outros lugares, outras pessoas. Hoje, vez em quando algum familiar vinha buscá-lo para dar uma volta pela cidade. Todos estavam cuidando da vida, tinha pouco tempo, diziam.

Era bem cuidado, estava cercado por várias pessoas, todavia, vivia calado, em seu mundo. Nada, absolutamente nada, substitui a presença e o amor de quem amamos. Há, é claro, quem goste de viver sozinho, apreciando a própria companhia. Ele, que se privou de várias coisas para dar o melhor aos filhos e netos, estava longe dos seus.

Às vezes, quando todos estavam recolhidos em seus quartos para dormir, ouvia-se o velho senhor cantar, baixinho:

A solidão é fera, a solidão devora, é amiga das horas, prima-irmã do tempo, e faz nossos relógios caminharem lentos, causando um descompasso no meu coração”.

Odemirton Filho é bacharel em Direito e oficial de Justiça

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Categoria(s): Crônica

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