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domingo - 27/03/2016 - 23:10h

A sordidez da racionalidade extrema

Por Sílvia Marques

Racionalidade é uma coisa boa e como acadêmica nem poderia dizer o contrário. Só me incomoda tentar resolver problemas de ordem sentimental e subjetiva com a objetividade com que se contrata uma secretária. Tudo bem, entendo. Gente emotiva demais se ferra sempre. É ingênua. Sem couraças.

Entra de peito aberto, sem medir e pesar as consequências. Se deixa arrastar pelas emoções até ser nocauteada e aniquilada por elas. Mas como entrar em um romance como quem elabora uma planilha no Excel?

Como renunciar a liberdade sem um pouco de ingenuidade, sem um pouco de pureza de alma? Como colocar o outro em primeiro lugar sem uma dose cavalar de generosidade que os extremamente racionais não têm? Como escolher as renúncias que o amor verdadeiro exige sem ser um pouco tolo, um pouco louco?

Porque se a gente for botar na ponta do lápis ou na planilha do Excel, ficar sozinho é mais simples, prático, indolor e vantajoso. Sair com os amigos , fazer sexo com quem se deseja sem dar satisfação a ninguém.

Chegar em casa às duas da madrugada e poder vomitar toda a vodca que caiu mal sem constrangimento, acendendo luzes e batendo portas. Poder se alimentar de miojo todas as noites e ocupar a cama inteira na hora de dormir.

Ensopar o banheiro e não ter ninguém para reclamar. Não sentir ciúmes. Não se sentir constantemente à beira de um abismo. Não se sentir responsável por ninguém. Ir e vir quando bem entender pois não há ninguém nem no ponto de chegada nem no de saída.

Sair pelo mundo como um mochileiro, pegando carona, sem pressa, sem culpas ou dívidas. Sem direitos nem deveres.

Sim, o amor é uma grande porcaria se for tratado como um gasto a mais na folha de pagamento da empresa da vida. Funcionário complicado, que criará problemas. Que mais cedo ou mais tarde, pedirá demissão.

Acredito na natureza das coisas. Um vidro quando cai e se quebra, se reverte em um monte de cacos. O cristal se quebra em poucas partes. Embora ame Sartre e o existencialismo, acredito na essência das coisas. Algumas coisas foram feitas para quebrar . Outras para partir. Outras se estilhaçam e outras nos estilhaçam.

Não, não entendo o amor como um negócio. Entendo o amor como uma escolha afetiva. Não entendo o amor como uma lista de vantagens e desvantagens que deve ser calculada. Entendo o amor como a vontade sincera e profunda de construir uma vida em comum, apesar das dificuldades e dos problemas.

Nenhum problema é maior do que a falta de vontade de fazer dar certo. Problemas externos existem sim, obviamente. Mas, na maioria dos casos servem como desculpas, como pretextos para o medo de uma real entrega, de uma verdadeira adesão ao nós.

Amar é um ato de coragem, de desprendimento. E viver com coragem é viver com o coração. Não, nem a coragem nem o amor cabem numa planilha ou em nenhum outro cálculo.

Sílvia Marques é professora universitária, doutora em Comunicação e Semiótica

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Categoria(s): Blog

Comentários

  1. Inácio Augusto de Almeida diz:

    O AMOR QUASE SEMPRE PREJUDICA A VIDA DAS PESSOAS.
    A FALTA DO AMOR PREJUDICA MUITO MAIS.
    Inácio Augusto de Almeida
    ////
    OS RECURSOS SAL GROSSO SERÃO JULGADOS EM MARÇO?
    DEFENDA SEU DINHEIRO. NÃO VOTE EM CORRUPTO!

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