Por Inácio Augusto de Almeida
Dizer o quê? Que só nos resta rezar pela salvação das nossas almas?
Ou, quem sabe, conscientemente, perder a razão?
Meio paradoxal, mas talvez a única saÃda inteligente que nos é permitida.
Hemingway e Nava fizeram outra opção. Faltou-lhes a paciência de Jó.Dotados que eram de uma aguçada percepção, pressentiam, anteviam, sem serem pitonisas, baseando-se apenas em análises lógicas, em deduções, para eles simples, o que fatalmente sucederia no amanhã. E, consequentemente, sofriam mais, sofriam duas vezes.
O saber, antecipadamente, sem nada poder fazer para evitar o mal a caminho, gerava nos seus espÃritos uma sensação de impotência. O assistir à tragédia, passivamente, enchia as suas almas de uma angústia aniquiladora.
Nada é mais destruidor do que a sensação de impotência.
Quando não se tem vocação para o cinismo, caso em que o compartilhamento social se torna difÃcil sob todos os aspectos, a vida passa a se assemelhar a um exercÃcio de sobrevivência.
O sentir-se parte de uma massa sem conseguir a ela nivelar-se, sem idiotizar-se e passar a acreditar em tudo, é algo terrificante.
Mas, afora concluir que Nava e Hemingway estavam certos, dizer o quê?
Dizer que Deus resolveu entrar no gozo de uma longa e merecidas férias?
Ou que Ele, cansado de tanta sodomorrice, resolveu tal qual Pilatos, lavar as mãos?
Aonde encontrar a chance derradeira de se fugir à tragédia maior?
Aonde encontrar-se consigo mesmo e ter o direito de ser eu mesmo?
Tornar-se imbecil?
Então, dizer o quê? Que só nos resta rezar pela salvação das nossas almas?
Inácio Augusto de Almeida é escritor e jornalista
“Nada é mais destruidor do que a sensação de impotência”. Diante da realidade polÃtica atual, recheada de
desmandos e corrupção, parece-me, sim, uma luta inglória, meu caro.
Abraços.
Excelente, Sr Inácio.