Falecido nesta segunda-feira (27) em Mossoró – veja AQUI, AQUI, AQUI -, o padre Sátiro Cavalcanti Dantas nasceu na Comunidade de Poço de Pedra, município de Pau dos Ferros (RN), no 22 de janeiro, 1930. Filho de seu João Fernandes Dantas e de Dona Erondina Cavalcanti Dantas.
No dia 9 de fevereiro de 1943, após seguir viagem de trem do Oeste, ele desembarcou na cidade de Mossoró, junto com a mãe e os cinco irmãos; e naquele mesmo dia, o jovem Sátiro ingressou no Seminário de Santa Teresinha, para continuar a formação de seus estudos, realizando o 1º grau menor. O reitor naquele tempo era padre Huberto Bruening, e o orientador espiritual era padre Miguel Nunes, e em seguida foi padre Gentil Diniz Barreto. Estes foram muito importantes para a formação religiosa do seminarista Sátiro Cavalcante Dantas, e naquele seminário ele concluiu o curso ginasial e científico.
Estava pronto para avançar a sua caminhada. Foi estudar no Seminário em Fortaleza, logo após em Olinda (PE), e mais adiante cursou Filosofia, no Seminário Central Nossa Senhora da Conceição, em São Leopoldo (RS), de 1949 até 1951. Cursou Teologia Dogmática, realizado na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, no período de 1951 a 1954; cursou Licenciatura Plena, realizada na Universidade Católica de Pernambuco, em 1970; cursou Ciências Jurídicas, realizado na Fundação Padre Ibiapina, em Sousa (PB), no período de 1974 a 1977, e ainda se especializou para Docentes do Ensino Superior, área de Sociologia.
Sátiro Cavalcanti progrediu sua formação intelectual, na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, cursando Teologia Dogmática, até o ano de 1954. Em Roma, ele recebeu a tonsura no dia 26 de outubro de 1952, diaconato em 31 de outubro de 1954, ordenado sacerdote em 8 de dezembro de 1954, por ocasião dos 100 anos do Dogma da Imaculada Conceição, pelo arcebispo de Puebla, México, que reuniu nesta celebração todos os ordenados da América Latina.
O diácono Sátiro ainda permaneceu mais um ano em Roma, para concluir os estudos de Teologia, ele foi ordenado um ano anterior por autorização do Santo Padre, Papa Pio XII. Retornou ao Brasil em 1955, voltando à cidade de Mossoró em 28 de novembro daquele mesmo ano. Estava pronto para cumprir a sua missão divina e sagrada, como sacerdote de Deus e educador por natureza.
Primeira Missa
Foi na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, em Pau dos Ferros, berço de sua família e de sua vocação religiosa, que o padre Sátiro Cavalcanti Dantas celebrou a primeira missa. Dia 8 de dezembro de 1955. Foi um momento de grande emoção. Em seguida, ele foi nomeado cooperador da Paróquia da cidade de Areia Branca (RN), também Nossa Senhora da Conceição, viajando nos finais de semana para esse município auxiliando o pároco Cônego Ismar Fernandes.
Em 1956, o padre Sátiro recebia a primeira grande missão de educador, ao ser nomeado secretário geral do Colégio Diocesano Santa Luzia de Mossoró, onde também foi professor das disciplinas: História Geral e Moral e Cívica, no período de 1956 a 1973. Sátiro ainda lecionou na Escola Normal de Mossoró, ingressando naquele estabelecimento, em 1o de março de 1956.
O grande momento, marcante em sua vida, aconteceu no dia 1° de janeiro de 1961, quando foi nomeado diretor do Colégio Diocesano Santa Luzia, pelo então bispo Dom Gentil Diniz Barreto, onde permaneceu até o dia 9 de junho de 2016, sendo substituído, a seu pedido, pelo padre Charles Lamartine.
Padre Sátiro ampliou seus estudos e conhecimentos com curso Licenciatura Plena, na Universidade Católica de Pernambuco, em 1970; Ciências Jurídicas, Na Fundação Padre Ibiapina, na cidade de Sousa no período de 1974 a 1977; Técnico de Ensino – Didática Superior, pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), em 1969; Curso de Administração Escolar, em 1970, em Natal; e formou-se em Direito pela Universidade Federal da Paraíba.
Ele também se especializou na área de Sociologia, curso de pós-graduação, promovido pelo MEC, DAU, Capes, FURRN, em 1978, além de participar de cursos de aperfeiçoamento, de extensão universitária.
Do Colégio Diocesano à estadualização da Uern
A incansável luta pela estadualização da Universidade Regional do Rio Grande do Norte (URRN), hoje Universidade do Estado do RN (UERN), marca a história do sacerdote em defesa do ensino público para todos e consolida a marca de “padre educador”. Foi ele quem conduziu a luta dos mossoroenses, à frente de um grupo de notáveis, e que levou o Governo do Estado a transformar a URRN na primeira – e única – universidade pública estadual do RN.
Padre Sátiro ocupava o cargo de reitor pro-tempore da URRN, entre agosto de 1985 e julho de 1987, quando a estadualização foi alcançada, fato ocorrido em 1986, na curta gestão do governador Radir Pereira de Araújo. A resistência foi vencida pela posição destemida do padre Sátiro, na medida em que se a estadualização não fosse aprovada naquele momento, muito provavelmente a URRN deixaria de existir pela enorme dificuldade financeira que enfrentava.
A sua missão de educador foi exercida desde sempre, como professor do Ginásio Sagrado Coração de Maria (Colégio das Irmãs); diretor fundador da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Mossoró (1967); professor de Direito da Uern; no exercício do magistério por 43 anos.
Foi membro do Grupo Fundador da Universidade Regional do Rio Grande do Norte; membro do Conselho Universitário da FURRN. Foi o padre educador que fundou e dirigiu o Ginásio Centenário de Mossoró (hoje Escola Estadual Centenário), a Escola Treze de Junho, fundada em 13 de junho de 1974, e a Universidade Infantil de Mossoró.
Ele foi professor de Sociologia da Faculdade de Economia, no período de 1966 a 1973; professor de Filosofia da Educação do Colégio Normal do Centro Educacional Jerônimo Rosado, entre os anos de 1956 e 1974; professor de Sociologia do Instituto de Ciências Humanas, entre 1967 e 1981; professor de Sociologia da Faculdade de Educação – URRN, entre 1966 e 1983; presidente da Escola Ambulatório Cardeal Câmara, a partir de 1° de março de 1966; coordenador do seminário sobre “Agressão à Vida Humana”, promovido pela Campanha da Fraternidade de 1974; professor de História do 2° Grau do Colégio Diocesano Santa Luzia, entre 1975 e 1976; presidente da Comissão de Justiça dos JERNs 11° Nure, em 1979. Lecionou a disciplina Moral e Cívica do 2° grau do Colégio Diocesano Santa Luzia, em 1985.
O padre fundou e presidiu a Fundação Sócio-Educativa do Rio Grande do Norte (FUNSERN); foi presidente do Conselho Estadual de Educação do Rio Grande do Norte (1991-1993); Presidente da Associação dos Colégios Diocesanos do Nordeste (ACODINE) – 2000/2001; dirigiu o Instituto de Ciências Humanas, entre maio a julho de 1974; é membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte; membro da Academia de Letras de Mossoró, sendo o primeiro ocupante da cadeira 11, que tem como patrono Luís Ferreira Cunha da Mota.
Uma história de amor com o Diocesano
Em 8 de junho de 2016, o padre Sátiro Cavalcanti Dantas anunciou a sua saída da direção geral do Colégio Diocesano Santa Luzia (CDSL) de Mossoró, depois de mais de cinco décadas à frente do tradicional “Colégio dos Padres”. Tomado pela emoção, Sátiro pediu ao bispo Dom Mariano Manzana que aceitasse a sua decisão e que nomeasse o padre Charles Lamartine para o cargo.
Por 55 anos, padre Sátiro dedicou a vida ao Diocesano. Por suas mãos, o “Colégio dos Padres” cresceu e se desenvolveu e gerações inteiras foram educadas sob o seu olhar.
Mosteiro de Santa Clara
Pela mãos edificantes do padre Sátiro Cavalcanti Dantas, a pequena Pastoral de Santa Clara, no bairro Dom Hélder Câmara (zona leste de Mossoró), se transformou em um grande santuário. Foi lá que o sacerdote realizou um de seus maiores feitos em relação ao trabalho religioso: a construção do Mosteiro de Santa Clara.
O mosteiro foi idealizado por ele, que contou com doações de seus paroquianos para construção, como também da ajuda das benfeitoras chamadas de “Filhas de Santa Clara” e de vários segmentos da sociedade, além do Governo do RN e da Prefeitura de Mossoró. A obra ficou pronta em 1998.
A inauguração ocorreu em 11 de agosto de 1999, com a santa missa celebrada pelo bispo diocesano de Mossoró Dom José Freire de Oliveira Neto, com participação de Dom Jaime Vieira Rocha (então bispo de Caicó) e ainda de padres, religiosos da região e das irmãs externas de Caicó. No dia 24 de outubro de 2010, foi promulgado o decreto da ereção canônica do mosteiro, durante a celebração eucarística presidida pelo nosso bispo diocesano Dom Mariano Manzana e concelebrada pelos padres Sátiro, Guimarães e Augusto. O documento da Santa Sé tem data de 17 de julho de 2010 (providencialmente este dia, é tido como a data do nascimento de nossa Mãe Santa Clara).
Aos 28 de janeiro de 2011, realizou-se o primeiro Capítulo Eletivo, elegendo como primeira abadessa a madre Maria Auxiliadora do Pai Eterno, que ainda continua no governo do mosteiro, sendo reeleita com postulação em 2017 para mais um triênio.
FM Santa Clara
A primeira emissora de rádio educativa de Mossoró foi conquistada pela visão de futuro do padre Sátiro Cavalcanti Dantas. Certa vez, ele disse que via a comunicação social como ferramenta responsável por transmitir conhecimento e desencadear desenvolvimento. Pouco tempo depois, a Fundação Sócio-Educativa do Rio Grande do Norte (FUSERN), fundada e presidida por ele, colocava no ar a FM Educativa Santa Clara (FM 105,1).
Colocar no ar a primeira emissora FM de Mossoró, com perfil educativo, foi uma iniciativa audaciosa, mas que estava alicerçada por um projeto bem elaborado pelo padre educador.
A 105 FM, como é mais conhecida dos ouvintes, foi inaugurada em 18 de maio de 1988. Ela foi a primeira emissora a operar em Frequência Modulada (FM) em Mossoró. Além de cobrir a capital do Oeste, a FM educativa alcança os municípios de Areia Branca, Tibau, Grossos, Serra do Mel, Governador, Upanema, Felipe Guerra, Apodi, Baraúna; entre outros.
Um sábio
Padre Sátiro Cavalcanti Dantas, “homem das letras”, tem diversas obras publicadas, o que lhe rendeu a cadeira 11 da Academia Mossoroense de Letras (AMOL), que tem como patrono o monsenhor Luiz Ferreira Cunha da Mota. Ele também é membro do Instituto Histórico do Oeste Potiguar (ICOP) e do Conselho Estadual de Educação.
Publicou as seguintes obras e artigos
– Contribuição de Leão XIII à Questão Social, 1966;
– Evasão Escolar – Coleção Mossoroense N° 159;
– Educação – Crônica – pela Coleção Mossoroense N° 167;
– O Fenômeno das Secas no Nordeste – Coleção Mossoroense N° 210;
– Evolução Histórica dos Pensamentos Sociais da Antiguidade até Augusto – Coleção Mossoroense N° 216;
– O Perfil Psico-Social do Educador, publicado pelo Jornal O Mossoroense;
– Os Jesuítas no Brasil, publicado pelo “O Seminário”, Revista dos Seminaristas do Brasil, São Leopoldo, RS;
– De Collectiva Hominum Responsabilitate – trabalho apresentado para obtenção de Licenciatura na Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma; Homenagem Póstuma ao Acadêmico Raimundo Nonato Nunes, 1990;
– Os Bastidores de uma Luta, 1991; Revista do Conselho Estadual de Educação – N° 10, dezembro de 1991 e além de outros.
Sátiro na Igreja Católica
– Cooperador da Paróquia Areia Branca;
– Capelão Eclesiástico da Juventude Estudantil Católica – JEC;
– Membro do Conselho Presbiterial da Diocese de Mossoró
– Vice-presidente da Fundação Santa Luzia 1985-1989
– Vigário cooperador da Paróquia do Alto São Manoel
– Vigário substituto no município de Dix-Sept Rosado
– Assistente Espiritual Conferência Vicentina
– Consultor do Conselho Administrativo da Diocese, da Fundação Diocesana Santa Luzia,
– Defensor do Vínculo na Câmara Eclesiástica
– Assistente espiritual e fundador da Congregação
das Filhas de Santa Clara;
– Capelão da Igreja de São Vicente de Paula,
desde 30 de dezembro de 1956;
– Pároco da Paróquia de São Manoel, a partir
de 22 de março de 1985.
– Diretor emérito do Colégio Diocesano Santa Luzia
– Reitor do Seminário de Santa Clara
*Escrito por Valéria Bulcão com informações do Jornal De Fato.
Nota do BCS – Vale lembrar a criação da Escola 13 de Junho e o Ginásio Centenário, obras voltadas para a educação dos mais pobres, famílias que não podiam pagar o ensino privado.
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Sítio Poço de Pedras que desde 1962 é do município de Riacho de Santana/RN.
Só pra esclarecer..
Grato e abraço.
Parabéns Carlos Santos pelo belíssimo remonte histórico da saga desse peregrino do amor, da educação, e porque não dizer desse inquieto social, sempre pensando no melhor para a coletividade, vai com Deus grande Padre Sátiro Dantas.