Por Odemirton Filho
– Vamos, Seu Machado, que é isso? Coragem! – dissera o Barão de Rio Branco, alguns dias antes. Não adiantou.
Na madrugada insone do dia 29 de setembro de 1908 faleceu o bruxo do Cosme Velho, após uma dolorida enfermidade. Deixou-nos o nosso maior escritor, legando-nos uma obra incomensurável, composta por uma vasta produção nos mais variados gêneros literários, romances, mais de seiscentos contos, além de inúmeras crônicas e peças de teatro.
Antes de falecer, segundo alguns, Joaquim Maria Machado de Assis, no seu leito de morte, sentenciou: “a vida é boa”. Não sei se é verdade; e se for, se ele proferiu a frase com sua contumaz ironia. O que sei é que o autor de Ressureição (1872), A mão e a Luva (1874), Helena (1876), Iaiá Garcia (1878), Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), Casa Velha (1885), Quincas Borbas (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908) é imortal.
Eu li, reli e releio Machado. Cabe anotar, que as fases de sua obra se dividem em duas, romantismo e realismo.
O fato é que fiquei a refletir sobre a referida frase. O que estamos fazendo de nossas vidas para torná-la boa? Vivemos o nosso dia a dia numa correria danada. Gastamos nossa saúde na juventude para tentar recuperá-la na velhice. Será que estamos a apreciar o singelo, como a beleza do mar e o agradável momento junto a familiares queridos e amigos? Ou estamos vivendo somente para trabalhar e pagar contas?
“A vida é um direito, a mocidade outro; perturbá-los é quase um crime. A vida é uma lousa, em que o destino, para escrever um novo caso, precisa apagar o caso escrito”, disse Machado. Decerto, precisamos construir momentos felizes que façam a vida valer a pena.
Hoje, quando eu vejo algumas pessoas idosas, lembro como eram na mocidade, agora, mostram-se frágeis, vulneráveis, precisando da ajuda de terceiros para realizar as tarefas mais simples. Será que viveram ou somente passaram pela vida? Cada um de nós tem a resposta.
“A vida é cheia de obrigações que a gente cumpre, por mais vontade que tenha de as infringir deslavadamente”. Não esqueçamos que existem milhões de pessoas que sofrem mundo afora pelos mais variados motivos, como a fome, a miséria, as doenças e as guerras. Assim, creio eu, depende da realidade vivida e do subjetivismo de cada um afirmar ou não que a vida é boa.
Bom, mas voltemos a Machado de Assis. O seu corpo foi velado na Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual foi um dos fundadores, tendo como patrono o seu amigo José de Alencar. No discurso ao pé do seu ataúde, Rui Barbosa afirmou: “Era sua alma um vaso de amenidade e melancolia”.
O bruxo do Cosme Velho continua vivo; eu sempre o encontro na magia dos seus textos.
Odemirton Filho é colaborador do Blog Carlos Santos
Por oportuno, “Um homem de papel”, do nosso imortal João Almino de Souza Filho, é uma homenagem ao “Bruxo do Cosme Velho” (Lembrei de João pq me perguntaram algumas vezes sobre a posse dele na ABL: “Vc viu? Deu no Jornal Nacional q tem outro mossoroense na Academia de Letras”. Ah, descobriram o q aconteceu em 2017!!!). Tento imaginar o quão distópica será a velhice desses meninos e meninas de hoje quando os Elon’s da Internet colocarem todas as memórias deles num anel de Saturno. Eles ñ olham para nada a ñ ser com os “olhos” da câmera do celular. “Vivam teu o momento, infiteto”, recomenda o inseto q comeu as carnes de Brás Cubas. E espera por nós. Bela resenha, Odemirton. Bonjour.
Obrigado pelo comentário, meu caro Aluísio. E pela lembrança do nosso conterrâneo imortal, João Almino. Preciso conhecer as obras dele. O farei, sem dúvidas.
Um forte abraço.
Comecei a ler as Memórias Póstumas de Brás Cubas! Estou indo lentamente pois tenho uma agenda meio pesada; não entendo como me parece que aumentaram as minhas responsabilidades! Ou estou mais lenta; apreciando mais os textos. Já fui mais acelerada; continuo correndo. Já passei por muitas adversidades mas acho a vida boa: tento tirar o melhor de cada situação que vivo; se me dei mal em algum momento, restou-me o aprendizado. Como sempre, seus textos são agradáveis de ler; tornam a alma mais leve.
Minha cara Bernadete Lino, como são bons os seus comentários, repletos de reflexão, sempre enriquecendo os nossos textos. Grato por sua leitura e interação neste espaço.
Um forte abraço, e uma semana de luz para a senhora e sua família.
Que beleza de crônica, meu prezado Odemirton Filho. Alinhavada com sensibilidade e mestria. Uma breve aula e linda homenagem ao grande Machado de Assis. Parabéns! Forte abraço.
Meu querido Marcos Ferreira, muito obrigado pelo comentário. Vindo de uma pessoa do seu quilate literário, enche-me de felicidade.
Um grande abraço, querido amigo.
Que eu não seja amanhã o que muitos não querem ser hoje.
Obrigado pelo comentário, Marcos Pinto. Sempre é muito boa a sua participação no “Nosso Blog”.
Um abraço.
A frase lapidar acima é da minha lavra. Que amanhã não surja um usurpador. Amém.
Parabéns, Odemirton.
Teu texto é um convite à leitura recorrente de Machado de Assis.
Tens razão em tua exortação, posto que relevamos a leitura sob diversos argumentos, mesmo sabendo do quanto é gratificante.
Qual a desculpa para eu ter lido na infância, no colégio, por obrigação, e, só agora, dezenas de anos depois, voltar a ler por prazer?
Caro Júlio Rosado Filho, valeu pelo comentário. Suas palavras, gentis e certeiras, robustecem o texto.
Um fraternal abraço.