• Cachaça San Valle - Topo - Nilton Baresi
sábado - 04/07/2009 - 11:50h

A Volta ao Apartheid?

Vemos com certo receio algumas idéias equivocadas e propagadas de través por muitos formadores de opinião, e que são erroneamente carregadas de preconceito e discriminação de todos os gêneros, principalmente, o que consideramos de no mínimo politicamente incorreto sobre algumas pontuações de fatos que ocorrem dentro da nossa sociedade.

Há  alguns anos é vendida nas bancas de revista de nosso país uma publicação dirigida exclusivamente aos negros ou como é mais comumente chamado de Afro-descendentes, além disso, vemos todos os dias pessoas saírem nas ruas de cabeças erguidas vestidas com camisas emblemáticas e/ou escritas “100% Negro”, “Negro com todo orgulho”, “Sou Negro sem preconceito”, entre outras.

Essas colocações que a priori são tipificadas como forma de manifestação de minorias excluídas podem ser um tanto perigoso caso seja transformada em provocações de cunho racial.

O ano passado estava no ar em uma emissora nacional de Televisão um programa onde certo cantor/apresentador e pseudo-boxeador nas horas vagas fazia clara defesa da separação racial entre brancos e negros, era o programa dos ‘manos da periferia’ como ele (o apresentador) mesmo fazia questão de se referir. O programa era tão separatista (para não falarmos discriminatório) que chegou a organizar um concurso para a escolha da ‘Miss Brasil Mulher Negra’. Um absurdo! 

Talvez estejamos sendo sensacionalistas e exagerados como muitos poderão pensar, mas essas três situações acima referidas: A revista, as camisas e o tal programa faz-nos sentir, fortemente, o cheiro de Apartheid. 

Não somos nem um pouco racistas, mas pensamos de forma bastante racional, contudo levamos a questão para quem se sentir capaz de responder.

O que fariam esses mesmos defensores da causa, orgulhosos de sua afro-descendência quando amanhã ou depois alguém decidir sair nas ruas com uma camisa que mostre através de uma frase o seu orgulho de ser branco? Ou mesmo criem um concurso que tenha por finalidade a escolha da ‘Miss Brasil Mulher Branca’ ou até mesmo numa atitude mais extremista criarem o dia mundial da Consciência Branca?  

O que fariam esses defensores da causa Negra, ou muitos outros que como nós defendemos que Raça Humana é o maior interesse, e o que realmente vale é a igualdade entre as diversas etnias? Não receberíamos como estranheza tais atitudes?

A verdade é que o sujeito que ouse sair na rua com uma camisa contida a frase 100% Branco, não dobre a primeira esquina sem ser preso acusado de racismo, sendo que este é um crime inafiançável, “é xilindró na certa”, “vai ver o sol nascer quadrado”. Dois pesos e duas medidas.

Não compreendemos como certas atitudes, claramente, carregadas de preconceito são aceitas enquanto outras de mesmo caráter são, duramente, combatidas.

Este é o mesmo caso de discriminação devido a uma situação sexual ou religiosa.

Em tempos de liberação sexual, passeatas do orgulho gay ou GLBT entre outras designações que estão por aí, elas combatem com toda a razão a homofobia, orgulham-se dos direitos mínimos que alcançaram ao longo de sua árdua luta.

Esperamos, sinceramente, que consigam outros direitos como qualquer casal hétero possui perante a justiça, porém, novamente, queremos frisar que algumas tomadas de posição devem ser evitadas pelo mesmo fato que anterior já pontuamos. 

Uma posição que às vezes parece politicamente correta e aceita por todos corre o risco de provocar em alguns que não concordam com ela a vontade de tomar em defesa de seus interesses um posicionamento contrário. Como citamos acima no caso do preconceito racial, a questão do orgulho de ser branco caberia muito oportunamente neste caso envolvendo certa disputa entre homos e héteros.

Que fariam os defensores das causas dos homo-afetivos se agora fosse marcada uma passeata que sairia pelas ruas e avenidas das principais cidades do mundo em nome do orgulho hétero?  

Toda atitude extremista deve ser tratada com muito cuidado e atenção, muitos sofreram ao longo da história devido a atitudes discriminatórias e preconceituosas.

Os negros estão de parabéns por tudo que alcançaram ao longo de décadas, as diversas situações e/ou orientações sexuais devem buscar de forma pacífica a defesa de direito iguais a qualquer outra pessoa, mais que estas formas de lutar por direitos não venham a se tornar uma provocação a quem quer que seja. 

Algumas questões que foram pontuadas aqui se encaixam muito bem no que se refere às querelas de cunho religioso, políticos ou até mesmo social-econômico. Essa aversão ao diferente, ao oposto se traduz ao nosso pensar em uma visão maniqueísta da vida, a eterna luta do bem contra o mal, o outro se opõem ao nosso sempre como o Mal em relação ao Bem.  

Devemos nos policiar a todo instante e percebermos que as diferenças ou diversidades que se compõem o mundo são necessárias para o equilíbrio da vida, e que devemos além de aceitá-las, compreendê-las para convivermos fraternalmente da melhor forma possível, mesmo porque a verdadeira raça em questão é a Raça Humana, e todas as diversas ramificações como negras, brancas, homos, héteros, católicos, protestantes, judeus, latinos, pobres, ricos ou quaisquer outras características são apenas formas de apresentação deste Ser Humano.

E isso é o que realmente importa, e vale a pena ser defendido e lembrado a todo instante. Nada de extremismo! 

Fábio Alves Valentim, graduado em Filosofia e Especializando em Ética e Filosofia Política pela UERN. 

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Categoria(s): Fred Mercury

Comentários

  1. FRANSUELDO VIEIRA DE ARAÚJO - ADVOGADO-OAB/RN.7318 diz:

    Caro Carlos, não poderia deixar de emitir breve comentário sobre o assunto abordado pelo filósofo Fábio Valentim e tempestivamnete postado pelo dígno jornalista Carlos Santos, sobre questões de cunho racial e as diferentes manifestações que atualmente comportam políticamente a briga por direitos e espaços de toda ordem no mundo contemporâneo.

    À meu ver, há por parte da maioria das pessoas (sejam elas de qualquer estamento socio-econômico-cultural) uma grande dificuldade quando da abordagem do tema em foco, quando no mais das vezes fazem uma (imagino inconsciente) verdadeira salada entre o que é cultura, política e raça. Não precisa ser nenhum cientista, filósofo, antropólogo ou qualquer outro profissional especializado para termos plena convicção de que raça é uma construção política e, que de fato, sob o ponto de vista biológico só exIste uma raça, qual seja, a raça HUMANA.

    OU SEJA, INEVITAVELMENTE PRECISAMOS (DENTRO DA DISCUSSAÕ) DESBIOLOGIZAR O TEMA.

    Só que, nas discussões e debates acerca do assunto a grande maioria “prefere” biologizar o debate, esquecendo que o racismo é, como tudo que prepondera nas relações sócio-econômicas, uma construção política, reItero, não apenas uma construção, mas, uma construção política que durante milênios deserve a humanidade e que nessa trajetória do processo civilizatório serviu e muito, para alguns poucos aquinhoarem e concentrarem ganhos e poderes fabulosos de ordem econômica e política.

    Claro que em tese somos todos iguais perante a lei, eu falei em tese, pois no dia-a-dia em que o modus operandi de uma contrução social se aplica em dinâmica própria, inevitavelmente as minorias políticas sofrerão as agruras de uma ordem social e política absolutamente injusta e indiferente à maioria de suas aspirações.

    Comparar o atual ativismo político das minorias como um nova forma de APARTHEID, é no mínimo querer: SIMPLIFICAR AS QUESTÕES RELACIONADAS AO TEMA, DESCONHECER A HISTÓRIA E A ORDEM POLÍTICA, SOCIAL E ECONÔMICA DO ACONTECIDO NA ÁFRICA DO SUL OU INVESTIR NA IGNORÂNCIA OU MÁ FÉ, QUE NO CASO, NÃO ACREDITO SEJA A INTENÇÃO, NEM POR PARTE DO FILÓSOFO E, MUITO MENOS POR PARTE DO MERITÓRIO JORNALISTA.

    Não há atualmente (salvo raras exceções) atitudes extremistas por parte das minorias em busca de, oportunidades, visibilidade e espaços de poder, o que há é uma profunda, arraigada e muitas vezes inconsciente reação daqueles que históricamente, sempre tiveram à sua disposição o que às minorias sempre foram clara, legalmente e (ou) veladamente negados.

    Não devemos confundir desigualdade com diversidade, como infelizmente muitos o fazem. A diversidade não apenas é inerente à condição humana como necessária, já a desigualdade (principalmente a de ordem educacional) é causa originária de grande parte das tensões geradas por uma ordem econômica não apenas injusta, mais ainda, opressora, pois a partir dela temos o amálgama e a construção de uma ordem política concentradora de poder, renda e oportunidades.

    No caso específico do nosso país, debater sobre tais e quais questões é mexer num vespeiro dos mais apimentados, dado que nossa construção social criou uma cultura de omissão que opera de uma forma que poucas nações se permitem observar.

    O nosso processo de colonização é patente quanto a natureza e as peculiaridade com que e, em que se operam as manifestações de cunho racial em nossa história. Mesmo por que, houve patente afirmação prática de que só existe uma raça (a raça humana) especialmente quando os senhores de engenho, os capitães hereditários e os senhores da Corte, do poder político e do capital – sobre a sombra das alcovas deitavam com “as maravilhosas negras”, fazendo e trazendo o amálgama de uma “nova raça” a raça brasileria – Vide DARCI RIBEIRO), só que o arcabouço – social e político e, especialmente o jurídico – continuava e (em parte continua) absolutamente excludente para com as damas de alcova e seus irmão de pele, cor, cultura e etnia).

    A questão da diversidade e das diferenças, devem à meu ver serem objeto de análise dentro de um contexto histórico, para que não caiamos nas velhas armadilhas e chavões de que “mulher gosta de apanhar e de que negro é mais racista do que branco. Quando verbalizamos frases tais e quais, no mais das vezes, esquecemos a história de opressão e submissão a que foram submetidos negros e mulheres, condicionando-os inexoravelmente a uma existencialidade própria de exclusão social e política com a consequente falta de alto estima e todas as fragilidades psico-sociais e emocionais próprias de um contexto histórico.

    O velho KAUL MARX, de há muito, sabiamente nos ensina que o homem é fundamentalmente um produto do meio, e, diante da nossa construção histórica inevitavelmente construimos não só uma sociedade racista, mas, extremamente avessa `a qualquer mudança, qualquer transformação nos apavora e nos deixa fechados em nosso egoismo social e político, permeados em discussões superficiais sobre questões centrais e, que de fato hitóricamente nunca nos dispomos resolver.

    Desculpe caros leitores se me alonguei demasiado e, se não contrui uma boa análise quanto ao debate.

    Sobre o assunto se faz mister duas frases, a primeira do genial filósofo MONTAIGNE.

    “NÃO SOMOS TODOS IGUAIS, SOMOS DIFERENTES, E NAÕ HÁ NA VIDA NENHUMA QUALIDADE TÃO UNIVERSAL COMO A DIFERENÇA”.

    A segunda do não menos genial , o cientista ALBERT EINSTEIN.

    “ÉPOCA TRISTE A NOSSA EM QUE É MAIS DIFICIAL QUEBRAR UM PRECONCEITO DO QUE UM ÁTOMO.”

  2. Fabio Alves Valentim diz:

    Caro Fransueldo, obrigado por ter comentado com o texto, e não se preocupe em ter se alongado em seus comentários, falo como leitor e como escritor, e digo que particularmente quando escrevo eu penso em expressar o que estou sentido em relação ao tema que me escolher para escrever sobre ele, e nada melhor que o debate para saber se estou indo no caminho certo ou me perdir pelas vielas da linguagem. É para isso que escrevemos, uns concordaram outros não. Desculpe se mostrei no texto como preconceituoso ou extremista, mas não foi minha intenção, apenas busco suscitar o debate, que é a partir dele que poderemos mudar o que pensamos está errado. Karl Marx, filosofo alemão, como você mesmo disse, defendia que o homem era fruto do meio, em sua obra Idealismo Alemão. E no seu Manifesto do Partido Comunista, ele diz que até agora a filosofia pensou a humanidade, cabe a partir daqui modifica- lá. Até breve!

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