Por Josivan Barbosa
A Agrícola Famosa, maior produtora e exportadora de melão e melancia do Polo de Agricultura Irrigada RN – CE e, por consequência do país, revelou na semana passada que está pronta para aumentar na atual safra (2022/23) o envio de melão e melancia para a Comunidade Econômica Européia em mais de 10%.
O aumento deve-se a três fatores: melhor produtividade e qualidade do material genético, demanda elevada na Europa pelas condições climáticas (calor) que anteciparam a colheita de melão local deixando o mercado em baixa oferta do produto. A temporada de melão e melancia a partir do Brasil começa no momento em que a safra da Europa termina.
A empresa projeta exportar cerca de 220 mil toneladas até abril de 2023.
A Agrícola Famosa comercializa o melão na Europa através da sua subsidiária Melon & Co. No primeiro ano da Melon & Co. a empresa conseguiu negociar quase 23 mil toneladas nos supermercados britânicos.
A empresa tem aumentado, também, as vendas do melão e melancia no mercado dos EUA, em torno de 8 mil toneladas/ano.
A Agrícola Famosa continua trabalhando com a perspectiva de enviar o melão para a Ásia (China), entretanto, a logística de exportação através do modal de contêineres marítimos têm dificultado a concretização desse importante canal de exportação para o melão.
Exemplo chileno
Os produtores de melão e melancia do Semiárido Brasileiro precisam analisar com bons olhos o exemplo do Chile que criou o Comitê de Uva de Mesa para implantar o Plano Estratégico da Indústria de Uva de Mesa do Chile. Trata-se de um passo importante daquele país no sentido de potencializar a sua competitividade nos mercados internacionais, cujo objetivo pode perfeitamente ser aplicado ao melão e a melancia produzida no Semiárido.
Assim como o Plano do Chile é coordenado pela ASOEX (Associação dos Exportadores de Frutos do Chile), o nosso poderia ser coordenado pelo COEX (Comitê Executivo da Fruticultura).
A iniciativa da criação do Comitê pelos produtores de uva de mesa do Chile foi tomada após análise depurada da possibilidade de perda de competitividade no mercado internacional pela uva chilena.
O plano do Chile tem três pilares: liderar, coordenar, unir e comunicar; melhorar a condição dos frutos e a competitividade.
Inicialmente o Comitê estabeleceu 16 ações, entre as quais destaca-se o desenvolvimento de um programa de estimação da produção ao longo da safra. O plano trabalha com a meta de publicar pelo menos quatro estimativas por safra (início da safra, 21 de outubro, final de novembro e final de dezembro).
A análise acima permite, claramente, concluir que a criação de um comitê dessa natureza pelo setor produtivo regional seria de muita valia para a sustentabilidade econômica do setor produtivo de melão e melancia do Semiárido Brasileiro.
Melancias do Polo RN – CE para a Europa
A exemplo da temporada passada, a melancia continuará com incremento do consumo pelos europeus. Os primeiros carregamentos que chegaram em navio frigorífico convencional apontam para um produto de boa qualidade. Os frutos chegaram no terminal de frutos de Rotterdam Fruit Wharf (RFW), uma estação intermediária que se conecta com o Porto de Roterdã, instalada em Merwehaven. Os importadores europeus transportam a melancia em contêineres reffer e em navios friogírificos tradicionais, que podem atracar diretamente no RFW.
A melancia proveniente do Brasil (Polo de Agricultura Irrigada RN – CE) é exportada em contêineres de 40 pés. A partir dessa temporada a Agrícola Famosa fez uma parceria com a GreenSea que semanalmente transporta em navios frigoríficos especializados a partir de Fortaleza até os Portos de Vigo (Espanha), Dover (Reino Unido) e Roterdã (Holanda).
A vantagem do acordo da Agrícola Famosa com a GreenSea é que o Porto de Fortaleza está conectado diretamente com os Portos Europeus, o que reduz o tempo de transporte com benefício direto na qualidade do fruto que chega para o consumidor europeu.
No Porto de Roterdã, os frutos são recebidos na RFW, onde se realiza inspeção fitossanitária e os trâmites aduaneiros. Em seguida os frutos são transferidos para as câmaras frigoríficas dos importadores de onde é transportado em caminhão frigorífico para diferentes destinos dentro da Europa.
Novos híbridos de mamão
A empresa mexicana de sementes Semillas del Caribe, especializada em sementes de mamão (papaya) desenvolveu diversos híbridos que produzem frutos menores e que representam uma alternativa ao mamão Formosa produzido no Polo de Agricultura Irrigada RN – CE. A empresa mexicana tem revelado que as suas novas variedades de mamão produzem frutos com teor de açúcar (graus Brix) mais elevado do que o Formosa, as plantas são mais produtivas e os frutos são menores, o que melhora a aceitação dos frutos no mercado europeu.
As principais variedades produzidas pela Semillas del Caribe são: Maradol, Passion Red, Siluet, Sweet Senze, Intenzza e Luve.
Estas variedades estão sendo cultivadas em Portugal, Espanha e Marrocos. A empresa trabalha com a variedade Maradol, tradicional do México, em Senegal.
De acordo com a empresa produtora da semente de mamão, a variedade Intenzza é superior ao Formosa produzido atualmente no Brasil e exportada para a Europa e as variedades Siluet, Sweet Senze e Luve são do tipo baby tendo frutos de tamanho pequeno e doces e que estão tendo boa aceitação no mercado europeu.
A empresa assume o compromisso com o produtor de que as variedades de sementes são oriundas de sexagem molecular através da técnica de PCR, o que garante a produção de plantas hermafroditas. Nas variedades híbridas de mamão 50% das sementes são femininas e 50% são hermafroditas.
Tradicionalmente, para o sistema de plantio assegurar uma planta hermafrodita são necessárias quatro plantas, sendo que aos 45 – 60 dias, se determina o sexo da planta, e elimina-se três, o que impacta nos custos em sementes ou em mudas.
Através do uso da técnica usada pela empresa mexicana, o agricultor tem a segurança de adquirir sementes já selecionadas, de maior produtividade (100 – 150 quilos de frutos/planta).
As plantas produzidas pela empresa não podem sair do local de produção (Ilhas Canárias). A empresa só comercializa para a ilha, entretanto, as sementes são vendidas para a Europa e África.
A logística de exportação de frutos complica-se a cada safra
A América do Sul é uma importante região exportadora de frutos para a América do Norte e antes havia muitas opções de exportação pelo modal marítimo, mas, recentemente tem-se reduzido muito as alternativas desse tipo de logística, da qual o Brasil utiliza.
A maioria dos produtos que se exporta a partir da América do Sul faz transbordo na América Central, o que prejudica a qualidade dos frutos que chegam ao mercado americano. Com frequência os contêineres perdem conexão, o que provoca aumento do tempo de transporte e atrasos, impactando diretamente na qualidade do fruto. O transbordo impacta negativamente na cadeia de frio.
Apesar dos transbordos, os custos de transporte do fruto têm se elevado em mais de 100% na maioria das rotas. Isto tem impactado muito para o produtor, pois nos últimos anos tem tido os custos elevados devido aos aumentos de preços de fertilizantes, combustíveis e mão de obra.
Josivan Barbosa é professor e ex-reitor da Ufersa
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