Campanha estadual de 1990 em curso, o ex-prefeito mossoroense Dix-huit Rosado acomoda-se num canto do palanque para descansar, no alto dos seus 78 anos.
Empresta seu apoio à candidatura ao Governo do senador José Agripino Maia (PFL).
Na aglomeração humana que se acotovela no pequeno espaço, seu sobrinho Carlos Alberto Rosado, o “Betinho Rosado” (que viria a se eleger pela primeira vez a deputado federal em 1994), afaga-o com um terno beijo na cabeça.
Com um leve sorriso e movimento de densas sobrancelhas que parecem repuxar seus olhos para cima, Dix-huit constata:
– “Calber” (forma carinhosa de tratar o sobrinho), você é o quinto homem que me beija essa noite!
E completa irônico: “A velhice é uma merda mesmo!”
Carlos Santos é criador e editor do Blog Carlos Santos (BCS) e autor dos livros “Só Rindo – A política do bom humor do palanque aos bastidores” (I e II)
Concordo com o inesquecível Dr Dixhuit Rosado, pois os beijos que nos restam na velhice nos são entregues por interesse ou compaixão.
É uma merda, mesmo! Não por si só. Mas pelo contexto em que ela vai acontecendo: as pessoas começam a discriminar por faixa etária; falar pelos idosos, sem serem solicitados pra isso; cortar-lhes as conversas na metade; deixá-los invisíveis! Todos cheios de boas intenções! De há muito eu observo como as pessoas idosas são colocadas à margem. Meu avô materno uma vez me falou: opinião de menino e de velho, ninguém quer saber! Velho não manda em nada!
Velhice, a pior doença. Mesmo assim, quem não quer morrer velho, que morra novo.