Por José Roberto Torero
Dois tipos de razões me levam a escrever: as razões nobres e as plebéias. As plebéias são as tradicionais: fama, dinheiro e mulheres.
Pensava que, como um escritor, teria um pouco dessas três coisas, mas a fama de um escritor é irrisória perto da de um razoável centroavante. O dinheiro é ridÃculo, se comparado ao que ganha qualquer desafinado cantor de pagode. E, quanto ao gemido das mulheres, qualquer ator que tenha feito uma aparição na Globo é mais solicitado do que eu.
Na verdade, até hoje só uma leitora sorriu-me de um modo mais insinuante: uma senhora chamada Noemi. Muito simpática, mas octogenária.
Há, porém, os motivos nobres.
Como tive muitos professores humanistas, prendeu-se em mim essa idéia hoje tida como ridÃcula de que “devemos lutar por um mundo melhor”, hoje trocada por “devemos maximizar os lucros”.
Acho que escrevendo, posso, de alguma forma, influenciar as pessoas. Posso fazê-las rir dos maus costumes e dos maus personagens, posso fazê-las perceber um vÃcio e exaltar uma atitude, posso falar bem da honestidade e mal de Maluf e Pitta, posso falar bem da coerência e mal da compra de votos pela reeleição, posso falar bem da coragem e mal da aliança com o PFL.
Mas, na verdade, acho que nesse quesito eu também apenas vou conseguir virar a cabeça de Dona Noemi. Enfim, apesar do fracasso de minhas motivações nobres e plebeias, não posso me queixar da sorte.
O trabalho não me deixa suado como um cantor de pagode, não levo pontapés como um centroavante e, ainda por cima, ando pelas ruas despreocupado, sem temer que fãs puxem meus cabelos ou tentem rasgar minhas roupas.
Se bem que, no lançamento do meu último livro, Dona Noemi tenha me dado um beliscão na bunda.
José Roberto Torero – É escritor, roteirista e jornalista
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